Dieta e suplementação pós derrame

Após um acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame, os pacientes estão propensos a problemas de memória, má nutrição, déficits motores e depressão. O dano cerebral gerado pelo derrame aumenta a neuroinflamação, o estresse oxidativo. Deficiências de nutrientes podem agravar a injúria (Cichon et al., 2021).

Assim, corrigir a alimentação é essencial. Muitos nutrientes são necessários à circulação sanguínea, reparo celular e à neurotransmissão. Se algo faltar, o cérebro vai sofrer mais para se recuperar. Estes são alguns dos nutrientes necessários para a síntese de neurotransmissores e para a comunicação entre os neurônios.

1. Aminoácidos: advindos das proteínas, são essenciais ao reparo celular, recuperação muscular e neurotransmissão.

- Triptofano: Precursor da serotonina, um neurotransmissor que regula o humor, o sono e o apetite.
- Tirosina: Precursor de dopamina, norepinefrina e epinefrina, neurotransmissores importantes para o controle do humor, motivação, foco e resposta ao estresse.
- Glutamina: Precursor do ácido glutâmico, o principal neurotransmissor excitatório no cérebro.
- Glicina: Atua como neurotransmissor inibitório, principalmente na medula espinhal e no cérebro.

2. Minerais:

- Magnésio: Essencial para a função normal do sistema nervoso e atua como modulador de neurotransmissores, influenciando a liberação de glutamato e a atividade de GABA.
- Zinco: Contribui para a regulação da atividade neuronal, especialmente no que diz respeito ao funcionamento do sistema GABAérgico.
- Potássio: ajuda a controlar a pressão sanguínea e a reduzir o risco de novo derrame.

- Cálcio: Importante na liberação de neurotransmissores nas sinapses e na sinalização celular.

3. Ácidos Graxos, especialmente DHA, que influencia a eficácia da sinalização entre os neurônios, reduz a neuroinflamação e o risco de formação de coágulos e novos derrames.

4. Vitaminas:

- B5 (ácido pantotênico): síntese de coenzima A, que é importante para a produção de acetilcolina e metabolismo energético.
- B6 (Piridoxina): Essencial para a síntese de vários neurotransmissores, incluindo dopamina, serotonina e GABA (ácido gama-aminobutírico, neurotransmissor inibitório).
- B9 (Ácido fólico): Fundamental para a produção de neurotransmissores e o funcionamento adequado do sistema nervoso. A deficiência pode afetar a síntese de serotonina e dopamina. Junto com B6 e B12 reduz os níveis de homocisteína, diminuindo o risco de um novo derrame.
- B12 (Cobalamina): Importante para a saúde do sistema nervoso e para a produção de neurotransmissores. A deficiência pode levar a problemas neurológicos e psiquiátricos.
- Vitaminas antioxidantes como C e E: A vitamina C é importante para a produção de dopamina e atua como antioxidante, assim como a vitamina E, que protege as células do cérebros contra o estresse oxidativo.
- Colina: precursor da acetilcolina, essencial para aprendizado e controle muscular. Gosto muito de usar a citicolina. As caixas marrons abaixo mostram os processos beneficiados por este suplemento após o acidente vascular cerebral (AVC). Por exemplo, a citicolina ajuda a reduzir edema, glutamato, destruição e morte neuronal.

Cascata isquêmica - as caixas escuras mostram os processos onde a citicolina tem efeito benéfico após o derrame (Secades, & Gareri, 2022)

A citicolina é um medicamento de escolha para tratamento de doenças cerebrovasculares, principalmente na sua forma crônica, pois seu uso clínico é justificado pelas ações farmacológicas que exerce sobre o sistema nervoso central.

  • Interfere positivamente no metabolismo energético cerebral.

  • Estimula a neurotransmissão central.

  • Ativa mecanismos de reparo celular.

  • Diminui o tamanho da lesão isquêmica.

  • Inibe a apoptose associada à isquemia.

  • Tem efeitos sinérgicos com drogas trombolíticas e neuroprotetoras.

A fase crônica do derrame pode cursar com disfunção cognitiva, redução da mobilidade, anemia, sarcopenia (grande perda de massa muscular). Desta forma, suplementos acabam sendo muito úteis, especialmente se há dificuldade de consumo de alimentos, disfagia ou necessidade de uso de sondas.

Se o paciente estiver tendo convulsões após o derrame, indica-se a dieta cetogênica. Esta frequentemente precisa ser suplementada de eletrólitos, carnitina, fibras, multivitamínicos, antioxidantes, enzimas digestivas, probióticos. Por isso, marque uma consulta para individualização da sua dieta.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/