Avaliação da deficiência de ferro em pacientes com e sem inflamação

Ferro sérico não é o melhor parâmetro para status de ferro no organismo. Relaciona-se à quantidade de ferro na transferrina apenas, ou seja, informa sobre o ferro sendo transportado e não o ferro disponível.

O melhor parâmetro segundo os artigos para análise de deficiência e suficiência de ferro é mesmo a ferritina. Valores abaixo de 45 μg/L confirma deficiência e valores acima de 100 μg/L confirma a suficiência.

Interpretação da ferritina em estado inflamatório

Quando existe um estímulo inflamatório, células do sistema imune são ativadas e produzem citocinas pró-inflamatórias. Algumas dessas citocinas atuam no fígado, fazendo os hepatócitos produzirem proteínas, como a Proteína C reativa (PCR) e a Hepcidina.

A hepcidina, por sua vez, reduz a absorção intestinal de ferro e a saída de ferro dos tecidos, como o fígado. A ativação, por mediadores inflamatórios, de macrófagos favorece a hemofagocitose. Não há necessariamente diminuição do ferro já que este está ligado à proteína heme e é reciclável. No entanto, o aumento da hepcidina que ocorre na inflamação reduz a saída de ferro dos macrófagos.

Tudo isso faz com que tenhamos menos ferro disponível na transferrina, o que por consequência também fará com que tenhamos menos ferro na medula óssea para a eritropoiese.

A inflamação também gera redução na secreção renal de eritropoietina e produção de células vermelhas para dar lugar a um aumento da proliferação de células da série branca (leucócitos, células de defesa).

Por todo o exposto, em um estado inflamatório pode ocorrer uma diminuição significativa da eritropoese, o que pode causar ANEMIA. Por último, uma das citocinas, a interleucina-6, faz os hepatocitós produzirem ferritina e é por isso que na inflamação a ferritina circulante pode aumentar. Ou seja, este marcador nem sempre pode ser utilizado para avaliar o estado nutricional de ferro.

Então, em um caso de anemia (Hemoglobina < 12 g/dL), como saber se o paciente tem deficiência de ferro?

  • Se não há inflamação e a ferritina está abaixo de 30 μg/L: sim, existe deficiência de ferro;

  • Se houver inflamação e FERRITINA for < 100 μg/L, existe também deficiência de ferro;

  • Se houver inflamação e a FERRITINA estiver entre 100 e 300 μg/L, será necessário avaliar a saturação da transferrina. Se esta estiver menor que 20%: há deficiência de ferro.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/