Temos uma tendência grande a pensarmos nos alimentos unicamente em termos de composição de nutrientes. A laranja é fonte de vitamina C, o leite é fonte de cálcio, o feijão é fonte de ferro, o mamão é fonte de carotenos, o pão da padaria contém glúten. Também é muito comum avaliarmos os alimentos como sendo muito ou pouco calóricos, bons ou ruins, engordativos ou emagrecedores. Só que essa abordagem redutora da comida tem tirado o prazer de muitas famílias. Comer significa partilha, significa aprendizado, significa amor, significa tanto em nossas vidas e muito mais do que este ou aquele nutriente.
A abordagem redutora da comida é o que muitos pesquisadores chamam de nutricionismo. As pessoas passam a olhar para um aspecto apenas do alimento. Por exemplo, fruta tem açúcar na forma de frutose, então faz mal. Esquecem-se que a quantidade de frutose nas frutas é muito inferior do que à da lata da coca-cola. Esquecem-se que frutas também têm vitaminas, minerais, fibras, fitoquímicos. E que tem cheiros, sabores de histórias. A manga, por exemplo, faz parte das minhas lembranças de infância, quando passava o verão a correr pelo jardim, a trepar em árvores e a comer frutas direto da mangueira, sempre que sentia fome ou vontade.
A maior parte do conteúdo sobre nutrição nas redes sociais é disponibilizado por pessoas leigas. Abundam vídeos com o título “o que como em um dia”, “o que como em uma semana”, “como perdi 10 kg”, etc. Pessoas bem intencionadas e com pouco conhecimento espalham meias verdades e criam pânico. Batatas contém carboidratos? Não pode. Assim, legiões de meninas de 12 anos passam a preocupar-se com peso, calorias, estética e depois, levam uma vida inteira de sofrimentos. Se as batatas te preocupam, deveria ser por outras questões.