Efeitos das Drogas Anestésicas Gerais e o Papel das Cetonas Exógenas

As drogas anestésicas gerais (DAG) são indispensáveis na prática médica, possibilitando a realização de cirurgias sem dor e com a ausência de consciência. Contudo, esses compostos apresentam potenciais efeitos adversos que incluem:

  • Toxicidades específicas: nefrotoxicidade, hepatotoxicidade, neurotoxicidade e arritmias cardíacas.

  • Efeitos respiratórios e cardíacos: depressão respiratória, irritação, depressão cardíaca e redução da pressão arterial.

  • Reações adversas pós-operatórias: náuseas, vômitos, hipertermia maligna e agitação.

  • Impactos cognitivos em longo prazo: estudos apontam comprometimento da neurogênese e disfunção cognitiva em animais jovens expostos a anestésicos inalatórios.

Esses efeitos variam de acordo com o tipo de anestésico, sendo os agentes voláteis (como isoflurano, sevoflurano e desflurano) e os gases anestésicos (como óxido nitroso e xenônio) amplamente utilizados.

Mecanismos de Ação e Impactos Metabólicos

Os anestésicos inalatórios atravessam facilmente a barreira hematoencefálica e interagem com membranas neuronais e mitocondriais, mas seu mecanismo completo de ação permanece um mistério na neurociência. Estudos mostram que:

  • Isoflurano pode aumentar os níveis de glicose no sangue, comprometendo a regulação da glicemia e provocando resistência à insulina (Rauch et al., 2024).

  • Efeitos metabólicos perioperatórios: a hiperglicemia associada ao estresse cirúrgico é exacerbada pelo isoflurano, aumentando riscos de complicações infecciosas, cardiovasculares e cognitivas.

  • Mesmo sem estresse cirúrgico, o isoflurano já foi relacionado à intolerância à glicose.

A hiperglicemia aguda no período perioperatório é preocupante, especialmente em pacientes com disfunções metabólicas pré-existentes, pois pode:

  1. Contribuir para imunossupressão.

  2. Aumentar o risco de complicações e mortalidade.

  3. Prejudicar a recuperação neurocognitiva, especialmente em pacientes idosos.

O Papel das Cetonas Exógenas no Controle Metabólico

Estudos recentes exploram o uso de suplementos de cetona exógena para mitigar os efeitos adversos da anestesia com isoflurano. Um estudo revelou que a administração de cetonas exógenas antes da anestesia:

  • Eliminou o aumento da glicose no sangue causado pelo isoflurano.

  • Aumentou o tempo de recuperação anestésica, sugerindo um impacto direto no metabolismo energético.

Esses resultados podem ser atribuídos às propriedades metabólicas das cetonas, que:

  • Geram mais ATP do que a glicose, especialmente sob condições de estresse.

  • Reduzem os níveis de glicose e lactato no sangue, promovendo um estado metabólico mais estável.

  • Preservam a função mitocondrial, reduzindo os danos causados pela inibição da cadeia de transporte de elétrons pelo isoflurano.

Cetonas e Função Cognitiva Pós-Cirúrgica

A hiperglicemia perioperatória pode estar associada à disfunção cognitiva pós-cirúrgica, um tema de grande relevância em uma população envelhecida. Estudos sugerem que a cetose pode ter benefícios protetores:

  • Mitocôndrias e metabolismo cerebral: as cetonas ajudam a mitigar os efeitos do isoflurano sobre a função mitocondrial e a geração de lactato.

  • Modulação da adenosina: o aumento da adenosina induzido pela cetose pode contribuir para uma recuperação anestésica mais eficiente.

Embora promissores, esses mecanismos ainda requerem maior investigação para entender como a cetose pode ser aplicada de forma ampla na prática clínica.

Implicações Clínicas e Futuras Pesquisas

Os achados sugerem que a administração de cetonas exógenas antes da anestesia pode ter benefícios significativos no manejo perioperatório, incluindo:

  1. Controle da glicemia: redução da hiperglicemia induzida pelo estresse cirúrgico e pela anestesia.

  2. Proteção cognitiva: redução do risco de disfunções cognitivas em pacientes vulneráveis.

  3. Mitigação de efeitos metabólicos: manutenção da homeostase energética e melhora da função mitocondrial.

No entanto, são necessárias pesquisas adicionais para:

  • Determinar as concentrações ideais de cetonas exógenas para diferentes tipos de anestésicos.

  • Avaliar o impacto em humanos submetidos a diferentes condições cirúrgicas e metabólicas.

  • Identificar interações potenciais com dietas cetogênicas e jejum pré-cirúrgico.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/