Infecção, microbiota, desregulação imune e autismo

Quando uma mãe sofre uma infecção durante a gravidez (como rubéola, citomegalovírus, poliomavírus, influenza) e seu sistema imunológico produz níveis elevados da molécula interleucina-17a (IL-17a), isso pode não apenas alterar o desenvolvimento do cérebro do bebê, mas também alterar o microbioma.

Em quatro estudos iniciados em 2016, os co-autores seniores Gloria Choi, do MIT, e Jun Huh, da Universidade de Harvard, traçaram como a IL-17a elevada durante a gravidez age sobre os receptores neurais em uma região específica do cérebro fetal para alterar o desenvolvimento do circuito, levando ao autismo.

Em pesquisa subsequente, publicada em 2022, o grupo mostra que a IL-17a também pode alterar a trajetória do desenvolvimento do sistema imunológico (Kim et al., 2022) e esta desregulação imune possa induzir déficits sociais. Outros fatores inflamatórios envolvidos são a IL-1, IL-6 e TNF-alfa.

A substâncias inflamatórias produzidas afetam diretamente a placenta. Em um grau limitado podem atravessar e chegar ao feto, comprometendo de forma duradoura seu desenvolvimento.

Com a infecção, cerca de 20% das mulheres produzem autoanticorpos que podem obter acesso ao cérebro fetal em desenvolvimento. Um dos efeitos é a inibição da neurogênese, alterações na poda neural ou mesmo a morte neuronal.

A desregulação imune contínua persiste no autismo. Após o nascimento e pelo menos durante a infância, um indivíduo com TEA pode ter autoanticorpos anti-cérebro endógenos, separados de qualquer IgG materna, que se correlacionam com comportamentos aberrantes e desenvolvimento prejudicado. Também existe um amplo quadro de desregulação imune relacionada ao TEA, incluindo um aumento de citocinas inflamatórias (por exemplo, IL-6, IL-8 e MCP-1), levando assim a um aumento da proporção Th1/Th2 pró-inflamatória.

As populações de células T e NK também podem ser distorcidas. As células NK, em particular, mostram uma atividade basal aumentada, mas uma resposta diminuída à ativação, tornando as células incapazes de responder adequadamente aos estímulos.

As células NK interagem com KIRs ativadores e inibitórios, muitos dos quais estão geneticamente ligados ao TEA. Outros fatores genéticos incluem o oncogene MET e membros da família de genes HLA. O pano de fundo mais amplo dos fatores imunogenéticos do TEA inclui múltiplas redes do sistema imunológico, como vias que regulam citocinas e células NK, que juntas constituem um amplo ambiente endógeno de regulação e resposta imune atípica.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/