Seu Cérebro Precisa de um Suprimento Constante de Energia

O cérebro, apesar de pequeno em tamanho, é um órgão altamente ativo. Consome cerca de 20% da energia diária, mesmo representando apenas 2% do peso corporal. O cérebro consome tanta energia pois trabalha dia e noite. Suas funções englobam: tomada de decisões, leitura, fala, respiração, regulação da temperatura corporal, coordenação das mensagens enviadas e recebidas pelo corpo e muito mais.

As principais fontes de energia do cérebro são a glicose e as cetonas.

  • Glicose é o combustível principal para a maioria das pessoas. A quantidade de glicose necessária para suprir as necessidades do organismo ficam em torno de 110 a 145g ao dia. Mas, a maioria das pessoas acaba consumindo muito mais desnecessariamente, mesmo não sendo atletas. A longo prazo e dependendo da individualidade bioquímica, o corpo e o cérebro podem ficar mais resistentes à insulina, tornando-se mais dependentes das cetonas para produção de ATP.

  • Em dietas cetogênicas ou períodos de jejum ou na falta de possibilidade de uso de glicose o cérebro adapta-se a usar cetonas.

A produção de corpos cetônicos

O fígado estoca glicose como glicogênio hepático. Após 24 a 48 horas sem carboidratos, o fígado começa a produzir cetonas. O uso de cetonas pode atender cerca de 70% das necessidades energéticas do cérebro, em caso de necessidade.

O Papel das Cetonas no Funcionamento Cerebral

  • Energia eficiente com menos produção de radicais livres.

  • Redução do estresse oxidativo.

  • Redução do dano celular.

  • Melhoria na função mitocondrial.

  • Aumento no fluxo sanguíneo cerebral.

  • Dietas cetogênicas podem ajudar em doenças neurológicas e psiquiátricas.

O cérebro é incrivelmente adaptável e pode funcionar bem com cetonas. Fornecer ao cérebro energia suficiente é essencial para seu funcionamento ideal. Para isso, precisamos de mitocôndrias saudáveis.

Produção de energia pelas mitocôndrias (White, & Venkatesh, 2011)

As mitocôndrias são essenciais para a sobrevivência das células eucarióticas. Além de serem as "usinas de energia" que produzem ATP, também atuam como centros de integração do metabolismo celular, sinalização, resposta ao estresse e apoptose. Embora as mitocôndrias possuam um pequeno genoma próprio, cerca de 99% de suas proteínas são codificadas pelo DNA nuclear e importadas para a organela.

Estrutura e Funções das Mitocôndrias

As mitocôndrias possuem duas membranas e compartimentos aquosos distintos:

  • Membrana externa: facilita o transporte de metabólitos e proteínas.

  • Membrana interna: contém cristas que abrigam o sistema de fosforilação oxidativa, responsável pela geração de energia.

Além de ATP, as mitocôndrias participam de:

  • Síntese de cofatores como os clusters ferro-enxofre (Fe-S).

  • Metabolismo de aminoácidos, lipídeos e nucleotídeos.

  • Regulação de espécies reativas de oxigênio (ROS).

  • Mecanismos de controle de qualidade, como a mitofagia (eliminação de mitocôndrias danificadas).

Função das mitocôndrias (Pfanner, Warscheid, & Wiedemann, 2019)

A biogênese mitocondrial é o processo de formação e manutenção das mitocôndrias. A biogênese depende da importação de proteínas por meio de complexos translocadores específicos:

  1. Complexo TOM (Translocase of the Outer Membrane): entrada inicial das proteínas.

  2. Complexo TIM (Translocase of the Inner Membrane): direciona proteínas para a matriz ou membrana interna.

  3. MIA (Mitochondrial Intermembrane Space Assembly): realiza a dobragem e estabilização de proteínas no espaço intermembrana.

  4. SAM (Sorting and Assembly Machinery): insere proteínas na membrana externa.

Importação de proteínas pelas mitocôndrias (Pfanner, Warscheid, & Wiedemann, 2019)

Esses sistemas são regulados de forma dinâmica para responder às mudanças no estado energético celular e a condições de estresse.

Mitocôndrias como Redes Interconectadas

As mitocôndrias não funcionam como unidades isoladas. Suas proteínas formam redes dinâmicas que conectam:

  • Biogênese de organelas.

  • Metabolismo energético.

  • Morfologia e dinâmica de membranas.

Essas redes também incluem contatos com outras organelas, como o retículo endoplasmático, formando um sistema integrado conhecido como ermione.

Mitocôndrias e Doenças

Defeitos nos mecanismos de importação e processamento de proteínas podem levar a disfunções mitocondriais, relacionadas a doenças e transtornos que afetam o cérebro como:

  • Doença de Parkinson: acúmulo de proteínas devido à falha no processamento pelo PINK1.

  • Alzheimer: competição por processamento de proteínas leva ao acúmulo de precursores instáveis.

  • Transtorno depressivo maior e transtorno afetivo bipolar.

  • TEA e TDAH

Se o paciente tiver uma dieta carente em micronutrientes, tudo piora.

Além disso, respostas ao estresse, como a UPRmt (Unfolded Protein Response), são ativadas para restaurar a função mitocondrial ou eliminar organelas danificadas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/