A dieta cetogênica "clássica" é uma dieta especial com alto teor de gordura (85 a 90% das calorias) e baixo teor de carboidratos. Sua principal aplicação é na redução de crises epilépticas e convulsões em crianças. É uma dieta mais rigorosa do que a dieta Atkins modificada (cerca de 70% das calorias advindas de gorduras), exigindo medidas cuidadosas de calorias, líquidos e proteínas. Os alimentos são pesados e medidos.
O nome cetogênico significa que gera cetonas no corpo. (ceto = cetona; gênico = produtor). As cetonas (ou corpos cetônicos) são formadas quando o corpo usa gordura como fonte de energia.
Normalmente, o corpo utiliza carboidratos, provenientes de alimentos como açúcar, pão, macarrão, arroz, frutas, verduras e leguminosas, como combustível. Como a dieta cetogênica é muito baixa em carboidratos, as gorduras se tornam o principal combustível. É como se você tivesse um carro híbrido, que pode utilizar vários tipos de combustíveis, a depender da disponibilidade.
Muitos estudos mostram que a dieta cetogênica também é útil para o controle de espasmos infantis, síndrome de Rett, complexo de esclerose tuberosa, síndrome de Dravet, síndrome de Doose e deficiência de GLUT-1, diabetes tipo 2, obesidade, síndrome metabólica e certos tipos de câncer.
A típica dieta cetogênica "clássica", antigamente também chamada de "dieta de triglicerídeos de cadeia longa", fornece 3 a 4 gramas de gordura para cada 1 grama de carboidrato e proteína. Isso equivale a cerca de 90% das calorias provenientes de gordura.
Normalmente, quando a dieta cetogênica clássica é prescrita, o total de calorias corresponde ao número de calorias que a pessoa precisa. Por exemplo, se uma criança está comendo uma dieta regular de 1.500 calorias, ela será alterada para uma dieta cetogênica de 1.500 calorias. Somente para crianças muito pequenas, a dieta pode ser prescrita com base no peso, por exemplo, 75 a 100 calorias para cada quilograma. Os cálculos não são simples e o suporte de um nutricionista é fundamental.
Exemplos de alimentos que fornecerão gordura na dieta cetogênica incluem óleo de coco, TCM, manteiga, ghee, creme de leite fresco, abacate, maionese, azeite de oliva, óleo de canola, azeitonas, peixes gordos como sardinhas.
Em casos graves, com internação, o paciente pode iniciar o tratamento com um jejum de 18 a 24 horas. A dieta é então iniciada, aumentando lentamente as calorias diárias. Contudo, na maioria dos casos o jejum não é necessário para a eficácia a longo prazo, embora inicialmente facilite a entrada rápida em cetose.
A principal razão para internação de crianças é o monitoramento das convulsões. Os centros que trabalham com internação podem ser consultados neste link. Nos demais casos a dieta é iniciada em casa, com supervisão nutricional. Mais da metade das crianças que seguem a dieta têm uma redução de pelo menos 50% no número de convulsões.
Algumas crianças, geralmente 10-15%, até mesmo ficam totalmente livres de convulsões e podem descontinuar a medicação. No início, se a pessoa sair da dieta por apenas uma refeição, o efeito some e as convulsões podem voltar. Portanto, é muito importante seguir a dieta prescrita. Após 2 anos da última convulsão a dieta tende a ser liberada novamente e o consumo de carboidratos passa a ser permitido, após um período de reintrodução e monitoramento.
A retirada da medicação é feita com acompanhamento neurológico. A dieta cetogênica é bastante desafiadora para os pais e pode afetar aumentar o estresse familiar a longo prazo. A família deve ser encorajada e acompanhada e suportes adicionais (inclusive psicoterapia) podem ajudar a maximizar a adesão à dieta cetogênica terapêutica (Operto et al., 2023).
Efeitos da dieta cetogênica no corpo humano
A dieta cetogênica funciona por vários mecanismos distintos:
Ativação de canais de potássio pelo metabolismo mitocondrial
Inibição da via mTOR
Inibição da transmissão glutamatérgica
Aumento de GABA
Efeito antiinflamatório cerebral
Efeitos antiepilépticos
Alteração da microbiota intestinal
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TREINAMENTO EM DIETA CETOGÊNICA TERAPÊUTICA
Nutricionistas, neurologistas, psiquiatras, endocrinologistas, pediatras, alergologistas, oncologistas, cardiologistas e ginecologistas são alguns dos profissionais que precisam dominar a dieta cetogênica terapêutica. Mais e mais evidências acumulam-se nestas áreas acerca dos benefícios da cetose no tratamento coadjuvante de diversas condições. Infelizmente, não há treinamento nesta área nas faculdades e precisamos correr atrás de outras formas.
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