O transtorno afetivo bipolar (TAB) é caracterizado por episódios de mania, intercalados com depressão, separados por períodos de humor normal. Os episódios de mania envolvem humor elevado ou irritado, excesso de atividade (aumento da energia e autoestima inflada), menor necessidade de sono, aceleração do discurso (fuga de ideias), diminuição da concentração, desinibição, aumento da libido e da impulsividade, sintomas psicóticos (delírios e alucinações). A mania tem duração mínima de 1 semana, com duração média de 3 a 6 meses (especialmente se o paciente está sem tratamento).
A prevalência de TAB ao longo da vida varia em relação à classificação:
Tipo 1 (mania): 0,6 a 1,5%
Tipo 2 (hipomania - 4 a 14 dias e/ou depressão) e outras formas dentro do espectro (incluindo estados mistos de depressão com mania): 0,4 a 3,8% (dependendo das definições usadas e da população estudada).
A idade média de início do transtorno bipolar fica entre os 12 e 22 anos. Em geral, as pessoas demoram entre 5 a 10 anos para buscarem ajuda e conseguirem um diagnóstico definitivo. A doença é crônica, recorrente e, frequentemente, está associada à outros transtornos psiquiátricos (transtornos de ansiedade, déficit de atenção e hiperatividade, transtornos de personalidade, além de abuso e dependência de álcool e outras drogas). O índice de recorrência anual no TAB fica em torno de 26%. Os sintomas residuais são frequentes.
Os déficits cognitivos estão presentes entre 30 a 60% dos pacientes, acarretando em prejuízos ocupacionais, familiares e pessoais (grande sofrimento). Funções executivas, capacidade de planejamento, memória operacional podem ser afetadas (Mann-Wrobel et al., 2011; Burdkick et al., 2014).
Se o paciente não cuida-se há aumento de mortalidade por doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer. Isto deve-se à maior associação com obesidade, tabagismo e sedentarismo (Kupfer, 2005). O número de mortes por doença cardiovascular costuma ser o dobro do restante da população e há também maior mortalidade por suicídio dentro deste grupo, taxa 30% maior do que na população não afetada (Crump et al., 2013; Laursen et al., 2013; Goldstein et al., 2015).
Os medicamentos estabilizadores de humor são mais eficazes na prevenção da mania do que da depressão. Assim, ao longo do tempo, os pacientes tendem a ficar mais depressivos do que maníacos.
Sintomas da depressão
Tristeza ou irritabilidade
Falta de energia
Apatia ou perda de prazer (anedonia)
Alteração de apetite e peso
Insônia ou hipertonia (sono excessivo)
Perda de concentração
Variação diurna de humor
Diminuição da libido
Retardo ou agitação psicomotora
Pensamentos de culpa e desesperança
Isolamento social
Ideação suicida
A depressão dura pelo menos 2 semanas (média de 6 a 9 meses, com paciente sem tratamento). O acompanhamento psiquiátrico é importante, inclusive para diferenciar de outros transtornos como transtornos orgânicos de humor, transtornos decorrentes de uso de substâncias psicoativas, TDAH, esquizofrenia, transtorno borderline de personalidade. Sem o diagnóstico correto, a medicação prescrita poderá ser ineficaz.
Causas do transtorno bipolar
Fatores ambientais - estresse, traumas, uso de drogas…
Fatores comportamentais ou psicológicos - autoestima, atitudes disfuncionais, comportamentos de enfrentamento etc.
Modificação no cérebro e na produção de neurotransmissores - Phillips et al., 2014
Neuroinflamação - Brietzke et al., 2011
Genética (existe alta herdabilidade para a doença) - Mullins et al., 2021; Stahl et al., 2019
Tratamento medicamentoso
O tratamento de curto prazo tem intenção de reduzir sintomas e o tratamento de longo prazo (ou de manutenção) visa a prevenção de recaídas, a melhoria no funcionamento social e ocupacional (trabalho e estudo).
Medicamentos utilizados no tratamento da mania aguda
1a linha (sonoterapia): lítio, quetiapina, valproato, aripiprazol, paliperidona, risperidona
1a linha (combinação de medicamentos): quetiapina + lítio ou paliperidona / aripiprazol + lítio ou paliperidona / risperidona + lítio ou paliperidona / asenapina + lítio ou paliperidona
2a linha: olanzapina, carbamazepina, olanzapina + lítio ou paliperidona, lítio + valproato, ziprazidona, haloperidol, ECT
Medicamentos utilizados no tratamento da depressão bipolar
Não se usa antidepressivo em sonoterapia na bipolaridade tipo 1. No bipolar tipo 2:
1a linha (combinação de medicamentos): quetiapina, lítio, lamotrigine, lurasidona, lurasidona + lítio ou DVP
2a linha: divalproato, EH + antidepressivos (ISRSs/buporopriona), ECT, olanzapina + fluoxetina
Tratamento de comorbidades
Ansiedade, problemas cardiovasculares e outros precisam também ser tratados, no período de manutenção. O tratamento dependerá justamente das co-morbidades. Abordagens psicoeducacionais, psicoterápicas, remediarão funcional, atividade física, yoga, meditação fazem parte das abordagens e práticas integrativas no transtorno bipolar. Dislipidemias, elevação da glicemia e outras alterações metabólicas exigem acompanhamento dietético. Além disso, entre as causas do TAB está a neuroinflamação. Portanto, dieta antiinflamatória, melhoria do funcionamento intestinal com tratamento da disbiose e uso de fitoterápicos estão entre as estratégias indicadas. O tratamento do transtorno bipolar é complexo. Hoje vou focar nos fitoterápicos e melhoria da microbiota intestinal.
Fitoterápicos no tratamento do TAB
O fitoterápico é um produto farmacêutico obtido através do processamento de matérias-primas ativas vegetais cuja segurança e eficácia são baseadas em evidências clínicas. A forma de prescrição dos medicamentos fitoterápicos é muito diversificada, contando com chás, cápsulas, comprimidos, xaropes, decocção, infusão, entre outros, de acordo com o que mais se adequa a cada paciente.
Estudos mostram que compostos extraídos da cúrcuma e de especiarias podem ajudar no combate à neuroinfalmação.
Curcumina - composto polifenólico não flavonóide extraído do rizoma da cúrcuma (Curcuma longa). A curcumina interage com fatores de transcrição ativados por estressores ambientais e citocinas pró-inflamatórias, proteínas quinases (PKA, PKC), enzimas, fatores de crescimento, mediadores inflamatórios e proteínas anti-apoptóticas (Bcl-XL). As propriedades antiinflamatórias e antioxidantes da curcumina, associada ao poder de elevar BDNF (fator neurtrófico derivado do cérebro), fazem da curcumina uma ótima candidata na prevenção de danos cognitivos.
Cacau - contém feniletilaminas e magnésio que reduzem sintomas depressivos.
O TAB tem um gerencialmente complexo e a psicoterapia é fundamental. Falar sobre sentimentos reduz a ansiedade e ajuda no gerenciamento da medicação. Indico a Julia Maciel, psicóloga formada pela UnB e que atende online, por videoconferência. Atividade física, meditação, acupuntura e yoga também vêm mostrado-se importantes complementos ao tratamento tradicional medicamentoso. Cuide-se!
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