FILOSOFIA DA ALIMENTAÇÃO - PARTE 1: UTILITARISMO

Você já parou para pensar no que está por trás do que colocamos no prato? Há uma teoria filosófica chamada utilitarismo que pode nos ajudar a refletir sobre isso. Segundo pensadores como Jeremy Bentham e John Stuart Mill, uma ação é boa se promove felicidade e ruim se causa sofrimento. Em resumo? Devemos agir sempre buscando o maior bem-estar possível.

E o que isso tem a ver com o nosso jantar?

Para o filósofo Peter Singer se um ser sente dor, temos responsabilidade moral por ele. Isso significa que, antes de cozinhar uma lagosta viva, deveríamos nos perguntar: ela sente dor? Pesquisas dizem que sim — assim como peixes, caranguejos e tantos outros animais. Então… é ético jogá-la viva na água fervente?

Kant, outro grande filósofo, também fala de responsabilidade moral. Mas ele olha por outro ângulo: a razão. Somos agentes morais porque conseguimos pensar, refletir e decidir. Então, o que deve guiar nossas ações — a dor dos outros ou a nossa razão?

Essas perguntas são centrais no documentário Food Inc., que expõe os bastidores da indústria alimentícia. O filme revela que muitos dos alimentos que consumimos são produzidos em sistemas que priorizam eficiência e lucro — muitas vezes às custas do sofrimento animal e de condições humanas degradantes.

Sabia que hoje uma galinha atinge o peso de abate em metade do tempo em comparação com 1950? Elas crescem tanto e tão rápido que mal conseguem ficar de pé. Mas o mercado quer peitos de frango grandes, e a indústria entrega.

No caso das vacas, elas não se alimentam mais apenas de grama — o alimento natural para elas. Hoje, são alimentadas com milho e soja, grãos mais baratos, subsidiados pelo governo. Mas isso causa doenças, que são tratadas com antibióticos em massa, gerando o risco de superbactérias resistentes.

O sistema alimentar industrial também depende da mão de obra barata, que recebe salários baixos, enfrenta condições de trabalho precárias e tem acesso a poucos direitos. Isso nos leva a outra questão ética: podemos aceitar esse modelo sabendo do sofrimento humano envolvido?

Não se trata de demonizar toda a produção moderna. A tecnologia permitiu alimentar muito mais gente do que no passado. Mas será que é possível produzir comida em grande escala sem abrir mão de ética, compaixão e responsabilidade?

Filosofia não é só teoria: é um convite à ação.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/