Depressão, ansiedade e modulação intestinal

O ‘microbioma’ é o termo para a vasta ecologia de microrganismos e seus genes, vivendo em relação simbiótica no intestino dos humanos. Um microbioma saudável é como uma extensão do genoma que fez parte do nosso desenvolvimento hereditário evolutivo, tornando-o parte fundamental do ser humano.

Existem genes no microbioma que são necessários para codificar partes fundamentais da fisiologia humana e que não fazem parte do nosso genoma. Ou seja, nosso genoma sozinho não é adequado para administrar um ser humano. O genoma e o microbioma juntos contêm todos os genes necessários para toda a nossa síntese proteica. Pesquisas mostram também que as bactérias intestinais podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento do cérebro, comportamento e humor em humanos.

A variedade de doenças e processos de doenças nos quais a microbiota está envolvida, incluindo transtornos psiquiátricos e neurodegenerativos, dor, ansiedade, estresse, síndrome do intestino irritável (SII), derrame, compulsão e obesidade (Cryan et al., 2019)

Microbioma e depressão

A depressão afeta cerca de 4,4% da população mundial. Correlaciona-se com aumento nas citocinas pró-inflamatórias, que por sua vez ativam o eixo HPA possivelmente acentuando sua hiperativação associada à depressão. Terapias eficazes para a depressão anulam a resposta inflamatória intensificada e diminuem a ativação do eixo HPA.

Há evidências crescentes de um papel para o eixo microbiota-intestino-cérebro na depressão. Vários estudos em humanos encontraram diferenças na microbiota fecal em pacientes com depressão quando comparados com controles saudáveis. O Flemish Gut Flora Project, realizado na Bélgica examinou a composição da microbiota de mais de 1.000 indivíduos. Curiosamente, aqueles que tinham depressão, ou menor escore de qualidade de vida, possuiam menor abundância relativa do gênero Faecalibacterium, além de uma carga microbiana geral reduzida. Em uma análise mais profunda, os pesquisadores descobriram que havia uma associação entre as bactérias que produzem o butirato (Faecalibacterium e Coprococcus) e indicadores de qualidade de vida mais elevados.

Um estudo de intervenção probiótica usando uma cepa de L. casei descreveu melhorias nas classificações de humor em uma coorte de idosos saudáveis ​​após o tratamento, com maior benefício para aqueles que tinham humor inferior no início do estudo. Outros estudos mostram efeitos benéficos com diferentes combinações de bactérias, incluindo L. acidophilus, L. casei, B. bifidum, L. rhamnosus, L. helveticus, B. longum, L. plantarum.

Em pesquisa publicada e 2018 (ver imagem), um grupo recebeu placebo, outro grupo recebeu 10bi UFC de L. Helveticus e B. longum (bactérias probióticas) e um terceiro grupo recebeu Galactoligossacarídeos (B-GOS), que são fibras prebióticas. Após 8 semanas, o que foi observado, foi que os sintomas depressivos foram reduzidos principalmente nos pacientes que receberam probióticos. Além disso, os indivíduos que receberam as bactérias boas tiveram uma melhor relação kinurenina/triptofano.

Outros estudos mostram que a cepa Bifidobacterium breve CCFM1025 é capaz de reduzir comportamentos associados à depressão em camundongos (Tian et al., 2020) e humanos (Tian et al., 2022). Um dos mecanismos pode ser a modificação do metabolismo do triptofano.

Rotas bioquímicas do triptofano

O triptofano é um aminoácido que pode entrar em duas rotas bioquímicas diferentes. Na primeira rota, triptofano junta-se com B6 e vira serotonina e depois melatonina. A segunda rota é a via do ácido kinulínico. Essa via serve para várias coisas importantes, mas se o triptofano segue para cá menos serotonina será produzida.

O que acontece é que se a pessoa está inflamada há maior atividade da enzima indolamina 2-oxigenase. Essa enzima desvia então o triptofano para esa via. Quanto maior a taxa kinurenina/triptofano mais kinurenina temos no cérebro e menos triptofano. Nos que receberam probiótico houve redução dessa taxa. Ou seja, as bactérias boas reduzem inflamação e mais triptofano vira serotonina (tanto no intestino quanto no cérebro). E bactéria boa também produz triptofano!

Ansiedade e modulação intestinal

Um probiótico multi-cepa [S. thermophilus (2 cepas diferentes), L. bulgaricus, L. lactis subsp. lactis, L. acidophilus, L. plantarum, B. lactis, L. reuteri] parece ter efeitos ansiolíticos. Já os B-GOS melhorou significativamente os níveis de ansiedade em indivíduos com síndrome do intestino irritável. Um trabalho intrigante identificou o Lactobacillus plantarum DR7 como um possível psicobiótico, onde alivia a ansiedade e os sintomas associados ao estresse.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/