O colesterol é um composto lipofílico (que gosta de gordura) ceroso da família dos esteróis. Contém 3 anéis de seis pontas (A, B e C), um anel de cinco pontas (D) e um hidroxiálcool (carbonos ligados a um grupo OH, que aumentam a solubilidade da molécula).
O colesterol é um componente crítico das membranas biológicas, estabelecendo fluidez e permeabilidade adequadas à estrutura. O hidroxiálcool ligado ao carbono-3 da estrutura do colesterol desempenha um papel significativo na mobilização e armazenamento do colesterol por meio da esterificação de ácidos graxos.
O colesterol também é precursor para a síntese dos hormônios esteróides, vitamina D e ácidos biliares. No fígado, o colesterol é metabolizado pela família de enzimas metabólicas do citocromo P450 (CYP), resultando na geração de vários oxisteróis. Os oxisteróis atuam como moléculas sinalizadoras biologicamente ativas que exercem seus efeitos principalmente por meio da ativação de receptores nucleares, como os receptores X hepáticos (LXRs) e SREBP.
ALTERAÇÕES NAS CONCENTRAÇÕES DE COLESTEROL
Tanto colesterol muito alto, quanto colesterol muito baixo são um problema para o corpo humano. A perda da atividade da enzima necessária à biossíntese de colesterol (7-desidrocolesterol redutase [DHCR7]) resulta em vários graus de malformação durante a gestação, bem como em alterações comportamentais e de aprendizado. Afinal, grande parte do cérebro é formada por colesterol. Já o excesso de colesterol no sangue, aumenta significativamente o risco de doença arterial coronariana, disfunção vascular e aterosclerose.
AVALIAÇÃO DO COLESTEROL
Os exames de sangue em jejum são o padrão para avaliação do colesterol. Este exame (chamado lipidograma) inclui colesterol total, colesterol HDL (o chamado colesterol “bom”) e colesterol LDL (o chamado colesterol “ruim”). O lipidograma também avalia a quantidade de triglicerídeos no sangue.
Os níveis de colesterol variam com a genética, o estilo de vida (dieta, atividade física, níveis de estresse), o hábito de fumar, alterações hormonais, presença de doenças autoimunes, uso de medicamentos, saúde do fígado e rins.
Colesterol sérico total
120 a 200 mg/dL = valores desejados
200–239 mg/dL = limítrofe a alto risco
240 mg/dL e acima = alto risco de doenças cardiovasculares
Colesterol HDL: valores maiores são mais adequados
<40 mg/dL para homens e <50 mg/dL para mulheres = maior risco de doenças cardiovasculares
40-50 mg/dL para homens e 50-60 mg/dL para mulheres = valores normais
>60 mg/dL está associado a algum nível de proteção contra doenças cardíacas
Colesterol LDL
50 a 100 mg/dL = valores ideais
100 mg/dL-129 mg/dL = ideal a quase ideal
130 mg/dL-159 mg/dL = alto risco limítrofe
160 mg/dL-189 mg/dL = alto risco
190 mg/dL e superior = risco muito alto
ATENÇÃO! Mais importante do que avaliar estes valores isolados é avaliar a relação entre eles. Existem pessoas com níveis ideais que infartam e pessoas com níveis altos que não infartam. Aprenda mais:
UM CASO DIFERENTE: A HIPERCOLESTEROLEMIA FAMILIAR
A hipercolesterolemia familiar (HF) (hiperlipoproteinemia tipo II) é uma doença autossômica dominante que resulta de mutações que afetam a estrutura e a função do receptor de LDL (LDLR). Os defeitos na interação do LDLR com as partículas de LDL resultam na elevação do colesterol LDL no sangue. A quantidade de receptores é menor nos pacientes com HF, assim, o LDL se acumula no sangue. Quanto menos receptores maior a gravidade e precocidade das doenças cardíacas.
A consequente hipercolesterolemia leva à doença arterial coronariana prematura e à formação de placas ateroscleróticas. A HF foi o primeiro distúrbio hereditário reconhecido como causa de infarto do miocárdio (ataque cardíaco).
Os indivíduos homozigotos (que recebem a mutação de mãe e pai) são mais severamente afetados do que os heterozigotos (que recebem a mutação de apenas um lado da família). É uma doença mais rara, afetando 1 pessoa a cada 1 milhão de indivíduos. Os heterozigotos para HF ocorrem de forma mais comum com uma frequência de 1 em 500, o que torna essa doença um dos distúrbios hereditários mais comuns do metabolismo.
Mais de 700 mutações diferentes no gene LDLR já foram identificadas. As características clínicas da HF incluem concentrações elevadas de LDL plasmático e deposição de colesterol LDL nas artérias, tendões e pele. Depósitos de gordura nas artérias são chamados de ateromas e na pele e tendões são chamados de xantomas.
Em heterozigotos, a hipercolesterolemia é a manifestação clínica mais precoce da HF e continua sendo o único achado clínico durante a primeira década de vida. Os xantomas e o característico arcus corneano (anel esbranquiçado na periferia da córnea) começam a aparecer na segunda década. Os sintomas da doença cardíaca coronária apresentam-se na quarta década. No momento da morte, 80% dos heterozigotos terão xantomas.
O quadro clínico é mais uniforme e grave nos homozigotos, que apresentam hipercolesterolemia acentuada ao nascimento, persistindo por toda a vida. Xantomas, arco da córnea e aterosclerose se desenvolverão durante a infância em homozigotos. A morte por infarto do miocárdio pode ocorrer antes dos 30 anos de idade em homozigotos, caso o paciente não receba o tratamento adequado (uso de medicação, angioplastia, pontes de safena, dieta com baixo teor de gordura saturada, colesterol, gordura trans, muita fibra e fitoesterois).
Classificação dos pacientes com hipercolesterolemia familiar
Muito alto risco: envolve pacientes que apresentam doença aterosclerótica cardiovascular manifesta, como infarto prévio do miocárdio, angina pectoris, revascularização miocárdica prévia, acidente vascular isquêmico ou transitório ou claudicação intermitente (dor nos membros inferiores para caminhar distâncias menores que o habitual). Estes pacientes benificiam-se muito de uma dieta vegana, muito rica em fibras e rica em gorduras monoinsaturadas e ômega-3.
Alto risco: na prevenção primária são divididos em três grupos dependendo de um ou dois fatores adicionais de risco:
Pacientes com LDL-c (fração do colesterol considerada ruim) maior que 400 mg/dl, mesmo sem fatores de risco.
Pacientes que têm LDL-c maior que 310/mg dl com um fator adicional de risco.
Pacientes com LDL-c maior do que 190 mg/dl, mas com dois fatores adicionais de risco.
Risco intermediário: são os pacientes que, na prevenção primária, não apresentam fatores de risco adicionais.