O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição complexa do neurodesenvolvimento que afeta igualmente indivíduos em todo o mundo, em todas as classes sociais. Embora as causas exatas do autismo permaneçam indefinidas, a contribuição genética é inegável. Dentre os genes investigados estão aqueles que afetam o metabolismo das mitocôndrias.
Além da genética, vários fatores podem afetar o funcionamento mitocondrial, como a exposição à toxinas, determinados medicamentos, infecções, o próprio envelhecimento, dieta inadequada e carente em nutrientes essenciais ao metabolismo e doenças crônicas, incluindo diabetes.
O que são as mitocôndrias?
As mitocôndrias são organelas cuja principal função é a geração de energia na forma de adenosina trifosfato (ATP). Quando as mitocôndrias não funcionam adequadamente, isso pode aumentar a geração de radicais livres e levar a uma ciclo vicioso de estresse oxidativo, problemas imunes, inflamatórios, além de alterações genéticas e epigenéticas.
Como as mitocôndrias geram energia e o cérebro consome grande parte dela, faz sentido alterações nas mitocôndrias estarem envolvidas na forma como o sistema nervoso funciona e se desenvolve. Vários estudos sugerem, de fato, uma ligação entre a disfunção mitocondrial e o TEA, indicando que a função mitocondrial prejudicada pode contribuir para o desenvolvimento e a gravidade dos sintomas do autismo (Rossignol, & Frye, 2012).
Fatores Genéticos e Disfunção Mitocondrial
Mutações genéticas no DNA mitocondrial (mtDNA) e no DNA nuclear (nDNA) têm sido implicadas na disfunção mitocondrial associada ao TEA. Essas mutações podem interromper o funcionamento normal das mitocôndrias, levando a déficits de energia e estresse oxidativo (Giulivi C, et al., 2010). Doenças mitocondriais primárias e secundárias estão associadas à maior incidência de TEA (Singh, 2020).
Estresse Oxidativo e Disfunção Mitocondrial
A disfunção mitocondrial pode resultar em aumento do estresse oxidativo, que ocorre quando há um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e os mecanismos de defesa antioxidante do organismo. O estresse oxidativo foi observado em indivíduos com autismo e pode contribuir para as anormalidades do neurodesenvolvimento associadas ao transtorno (Chauhan et al., 2004).
Partindo desta premissa vêm sendo investigadas técnicas para edição de genes mitocondriais. Contudo, estas pesquisas ainda encontram-se em sua infância e as técnicas ainda possuem eficiência e limitações variadas (Patananan et al., 2016).
Neste sentido, concomitantemente, estudos com medicamentos e suplementos capazes de melhorar a função mitocondrial vêm sendo realizados (Frye et al., 2013). Novas pesquisas foram iniciadas em 2019 com o intuito de determinar a eficácia e segurança de tais intervenções. Contudo, a pandemia e outras contingências prejudicaram o andamento dos estudos, cujos resultados ainda não foram publicados.