As intolerâncias alimentares são reações adversas do organismo à ingestão de determinados alimentos, conservantes ou aditivos presentes na dieta. São um grupo de condições em que o sistema imunológico não está envolvido, ou seja, não respondem a um processo alérgico. Estima-se que até 20% da população geral experimentará uma reação adversa desse tipo ao longo de suas vidas.
As intolerâncias alimentares podem ter bases muito diversas: erros enzimáticos, falhas metabólicas, mutações genéticas, disbiose intestinal, doença inflamatória intestinal, consequência de uso de medicações. A intolerância alimentar mais conhecida é a intolerância à lactose, mas existem outros tipos de intolerância como àquela relacionada ao glúten e a intolerância à frutose.
O que é intolerância à frutose?
Existem dois tipos de intolerância à frutose: (1) intolerância oral à frutose e (2) intolerância hereditária à frutose.
A Intolerância oral à frutose também é conhecida como síndrome de má absorção de frutose. É um distúrbio digestivo em que as células do intestino delgado são incapazes de transportar e digerir este tipo de açúcar. Como resultado surgem náuseas, inchaço, gases, diarreia, vômitos, fadiga crônica e outras má absorção relacionadas. Estima-se que 40 a 60% da população sofra desse tipo de intolerância em maior ou menor grau, mas muitas vezes é confundido com muitos outros distúrbios digestivos.
Esta condição tem sido associada às seguintes causas:
Desequilíbrio da flora bacteriana intestinal.
Alta ingestão de alimentos ultraprocessados.
Existência de condições prévias associadas à má absorção de nutrientes, como síndrome do intestino irritável, doença de Crohn, colite e doença celíaca.
Inflamação intestinal.
Estresse.
O diagnóstico dessa condição é muito semelhante ao da intolerância à lactose, pois geralmente é usado um teste de hidrogênio para detectá-la. Se os níveis de hidrogênio exalados após a ingestão de um alimento rico em frutose estiverem altos, é mais provável que esse açúcar não esteja sendo bem absorvido no intestino. A dieta de eliminação (eliminando alimentos suspeitos por 2 a 3 semanas) também pode ajudar a estabelecer a causalidade.
O controle da má absorção de frutose envolve eliminar da dieta alimentos ricos em açúcar, como refrigerantes, algumas frutas, sucos de maçã, pêra e pêssego, mel, xarope de milho e muitos doces (sorvetes, doces e bolos) com adição de açúcares. A maioria dos pacientes tolera entre 10 e 15g de frutose ao dia, mas isto depende da função intestinal individual. É fundamental fazer essa transição nutricional com a ajuda de um profissional da área para evitar deficiências a longo prazo. Não recomenda-se alimentos com mais de 3g de frutose por 100g de produto.
A Intolerância hereditária à frutose (frutosemia) é um erro inato do metabolismo da frutose, causado por deficiência da enzima aldolase B (gene ALDOB). É uma doença genética e potencialmente perigosa, muito mais relevante clinicamente do que a má absorção clássica. Atinge aproximadamente 1 em cada 20.000 pessoas.
A enzima aldolase B é encontrada principalmente no fígado e participa do metabolismo da frutose e sua posterior conversão em energia. Mutações hereditárias no gene ALDOB reduzem a funcionalidade da aldolase B, impedindo assim a degradação correta da frutose. Isso leva ao acúmulo de frutose-1-fosfato no fígado, um evento tóxico que causa a morte das células desse órgão ao longo do tempo. Além disso, a falta de açúcares disponíveis no nível celular também afeta outros sistemas de outras maneiras.
Os sinais clínicos iniciais de intolerância hereditária à frutose são semelhantes aos de muitos outros problemas digestivos e incluem náuseas, diarreia, vómitos e dor abdominal. Por outro lado, os sintomas a longo prazo associados a problemas no fígado e outros sistemas. Estes se manifestam como convulsões, irritabilidade, sono excessivo, icterícia (coloração amarelada da pele e mucosas), retardo do crescimento em bebês e crianças, dor abdominal.
O exame físico costuma ser o primeiro passo no diagnóstico dessa patologia, pois é possível detectar aumento do fígado e baço e icterícia por meio de observações superficiais. No entanto, outros testes específicos são necessários para confirmar essa intolerância hereditária: estudos enzimáticos, testes genéticos, testes de glicemia, exames de sangue de ácido úrico, testes de coagulação do sangue e muito mais.
INTOLERÂNCIA HEREDITÁRIA À FRUTOSE
O tratamento desta patologia depende do seu estágio e da gravidade dos sintomas. Nos casos em que não há sinais de intoxicação, geralmente opta-se por uma dieta que reduza o consumo de frutose e outras substâncias associadas (como frutanos, sacarose, sorbital) a no máximo 1 a 2 gramas ao dia. Muitas vezes, a administração de certos suplementos é necessária para evitar deficiências nutricionais derivadas da mudança na dieta. Por isso, é sempre aconselhável contar com a ajuda de um nutricionista especializado.