Ayurveda é o nome da medicina tradicional da Índia. É considerada uma das terapias curativas mais antigas (5000 anos) e visa manter e preservar a saúde (física e mental) através de produtos naturais e estilos de vida saudáveis.
Ayurveda (Ayur = Vida, Ban = Ciência) defende que o universo, e tudo o que nele habita, é composto por cinco elementos básicos: éter (espaço), fogo (calor), água (líquido), terra (estado sólido e minerais) e ar (estado gasoso e oxigênio).
A combinação desses elementos dá origem aos doshas (humores ou tipologias). Existem três doshas baseados nas proporções que uma pessoa apresenta fará com que um indivíduo tenha uma constituição psicofísica (Prakriti) ou outra. Em outras palavras, algumas características físicas, emocionais e mentais.
Isso não significa que atribuir um dos doshas exclua o resto. Todos nós temos uma combinação tridoshica, mas haverá uma ou a combinação de duas que predominará sobre as outras. Esse será o nosso dosha.
Os três doshas principais são Vata (combinação de éter e ar), Pitta (combinação de fogo e água) e Kapha (combinação de terra e água). Conhecer o seu dosha é um requisito fundamental para a prática ayurvédica. Cada tipologia requer uma prática ayurvédica específica.
Pessoas com uma classificação Prakriti (corpo-mente) Vata (espaço e ar) estão em constante mudança. Eles têm uma mente enérgica e criativa. Sempre que seu dosha está em equilíbrio com seu corpo e mente, eles são pessoas entusiasmadas com muita vontade de viver. Caso contrário, eles se sentirão fora de controle (dificuldades para dormir, falta de apetite…) e precisarão de um tempo para relaxar e recuperar o equilíbrio.
Os indivíduos Pitta (fogo e água) são assertivos e possuem grande determinação. Em caso de desequilíbrio entre a mente e o corpo, podem desencadear patologias, apresentar raiva e irritabilidade devido ao acúmulo excessivo de seu elemento fogo.
As pessoas cujo dosha predominante é Kapha (terra e água) são estáveis e calmas. Desequilíbrios entre o corpo e a mente são responsáveis pela resistência às mudanças, ganho de peso, retenção de líquidos e alergias.
Em estudo publicado em 2015, os pesquisadores realizaram a análise de variações genéticas, polimorfismo de nucleotídeo único (SNPs) de 262 indivíduos do sexo masculino bem classificados (após triagem de 3.416 indivíduos) pertencentes a três Prakritis.
Este estudo incluiu aquelas pessoas cuja tipologia coincidiu com a classificação feita por especialistas médicos ayurvédicos e com aquela fornecida por software desenvolvido a partir da literatura ayurvédica clássica. Posteriormente, foi realizada uma análise de componentes principais (ACP) utilizando esses SNPs como variáveis para classificar os indivíduos em seus respectivos grupos (Vata, Pitta, Kapha). Esses achados foram então validados com 297 amostras adicionais (replicação do estudo). Foram encontrados 52 SNPs capazes de explicar as Prakritis dos participantes. O gene PGM1, por exemplo, se correlaciona ao fenótipo Pitta conforme descrito no texto antigo Charaka samhita, sugerindo que a classificação fenotípica da medicina tradicional indiana tem uma base genética (Thangaraj et al., 2015).
Eu forneci meus dados genéticos à empresa ADNTRO para esta análise e chegaram à constituição:
Minha análise genética interpretada aos olhos do Ayurveda
Este foi apenas um primeiro estudo na área e o futuro, com certeza, trará muitas outros insights sobre como poderemos aliar a medicina tradicional indiana à medicina personalizada moderna. Uma revisão foi publicada em 2023 sobre o tema, explorando como a integração da medicina ayurvédica com a genômica moderna pode abrir novas possibilidades para tratamentos personalizados e de precisão.
A abordagem, batizada de Ayurgenômica, é uma tentativa de combinar o profundo conhecimento da medicina tradicional indiana com as tecnologias avançadas da biologia molecular, permitindo personalizar tratamentos médicos de acordo com o perfil genético e biológico de cada paciente.
Principais conceitos abordados:
Ayurveda e Genômica: Ayurveda, uma das mais antigas práticas médicas, enfatiza o equilíbrio entre corpo, mente e espírito, com tratamentos baseados no tipo constitucional do indivíduo (dosha). A genômica, por outro lado, investiga o código genético humano, permitindo compreender melhor as predisposições genéticas e os fatores de risco para diversas doenças. Quando esses dois campos se unem, surge a Ayurgenômica, que procura personalizar o tratamento médico considerando não só a herança genética, mas também as características individuais do paciente conforme os princípios da Ayurveda.
Frameworks de Medicina Integrativa: A medicina integrativa visa combinar o melhor da medicina convencional com terapias complementares, visando um tratamento holístico. A Ayurgenômica representa um exemplo dessa integração, propondo que a análise genética possa ser utilizada para otimizar abordagens ayurvédicas e vice-versa, oferecendo benefícios como maior precisão nos diagnósticos e tratamentos mais eficazes.
Oportunidades Translacionais: O artigo discute as oportunidades de tradução da pesquisa em Ayurgenômica para a prática clínica, destacando como o avanço da genômica pode melhorar a compreensão dos mecanismos biológicos que explicam os tratamentos ayurvédicos. Também são abordados os desafios dessa integração, como a necessidade de mais estudos clínicos e de validação das abordagens terapêuticas personalizadas.
Impacto na Medicina de Precisão: A combinação entre Ayurveda e genômica pode levar a uma medicina mais precisa, na qual tratamentos podem ser ajustados com base nas características genéticas, epigenéticas e ambientais de cada paciente, promovendo uma abordagem mais eficaz e menos propensa a efeitos colaterais.
O artigo conclui que a Ayurgenômica oferece uma oportunidade única para inovar na medicina de precisão, combinando saberes tradicionais com avanços tecnológicos. Embora ainda haja muitos desafios pela frente, como a integração de dados genômicos com os princípios da Ayurveda, o campo está em crescimento e promete contribuir significativamente para a medicina personalizada e integrativa no futuro (Mukerji, 2023).
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