Uma disbiose pode ser definida como uma redução na diversidade microbiana e uma combinação da perda de bactérias benéficas, como cepas de Bacteroides e bactérias produtoras de butirato, como Firmicutes e um aumento de patobiontes (bactérias simbióticas que se tornam patogênicas sob certas condições), incluindo Proteobacteria, como Escherichia coli gram-negativa.
Causas da disbiose
Nosso corpo abriga trilhões de bactérias, localizadas especialmente no intestino grosso. A composição da microbiota intestinal é única, como uma impressão digital. A disbiose é gerada por 2 fatores principais:
Mudança na microbiota normal, seja por dieta pobre em fibras, estresse, envelhecimento, consumo excessivo de álcool, uso prolongado de medicamentos (antibióticos, laxantes, cortisona, anticoncepcionais etc), consumo excessivo de açúcar…
Reconhecimento incorreto da microbiota normal em diferentes ambientes corporais. A genética exerce um papel importante na diversidade da microbiota. Tecnologias de sequenciamento do genoma inteiro nos mostram quais são os tipos de bactérias com maior facilidade de se multiplicar em nosso corpo. Dependendo de nossa constituição genética, podem existir alterações nas vias de reconhecimento possibilitando que patógenos microbianos instalam-se com facilidade. Pode também haver reconhecimento incorreto da microbiota normal contribuindo para o desenvolvimento de doenças.
Receptores de reconhecimento
Os mamíferos têm uma variedade muito ampla de receptores de reconhecimento de microorganismos denominados seus constituintes moleculares. Os receptores reconhecem então os chamados padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs).
Estes incluem os receptores do tipo toll (TLRs), receptores do tipo NOD (NLRs), receptores do tipo RIG-I (RLRs), receptores do tipo C-lectina (CLRs), receptores scavenger (SCs), proteínas do receptor de DNA inato denominados receptores do tipo AIM2 (ALRs), membros das vias do complemento e proteínas de reconhecimento de peptidoglicano (PRPs).
Além dessas proteínas, que são principalmente ligadas às células, há também uma gama de receptores de reconhecimento solúveis, incluindo coletinas, ficolinas, pentraxinas, galectinas, sCD14 (cluster de diferenciação 14) e IgM natural (imunoglobulina M). Cada uma dessas famílias de proteínas contém vários membros.
Esses vários receptores de reconhecimento geralmente interagem com várias proteínas acessórias para permitir a sinalização celular seletiva. Após a ligação de bactérias ou outros micróbios (ou constituintes desses patógenos) aos receptores de reconhecimento, a célula alvo gera proteínas pró e/ou anti-inflamatórias.
Mutações nas regiões promotoras e segmentos de codificação dos genes para receptores podem resultar em expressão alterada dos mesmos ou diferenças na capacidade de reconhecer os constituintes microbianos aos quais eles se ligam. Fatores genéticos podem determinar uma barreira epitelial aberrante e induzir mudanças microbianas e uma cascata inflamatória que aumentam o risco de doenças crônicas e até certos tipos de câncer.
Proliferação bacteriana
Diversas superfícies humanas em contato com o meio externo permitem serem colonizadas por uma estrutura complexa composta por várias camadas de bactérias e outros microrganismos, denominada biofilme. Além de afetar o reconhecimento bacteriano, é provável que variantes genéticas humanas comuns sejam responsáveis por criar um ambiente favorável para promover o crescimento de bactérias patogênicas específicas dentro de biofilmes e ambientes mais inflamados.
Polimorfismos de genes para citocinas (como IL-6) podem selecionar e favorecer o crescimento de certos componentes do biofilme subgengival, gerando periodontite. Já no intestino, alterações no gene NOD2, que codifica um receptor de reconhecimento de padrão intracelular, capaz de reconhecer moléculas contendo dipeptídeo muramil bacteriano associam-se a maior risco de doenças inflamatórias intestinais (como colite ulcerativa, doença de Crohn) e doença celíaca. Mais estudos são necessários nesta área e outros genes produtores de citocinas, como TNF-α, IL-1β e IL-1RA têm sido investigados por seu papel na fisiopatologia destas doenças.
O que sabemos é que o nível de citocinas inflamatórias estão aumentados tanto na periodontite, quanto nas doenças inflamatórias intestinais, doença celíaca, mas também na vaginose bacteriana, na psoríase, na obesidade. Outros grupos de estudos focam também o trabalho em outros genes como FUT2, HLAB27, TLR4 e VDR, também poderosos influenciadores da imunidade e do reconhecimento de patógenos, PAMPs e outras moléculas.