Tipos de epilepsia e tratamentos disponíveis

A epilepsia é uma condição neurológica caracterizada por episódios de atividade elétrica cerebral anormal, que resultam em crises convulsivas. Existem vários tipos de epilepsia, cada um com características e padrões de crises específicos. Atinge cerca de 1% da população mundial.

As causas da epilepsia podem ser estruturais (derrame, tumores), genéticas (SCNA1, PCDH19, DEPDC5, KCNT1), infecciosas (neurocisticercose, malária), metabólicas (como deficiência de GLUT1), imunes (como esclerose múltipla e encefalite autoimune), traumáticas (acidentes de trânsito), dentre outras (Devinsky et al., 2018). Em 2017 a Liga internacional contra a epilepsia (ILAE) estabeleceu a terminologia e abordagens para a classificação da epilepsia e suas formas (Scheffer et al., 2017).

Para determinar o tipo de epilepsia o neurologista avaliará vários fatores, como o hemisfério cerebral acometido, o grau de consciência do paciente durante as crises convulsivas, além de manifestações físicas.

Classificação das epilepsias

As epilepsias são primeiro classificadas de acordo com o hemisfério cerebral afetado. Em 60% dos casos, o início é focal (atingindo apenas um hemisfério cerebral). Em 30% dos casos o início é generalizado (envolve os dois hemisférios cerebrais). Em alguns casos (10%) o início é desconhecido, seja porque a pessoa estava sozinha no momento da convulsão, seja porque informações não foram fornecidas ou porque exames ainda não foram feitos ou concluídos.

  1. Epilepsia focal ou parcial: Nesse tipo de epilepsia, as crises começam em uma parte específica do cérebro. Neste caso, o paciente pode estar consciente de seu entorno no momento da crise (focal aware) ou não (focal unaware). Os sintomas podem variar de acordo com a região afetada. A epilepsia do lobo temporal é um exemplo, com origem no lobo temporal do cérebro. As crises podem se manifestar com alterações motoras e não-motoras.

    • Convulsão focal motora: pode ser (a) atônica, consistindo em perda do tônus muscular (a pessoa pode cair de repente), envolver (b) automatismos, movimentos involuntários ou repetitivos, (c) clônica, consistindo em espasmos repetitivos, (d) espasmos epilépticos com flexão ou extensão muscular repentina, (e) hipercinética, com movimentos de membros e cavidades, como braços e quadris (ou seja, a pessoa pode balançar para frente e para trás, pular ou se debater), (f) mioclônicas, com movimentos curtos e espasmódicos dos músculos, semelhantes a espasmos musculares, (g) tônicas, caracterizadas por rigidez súbita.

    • Convulsão focal não-motora: pode ser do tipo (a) autonômica, impactando pressão arterial, ritmo cardíaco, função da bexiga, (b) comportamental, em que os movimentos param todos juntos, (c) cognitiva que prejudica todas as funções cognitivas, (d) emocional, podendo alterar o humor ou a emoção, (e) sensorial, com alterações como sensação de dormência ou formigamento ou percepção de odor desagradável no ambiente.

  2. Epilepsia generalizada: Nesse tipo de epilepsia, as crises afetam ambos os hemisférios cerebrais desde o início. As crises envolvem perda de consciência e também podem se manifestar com crises motoras e não motoras.

    • Epilepsia motora generalizada. Pode ser (a) atônica com perda de tônus muscular (e possível queda), (b) clônica, com espasmos, (c) tônica, com rigidez muscular súbita, (d) mioclônica, caracterizada por espasmos musculares súbitos e rápidos, que podem afetar partes isoladas do corpo ou o corpo inteiro, (e) tônico-clônicas (previamente chamada de grande mal), consistindo em rididez e movimentos repetivos.

    • Epilepsia não motora: (a) ausência típica (antes chamada de pequeno mal), caracterizada por breves períodos de ausência ou desconexão, nos quais a pessoa pode parecer estar parada, com o olhar vago e sem responder a estímulos externos. Esses episódios são curtos e podem ocorrer várias vezes ao dia. Outro tipo é a (b) ausência atípica, em que outros sintomas também estão presentes como estalar dos lábios e movimentos repetitivos das mãos. Por fim, há a (c) mioclonia de pálpebra, com breves contrações da pálpebra.

Estas são as principais, mas existem outros tipos de epilepsia e cada tipo pode exigir abordagens de tratamento e cuidados específicos. Além disso, outras situações podem gerar convulsões, mesmo em pacientes não epilépticos. O diagnóstico e o tratamento devem ser realizados por um médico especialista em neurologia ou epileptologia, que poderá avaliar adequadamente o paciente e recomendar a melhor abordagem para o caso.

Tratamento para epilepsia

Como relatado, o tratamento pode variar dependendo do tipo de epilepsia, da gravidade das crises e das necessidades individuais de cada pessoa. Geralmente, o objetivo principal do tratamento é controlar as crises epilépticas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Abaixo estão algumas opções comuns de tratamento para a epilepsia:

1. Medicamentos antiepilépticos: a maioria das pessoas com epilepsia é tratada com medicamentos antiepilépticos (como barbituratos, benzodiazepinas, lamotrigina, levetiracetam, topiramato), também conhecidos como anticonvulsivantes. Esses medicamentos ajudam a prevenir ou reduzir a frequência e a gravidade das crises epilépticas. Outras medicações (canabidiol, cenobamato, ganxolona) estão sendo testadas. A combinação de drogas, assim como as dosagens e frequência serão determinadas pelo médico, levando em consideração o tipo de epilepsia, a idade do paciente e as terapêuticas já testadas.

2. Cirurgia: em alguns casos de epilepsia focal, quando o paciente não responde bem aos medicamentos, a cirurgia de ressecção é indicada. O procedimento pode envolver a remoção ou a desconexão de uma área do cérebro que esteja causando as crises. Apesar da eficácia para certos casos, a cirurgia pode deixar sequelas como problemas de memória e linguagem, distúrbios de humor em alguns pacientes.

3. Estimulação do nervo vago: essa é uma opção de tratamento para pessoas com epilepsia que não respondem bem aos medicamentos. O implante de um neuroestimulador sob a pele no peito, leva ao estímulo do nervo vago, ajudando a prevenir as crises epilépticas em 24 a 31% dos pacientes.

4. Terapia de estimulação magnética transcraniana: envolve a aplicação de pulsos magnéticos no cérebro para ajudar a reduzir a atividade epiléptica. É mais comumente usada como opção de tratamento complementar para pessoas com epilepsia de difícil controle. Estes aparelhos estão sendo desenvolvidos também na tentativa de preservar ou melhorar a memória e funções cognitivas.

5. Dieta cetogênica: A dieta cetogênica é uma abordagem dietética de baixo teor de carboidratos, alta em gorduras saudáveis e moderada em proteínas. Essa dieta pode ser recomendada para crianças e adultos com epilepsia, especialmente em casos de epilepsia refratária, ou seja, que não responde aos medicamentos. A dieta cetogênica pode ajudar a reduzir a frequência e a gravidade das crises.

Cada pessoa pode responder de maneira diferente às opções de tratamento. Portanto, qualquer modalidade escolhida deve ser avaliada, recomendada e monitorada por especialistas da área.

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Consequências das epilepsias mal gerenciadas

A epilepsia refratária à medicação corresponde a cerca de 30% dos casos. Se não controlada pode gerar comorbidades diversas e lesões cerebrais. As consequências variam em tipo e gravidade, desde dificuldades sutis de aprendizagem até deficiência intelectual, passando por sintomas relacionados ao transtornos do espectro do autismo, aumento das preocupações psicossociais e doenças mentais como transtorno de ansiedade e depressão.

Lesões cerebrais observadas na ressonância magnética de pacientes com epilepsia focal (Devinsky et al., 2018).

Nas epilepsias mais graves, pode ser observada uma gama complexa de co-morbilidades, incluindo déficits motores (paralisia cerebral ou deterioração da marcha, perturbações do movimento), escoliose, distúrbios do sono e gastrointestinais. Assim como a etiologia, é importante que a presença de comorbidades seja considerada para cada paciente com epilepsia em cada estágio de classificação, possibilitando a identificação precoce, o diagnóstico e o manejo adequado.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/