Brasil tem mais de 10 milhões de doentes com insuficiência renal crônica. É como se toda a população de Portugal tivesse problemas sérios nos rins. O problema é que esse órgão essencial à saúde não reganha sua função uma vez que ela foi perdido. O resultado é um acúmulo enorme de toxinas, podendo ser fatal.
Infelizmente, grande parte dos pacientes só se dá conta da doença quando as únicas soluções são diálise ou transplante de rins. Quando os rins não funcionam bem a pessoa pode ter náuseas, vômitos, inchaço, pode urinar pouco ou em excesso, pode sentir cansaço. Se você tem estes sintomas de forma frequente analise sua taxa de filtração glomerular (exame de sangue).
Prevenção das doenças renais
Manter peso saudável
Adotar dieta antiinflamatória
Reduzir consumo de carne, sódio, alimentos enlatados, refrigerante
Manter-se fisicamente ativo
Controlar a glicemia / Tratar o diabetes
Hidratar-se bem
Evitar gorduras ruins (falo da lipotoxicidade abaixo) e controlar o colesterol
Manter pressão saudável sob controle
Não utilizar drogas que danificam os rins, sem acompanhamento médico
Dieta baseada em vegetais e função renal
É comum as pessoas consumirem alimentos de origem animal em todas as refeições, incluindo leite, queijo, iogurte, carnes frescas, carnes processadas e ovos. Mas para a proteção renal o que funciona mesmo é uma dieta com menos alimentos de origem animal e mais de origem vegetal.
Uma dieta baseada em vegetais protege os rins contra cálculos renais, inflamação renal e acidose, bem como doenças cardíacas. Isso é fundamental pois pressão alta e alterações nos níveis de colesterol também são fatores de risco para a doença renal. Já dietas vegetarianas com muito potássio e magnésio favorecem o controle da pressão. Estas dietas também são ricas em fibras e fitoestrógenos que ajudam a controlar os níveis de gordura no sangue.
Por fim, dietas estritamente baseadas em vegetais também podem ajudar a atrasar a diálise em um a dois anos e, após o transplante renal, podem melhorar a sobrevivência do rim e do paciente.
Evitar alimentos ultraprocessados
Alimentos ricos em gorduras também geram mais inflamação renal e degeneração gordurosa, o que é conhecido como lipotoxicidade. Alimentos ultraprocessados são formulações industriais feitas inteiramente ou majoritariamente de substâncias extraídas de alimentos (óleos, gorduras, açúcar, amido, proteínas), derivadas de constituintes de alimentos (gorduras hidrogenadas, amido modificado) ou sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes).
Exemplos citados no Guia alimentar para a população brasileira (2014) incluem biscoitos, sorvetes, balas e guloseimas em geral, cereais açucarados para o desjejum matinal, bolos e misturas para bolo, barras de cereal, sopas, macarrão e temperos ‘instantâneos’, molhos, salgadinhos “de pacote”, refrescos e refrigerantes, iogurtes e bebidas lácteas adoçados e aromatizados, bebidas energéticas, produtos congelados e prontos para aquecimento como pratos de massas, pizzas, hambúrgueres e extratos de carne de frango ou peixe empanados do tipo nuggets, salsichas e outros embutidos, pães de forma, pães para hambúrguer ou hot dog, pães doces e produtos panificados cujos ingredientes incluem substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar, amido, soro de leite, emulsificantes e outros aditivos. Todos estes devem ser evitados para reduzir o risco de doença renal.
Cuidados importantes em relação à dieta
Pacientes com alterações da função renal facilmente acumulam fósforo no organismo. E o fósforo estão na membrana de todas as células, animais e vegetais (lembra da membrana fosfolipídica celular?). Acumulam também mais potássio. Por isso estes dois minerais precisam ser avaliados periodicamente.
É interessante que o fósforo na carne é absorvido cerca de duas vezes mais facilmente que o de origem vegetal (mais um motivo para adotar uma dieta baseada em plantas). Além disso, muitos alimentos (como presunto, mortadela, e outras carnes processadas) recebem aditivos de fósforo. Assim, como alimentos industrializados (o refrigerante, por exemplo, é riquíssimo em fósforo).
O excesso de fósforo no organismo pode provocar calcificação cardiovascular, calcificação dos tecidos moles, osteopenia (diminuição da massa óssea), anemia, hipertensão, coceira (pode levar a lesões cutâneas graves) e disfunção sexual, além de confusão mental e sensação de peso nas pernas. O tratamento é feito à base uma dieta com baixo teor de fósforo e uso de medicamentos para aumentar a excreção desta substância.
A preocupação com o potássio é amplamente teórica porque os efeitos alcalinizantes dos alimentos vegetais ajudam o corpo a excretar o potássio, mas não é teórica para aqueles em diálise ou com doença em estágio terminal que precisam ser acompanhados de perto por um nutricionista especialista em rins.
Lipotoxicidade e doenças renais
Altas quantidades de gordura e o colesterol na corrente sanguínea são tóxicos para vários órgãos, inclusive para os rins. Dada a conexão entre o colesterol e o declínio dos rins, o uso de estatinas para baixar o colesterol tem sido recomendado para retardar a progressão da doença renal. Contudo, isto gera efeitos colaterais, como déficit energético. Uma opção é a suplementação de levedura de arroz vermelho.
A capacidade da gordura deteriorar o rim depende de sua absorção
Quanto menos fibras um paciente consome mais gordura absorve. A biodisponibilidade das gorduras também é afetada pela microbiota intestinal. Se a microbiota é boa os lipídios são melhor tolerados. A lipotoxicidade surge como consequência do acúmulo de intermediários lipídicos biossintéticos, como ceramidas e diglicerídeos, em tecidos não adiposos e induz estresse oxidativo, inflamação, disfunção mitocondrial e, em última instância, morte celular. Estudos recentes demonstraram que as proteínas de soja e as isoflavonas de soja são capazes de diminuir a lipotoxicidade, modulando a secreção de insulina e diminuindo o acúmulo de ceramidas.
Outro mecanismo pelo qual o desequilíbrio lipídico torna-se tóxico é a peroxidação lipídica. Os peróxidos lipídicos são compostos altamente reativos, que geram maior risco de doenças. Resultam de reações de peroxidação enzimática e não enzimática (“Química de Fenton”) de lipídios.
Uma dieta rica em antioxidantes é muito importante para a prevenção da peroxidação lipídica (perda de elétrons pelo ataque dos radicais livres. Mais uma vez, a dieta mais rica em antioxidantes é aquela baseada em plantas e cheia de condimentos como orégano, cominho, açafrão, gengibre, hortelã, cravo e canela.