Nutrição e atrofia de múltiplos sistemas

A atrofia de múltiplos sistemas (AMS) é uma doença neurodegenerativa rara que afeta diversas partes do sistema nervoso, levando a problemas motores, autonômicos e outros. Esta doença rara é caracterizada pela agregação da proteína α-sinucleína em neurônios e oligodendrócitos.

Os pacientes diagnosticados com a doença experimentam alterações do sistema nervoso autônomo e sintomas como parkinsonismo predominante (rigidez, tremores, lentidão) ou ataxia cerebelar (desequilíbrio, incoordenação motora, caminhar e fala como se o paciente estivesse embrigado).

A nutrição desempenha um papel vital no manejo dos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes com AMS.

Desafios Nutricionais na AMS

1. Disfagia (Dificuldade de Engolir)

- Pacientes com AMS frequentemente têm dificuldade para engolir, o que pode levar à desnutrição, desidratação e risco de aspiração (entrada de alimentos ou líquidos nos pulmões).

2. Constipação

- A constipação é comum devido à disfunção autonômica que afeta a motilidade intestinal.

3. Perda de Peso e Massa Muscular

- A progressão da AMS pode levar à perda de peso e diminuição da massa muscular, exacerbando a fraqueza e outros sintomas.

4. Problemas Autonômicos

- Podem incluir hipotensão ortostática (queda na pressão arterial ao ficar em pé) e dificuldade em regular a temperatura corporal, ambos impactando as necessidades nutricionais.

Recomendações Nutricionais

1. Alimentação e Hidratação Seguras

- Textura dos Alimentos: Modificar a textura dos alimentos para facilitar a deglutição (alimentos pastosos ou líquidos espessados).

- Hidratação: Garantir a ingestão adequada de líquidos espessados, se necessário, para evitar desidratação e aspiração.

2. Gestão da Constipação

- Fibras: Aumentar a ingestão de fibras (frutas, vegetais, grãos integrais) para melhorar a motilidade intestinal.

- Hidratação: Manter uma boa hidratação para facilitar o trânsito intestinal.

- Atividade Física: Incorporar exercícios leves, se possível, para ajudar na função intestinal.

3. Manutenção do Peso e Massa Muscular

- Calorias: Garantir a ingestão calórica adequada para evitar perda de peso indesejada.

- Proteínas: Aumentar a ingestão de proteínas para preservar a massa muscular (carnes magras, peixes, ovos, leguminosas).

- Suplementos Nutricionais: Considerar o uso de suplementos nutricionais (bebidas protéicas, shakes) para complementar a dieta.

4. Gestão de Problemas Autonômicos

- Hipotensão Ortostática: Pequenas refeições frequentes em vez de grandes refeições para evitar quedas na pressão arterial. Ingestão adequada de sal e fluidos (sob supervisão médica).

- Temperatura Corporal: Adaptar a dieta para incluir alimentos que ajudem a regular a temperatura corporal e prevenir desidratação.

5. Suporte Nutricional e Terapia

- Nutricionista: Trabalhar com um nutricionista especializado para criar um plano alimentar individualizado.

- Fonoaudiólogo: Consultar um fonoaudiólogo para estratégias de deglutição segura e técnicas de alimentação.

Suplementos e Vitaminas

  • Multivitamínicos: Podem ser recomendados para garantir a ingestão adequada de micronutrientes, especialmente se a dieta for restrita.

  • Ômega-3: Ácidos graxos ômega-3 podem ajudar a combater a inflamação e apoiar a saúde cerebral.

  • Vitaminas B e D: Podem ser necessárias suplementações de vitamina D e complexo B, conforme orientação médica.

  • Polifenóis: modulam a formação de oligômeros de α-sinucleína, reduzindo sua neurotoxicidade. Em estudo publicado em 2019, 47 pacientes receberam o EGCG e 45 receberam um placebo (manitol). Os participantes do grupo controle receberam uma cápsula de gelatina (contendo 400 mg de epigalocatequina galato ou manitol) por via oral uma vez ao dia durante 4 semanas, depois uma cápsula duas vezes ao dia durante 4 semanas (800 mg) e, em seguida, uma cápsula três vezes (1.200 mg) ao dia durante 40 semanas. Após 48 semanas, todos os pacientes foram submetidos a um período de wash-out de 4 semanas. Foi observada menor perda de volume cerebral, mas os benefícios adicionais dependem das perdas anteriores (Levin, 2019).

Lembre que cada paciente com AMS é único, e as necessidades nutricionais podem variar amplamente. Um plano nutricional personalizado, que leve em consideração os desafios específicos de cada paciente, é essencial.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/