A doença de Alzheimer (DA) é um distúrbio neurodegenerativo caracterizado por perda progressiva de memória, desorientação espacial, disfunção cognitiva e mudanças comportamentais. O principal fator de risco para a forma esporádica da DA é o envelhecimento, com a prevalência dobrando aproximadamente a cada 5 anos após os 65 anos. Estima-se que cerca de um terço das pessoas com 85 anos ou mais apresentam Alzheimer. Outro fator genético relevante para a forma tardia da doença é o gene APOE, especialmente a variante APOE4.
O Papel do Gene APOE no Alzheimer
O gene APOE possui três variantes principais (APOE2, APOE3 e APOE4), que diferem entre si por pequenas alterações no DNA (polimorfismos de nucleotídeo único). A variante APOE4 está presente em 25% da população global e em 65–80% das pessoas diagnosticadas com Alzheimer. A presença de um único alelo APOE4 aumenta o risco de DA de 2 a 3 vezes, enquanto dois alelos aumentam o risco até 15 vezes. No entanto, é importante ressaltar que APOE4 não determina inevitavelmente o desenvolvimento da doença: algumas pessoas com APOE4 nunca desenvolvem DA, enquanto outras que desenvolvem não possuem a variante.
Interessantemente, o alelo APOE4 está associado a benefícios cognitivos e maior inteligência durante a juventude, um fenômeno conhecido como "pleiotropia antagônica" – quando um mesmo gene tem efeitos positivos e negativos em diferentes fases da vida.
Funções do APOE no Corpo e no Cérebro
O APOE desempenha um papel crucial no transporte de lipídios e colesterol, tanto no corpo quanto no cérebro, utilizando um mecanismo mediado pelo receptor de LDL. No corpo, APOE é produzido principalmente no fígado e regula o transporte de colesterol e lipídios entre os tecidos.
APOE2: Associado a maior expressão da proteína APOE, aumento de triglicerídeos no plasma e redução do colesterol.
APOE3: Considerado o padrão para uma homeostase lipídica saudável.
APOE4: Relacionado à menor expressão da proteína APOE e níveis elevados de colesterol.
No cérebro, APOE é produzido principalmente por astrócitos e transporta lipídios e colesterol para os neurônios. As isoformas APOE2 e APOE3 são mais eficazes, acumulando-se nos neurônios em níveis de 2 a 4 vezes maiores do que APOE4. Isso faz com que APOE4 seja menos eficiente no desempenho de suas funções no sistema nervoso central.
Principais Características Patológicas da Doença de Alzheimer
As marcas patológicas da DA incluem:
Placas de beta-amiloide: Depósitos extracelulares que afetam a comunicação neuronal.
Emaranhados neurofibrilares (tau): Acúmulos intracelulares de proteínas tau que comprometem a estrutura e função dos neurônios.
Redução na captação de glicose pelo cérebro: Afeta o metabolismo energético necessário para a função cerebral.
Esses processos estão no centro do desenvolvimento e da progressão da doença.
O Papel do Peixe na Dieta de Portadores de APOE4
O consumo de peixe, rico em DHA (ácido docosa-hexaenoico), pode retardar a progressão do Alzheimer em portadores e não portadores do APOE4. Estudos mostram que indivíduos com APOE4 que consomem peixes regularmente apresentam melhora na neuropatologia cerebral, incluindo menor densidade de placas neuríticas e melhores escores diagnósticos da doença. Além disso, protocolos que combinam dieta saudável com peixes selvagens têm revertido o declínio cognitivo em pacientes.
Por outro lado, a suplementação com DHA isolado (2 g por dia) não mostrou benefícios significativos para portadores de APOE4. Acredita-se que isso se deve a diferenças na forma do DHA presente no peixe (fosfolipídica) em comparação com os suplementos, que geralmente contêm DHA na forma não esterificada.
Transporte de DHA no Cérebro e Risco de Alzheimer
O DHA é essencial para o cérebro, mas não pode ser sintetizado pelos neurônios. Ele precisa ser obtido por meio da dieta e transportado do plasma para o cérebro através da barreira hematoencefálica (BHE). O DHA está presente no plasma em duas formas principais:
DHA Livre: Não esterificado, ligado à albumina.
DHA-lysoPC: Forma fosfolipídica, também ligada à albumina.
Ambas as formas são transportadas para o cérebro, mas utilizam mecanismos diferentes:
DHA Livre: Transportado por difusão passiva.
DHA-lysoPC: Transportado via a proteína MFSD2A, presente nas células endoteliais da BHE.
Portadores de APOE4 apresentam um transporte cerebral prejudicado de DHA Livre, o que pode aumentar o risco de Alzheimer devido à acumulação de placas de beta-amiloide, emaranhados de tau e menor captação de glicose no cérebro.
Implicações para a Dieta
O ômega-3 em forma fosfolipídica, como encontrado no peixe, parece ser mais eficaz para portadores de APOE4 do que os suplementos de DHA livre. Fontes dietéticas alternativas com alto teor de DHA-lysoPC, além do peixe, podem ser exploradas para superar o problema de transporte no cérebro e reduzir o risco de Alzheimer. Gosto muito do suplemento da Nordic: Omega-3 phosfolipids.
Outros bons suplementos de ômega-3:
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