O acúmulo excessivo de tecido adiposo na região intra-abdominal está intimamente relacionado a fatores de risco cardiometabólicos. Idade, sexo, genética, atividade física, alimentação, produção hormonal e até etnia são alguns dos fatores que interferem na quantidade de gordura que acumulamos na barriga.
O tecido adiposo do corpo inteiro é subdividido em dois componentes principais: tecido adiposo subcutâneo (abaixo da pele, fácias dos músculos e tecido mamário) e interno. O tecido adiposo interno ou visceral está localizado entre os órgãos e gera mais problemas de saúde. Pessoas saudáveis, com baixa quantidade de tecido adiposo visceral possuem menos dislipidemias, menor nível de colesterol, triglicerídeos. Suas lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e alta densidade (HDL) são grandes e estão menos oxidadas. Já em pessoas com obesidade visceral, a quantidade de colesterol e triglicerídeos aumenta, assim como LDL e HDL pequenos, densos e oxidados.
O perfil alterado de lipoproteínas gera disfunções metabólicas, como aumento da resistência insulínica (RI). Com a RI, menos glicose é utilizada para produção de energia (ATP) e mais gordura é mobilizada dos adipócitos. O problema é que esta gordura jogada na corrente sanguínea começa a circular e chega a vários órgãos, causando acumulo de gordura (esteatose) no pâncreas, rins, músculo, coração, fígado e alterando a função dos mesmos. É o que chamamos de lipotoxicidade.
O tecido adiposo secreta várias citocinas, também denominadas adipocinas, bem como muitos outros fatores envolvidos na regulação de vários processos biológicos. As adipocinas são secretadas principalmente por adipócitos ou pré-adipócitos, mas também, especialmente na obesidade, por macrófagos que invadem o tecido adiposo. A inflamação crônica de baixo grau causada pela secreção alterada de adipocinas altera ainda mais o metabolismo da glicose e dos lipídios e contribui para o risco cardiometabólico de indivíduos com obesidade visceral.
Em resumo, a lipotoxicidade é causada como uma falha no empacotamento do excesso de lipídios em gotículas lipídicas gerando elevação crônica dos ácidos graxos circulantes, que podem atingir níveis tóxicos nos tecidos não adiposos. Os efeitos deletérios do acúmulo de lipídios em tecidos não adiposos é o que chamamos lipotoxicidade. Comer demais, fazer jejum demais, consumir calorias, carboidratos ou gordura saturada e trans em excesso aumentam o acúmulo de gordura e a lipotoxicidade. Para aumentar a queima de gordura dos tecidos a dieta apropriada de baixo índice glicêmico, associada à atividade física é fundamental.