Ovários policísticos x Síndrome dos Ovários Policísticos

Ovários policísticos são cistos nos ovários. Um cisto ovariano é o acúmulo de líquido dentro do órgão. A maioria dos cistos ovarianos ocorre como parte do processo de ovulação, os chamados cistos funcionais. Esses cistos geralmente desaparecem em alguns meses sem qualquer tratamento. Caso uma mulher apresente um cisto, o médico solicitará um retorno após seu próximo ciclo menstrual para acompanhamento.

Um cisto no ovário pode ser mais preocupante quando a mulher não ovula mais, por exemplo, após a menopausa ou em uma menina que ainda não menstruou. Nestes casos, serão solicitados exames, principalmente se o cisto for grande e não desaparecer em poucos meses. Embora a maioria dos cistos seja benigna, uma pequena porcentagem pode ser maligna. Às vezes, a única maneira de saber com certeza se o cisto é maligno é removê-lo cirurgicamente.

Já a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é caracterizada por cistos ovarianos associados à modificações hormonais e sintomas como acne, queda de cabelo, resistência à insulina, aumento da testosterona, fadiga, ganho de peso. Ou seja, como o próprio nome indica é uma síndrome, algo crônico e que exige uma mudança completa de estilo de vida.

Tem SOP aquela mulher que apresenta pelo menos 2, entre 3 critérios usados para o diagnóstico:

( ) Cistos nos ovários - 12 ou mais folículos medindo entre 2 e 9 mm de diâmetro e/ou aumento do volume ovariano (> 10 cm3)
( ) Ciclos menstruais irregulares, anovulatórios ou ausentes (amenorreia ou oligomenorreia)
( ) Hiperandrogenismo (que pode ser diagnosticado por alterações hormonais no exame de sague ou por sintomas clínicos como acne, queda de cabelo e excesso de pelos no rosto e no corpo)

Genética e SOP

Diferentes genes específicos foram identificados até agora como associados a esta doença, como THADA, INSR, DENND1A e TOX3. O gene THADA foi inicialmente idenficado como fator de risco para câncer de tireoide, mas o snp rs12478601 tem sido estudado para risco de SOP. Mulheres com o genótipo CC possuem menor risco de síndrome metabólica e respondem melhor à metformina. O INSR é o gene que codifica para o receptor de insulina. Alterações neste gene (rs2059807) associam-se com a SOP. Para o esta variação os genótipos GG e AG apresentam maior risco de SOP que o mulheres AA.

O gene TOX3 codifica para uma proteína da família box. Alterações neste gene (rs4784165) relacionam-se com a susceptibilidade ao câncer de mama e também à SOP, apesar dos mecanismos não serem bem compreendidos. Mulheres GG ou GT apresentaram maior resistência à insulina do que aquelas com o genótipo TT. Por fim, o gene DENND1A envolvido na permeabilidade das membranas também tem sido estudado. O alelo G do SNP rs2479106 foi associado a maior relação cintura/quadril e níveis mais altos de colesterol LDL. Também confere maior risco à SOP (Tian et al., 2020).

Alimentação e SOP

Mudanças epigenéticas e alterações negativas no estilo de vida contribuem para o desenvolvimento dos distúrbios fisiopatológicos comuns da SOP (hiperandrogenismo, resistência à insulina e inflamação crônica).

Epigenética é uma área emergente de pesquisa científica que mostra como as influências ambientais alteram a expressão dos genes. Vários fatores ambientais possuem a capacidade de moldar a saúde e interferir no desenvolvimento de doenças. O microbioma, a atividade física, o consumo de medicamentos e drogas, as relações sociais, a exposição a toxinas (como tabaco) e microorganismos (como vírus) e a dieta alteram a expressão genéitca.

SOP E ENDOMETRIOSE

O útero é revestido por um tecido chamado de endométrio que, a cada ciclo menstrual quando não há concepção, descama e é eliminado na menstruação. Quando parte desse tecido não é eliminada, ela vai para órgãos adjacentes como ovários, trompas, intestinos, bexiga, apêndice e vagina. Ou seja, o tecido endometrial está fora do útero. Isto é a endometriose.

Mulheres com SOP possuem menor risco de desenvolver endometriose. O endométrio é o preparo do útero para a gravidez. A mulher com SOP possui menos ovulações. Prepara menos vezes a mulher para a gravidez por isso o endometrio se desenvolve menos. O que há em comum nas duas doenças é a diminuição da fertilidade. Na SOP acontece por conta da redução da ovulação .

A endometriose é a principal causa de infertilidade feminina, sendo que entre 30% e 40% das mulheres que sofrem de endometriose têm infertilidade. Já entre as mulheres inférteis, 50% delas são diagnosticadas com a doença. Devido a esse tecido endometrial que se concentra em diferentes partes do aparelho reprodutivo feminino ocorrem mudanças na anatomia desses órgãos conforme o processo inflamatório se agrava. É justamente essa alteração anatômica que provoca a infertilidade feminina em mulheres acometidas com a patologia.

Entretanto, algumas mulheres com endometriose ainda em estágios iniciais também podem apresentar infertilidade. Da mesma forma, nem todas as mulheres diagnosticadas com a doença têm dificuldade para engravidar. 

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/