O maior estudo de associação genômica realizado até hoje sobre o uso de cannabis foi conduzido pela equipe de cientistas do International Cannabis Consortium. Com base em mais de 180.000 participantes, a pesquisa revelou dados fascinantes sobre como nossos genes podem influenciar o comportamento relacionado ao uso da planta, e até mesmo como ele se conecta a condições psicológicas e psiquiátricas (Pasman et al., 2018).
Os pesquisadores descobriram que pessoas com maior risco genético para esquizofrenia também são mais propensas a usar cannabis. A análise genômica identificou 35 genes associados ao uso de cannabis, com destaque para o gene CADM2, já relacionado ao comportamento de risco, personalidade e uso de substâncias como álcool.
Jacqueline Vink, da Radboud University e principal autora do estudo, comentou: “O CADM2 já foi associado a comportamento de risco, personalidade e uso de álcool”, destacando a relevância deste gene na pesquisa sobre o uso de cannabis.
Outro achado importante do estudo foi a sobreposição genética entre o uso de cannabis e o risco de esquizofrenia. Os pesquisadores descobriram que pessoas com maior risco genético para esquizofrenia têm maior probabilidade de usar cannabis. Além disso, uma sobreposição também foi observada entre o uso de cannabis e tipos de personalidade propensos a comportamentos mais arriscados ou extrovertidos.
A Relação Genética Entre Cannabis e Esquizofrenia
Um dos principais achados do estudo é a relação causal entre o risco genético para esquizofrenia e o uso de cannabis, estabelecida por meio de uma técnica chamada randomização mendeliana. Esse resultado sugere que indivíduos predispostos a desenvolver esquizofrenia podem recorrer ao uso de cannabis como uma forma de automedicação. No entanto, os pesquisadores também consideram a possibilidade de que uma predisposição genética para o uso de cannabis possa, de alguma forma, contribuir para o aumento do risco de esquizofrenia.
A Metodologia: Uma Grande Amostra de Dados
Para este estudo, os cientistas utilizaram dados do UK Biobank e de clientes da 23andMe que consentiram em participar da pesquisa, além de dados de 16 outras coortes menores. O estudo incluiu uma vasta gama de participantes e teve a contribuição de pesquisadores da Radboud University, QIMR Berghofer Medical Research Institute (Austrália), Virginia Commonwealth University (EUA), e outros 17 grupos de pesquisa da Europa, América do Norte e Austrália.
Próximos Passos: Investigando o Uso e Vício em Cannabis
A pesquisa ainda está em andamento. A equipe já está explorando quais genes específicos influenciam a frequência do uso de cannabis e a quantidade consumida, aprofundando o entendimento sobre os mecanismos genéticos envolvidos no vício e na dependência dessa substância.
O estudo oferece uma nova perspectiva sobre como fatores genéticos podem interagir com comportamentos de risco e condições psiquiátricas, abrindo caminho para tratamentos mais direcionados e informados sobre o uso de cannabis.
Outro estudo, conduzido pela empresa 23andme, sobre o desejo por canábis utilizou dados de 180.000 pessoas para encontrar uma associação entre certas variantes genéticas e o risco de desejo. O estudo descobriu que as pessoas que são mais propensas a serem "utilizadores vitalícios" de canábis também eram mais propensas a desenvolver esquizofrenia e défice de atenção e hiperatividade (TDAH). O estudo afirma, no entanto, que estes fatores genéticos podem contribuir para apenas 11% de diferença no consumo de canábis entre as pessoas.