Alterações epigenéticas no autismo

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento com prevalência de aproximadamente 1,5% nos países desenvolvidos. Pessoas no espectro do autismo apresentam ampla variabilidade genética que desencadeia alterações comportamentais e fenotípicas únicas.

As manifestações clínicas são complexas e frequentemente percebida entre os 18 e os 36 meses de idade. Déficits de interação social, gama restrita de interesses e comportamentos estereotipados repetitivos são as principais características do TEA. Contudo, dependendo das apresentações, o diagnóstico clínico torna-se difícil, atrasando as terapias. A intervenção precoce também pode levar a uma melhor maturação neuronal.

O diagnóstico atualmente é feito a partir de observações e preenchimento de instrumentos como M-CHAT-R, ADOS e ADI-R. Embora a confiabilidade diagnóstica dessas entrevistas seja alta, essas ferramentas exigem um avaliador com experiência e treinamento específico.

Contudo, biomarcadores para detecção ainda mais precoce têm sido investigados, como complemento aos instrumentos de avaliação observacional. Dentre os biomarcadores propostos para detecção precoce do TEA estão: ressonância magnética para avaliação de conectividade funcional, carga genética, o volume aumentado do líquido cerebroespinhal, assinaturas transcriptômicas no sangue, níveis de citocinas alteradas, moléculas do metabolismo mitocondrial por exame de urina (metabolômica).

Outros estudos focam nos RNAs não codificantes (ncRNAs), sendo o mais estudado os microRNAs. Os microRNAs possuem aproximadamente 18 a 24 nucleotídeos e são responsáveis pela regulação da expressão gênica através de mecanismos epigenéticos.

Os miRNAs estão fortemente envolvidos na plasticidade neuronal e no desenvolvimento neuronal: Sua desregulação associa-se a transtornos do neurodesenvolvimento, epilepsia, esquizofrenia e síndrome de Tourette.

Para ser um biomarcador acessível, o miRNA deve ser capaz de ser isolado usando protocolos não invasivos, deve ser fácil de quantificar, específico para o distúrbio, capaz de ser traduzido de sistemas para modelos humanos e confiável como um indicador precoce do transtorno estudado.

Garrido-Torres e colaboradores (2023) conduziram uma revisão sistemática de 133 estudos (27 selecionados), para identificar quais miRNAs podem ser usados como biomarcadores para apoiar os métodos diagnósticos atuais. busca na literatura rendeu um total de 133 artigos relevantes, 27 dos quais foram selecionados.

Os miRNAs desregulados com mais frequência nos estudos analisados foram miR-451a, miR-144-3p, miR-23b, miR-106b, miR150-5p, miR320a, miR92a-2-5p e miR486-3p. Entre os miRNAs mais desregulados em indivíduos com TEA, o miR-451a é o mais relevante para a prática clínica e está associado à interação social prejudicada. Outros miRNAs, incluindo miR19a-3p, miR-494, miR-142-3p, miR-3687 e miR-27a-3p, são expressos diferencialmente em vários tecidos e fluidos corporais de pacientes com TEA.

Todos esses miRNAs podem ser considerados candidatos a biomarcadores de TEA. A saliva pode ser o fluido biológico ideal para medições de miRNA, porque é fácil de coletar em crianças em comparação com outros fluidos biológicos. Mais estudos estão sendo feitos nesta área e a promessa é que o barateamento do custo dos exames contribuirá para um diagnóstico mais precoce.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/