Epidemiologia positiva

Há 20 anos o psicólogo Martin Seligman criou o termo "psicologia positiva", ciência que busca entender como as pessoas normais florescem sob condições adequadas. O movimento da psicologia positiva mudou a maneira de pensarmos sobre a promoção à saúde e estimulou outros cientistas a repensarem também suas áreas de atuação.

Por exemplo, a epidemiologia, ramo da ciência que lida com a distribuição e os determinantes de doenças e saúde também poderia beneficiar-se de um reequilíbrio de prioridades. A ênfase da epidemiologia sempre foi a redução dos elementos negativos da saúde. Epidemiologistas tendem a fazer perguntas sobre o que causa uma doença, como as mesmas espalham-se e assim por diante.

Falta na epidemiologia expandir os estudos sobre o que promove a saúde como a família, as práticas religiosas, a educação, o trabalho e assim por diante. Além da preocupação com a saúde física, as pessoas também preocupam-se em serem felizes, sentirem-se bem. E o que faz com que sintam-se de fato em harmonia e possam viver vidas mais plenas, cheias de vitalidade e longevidade positiva?

Ignorar nos estudos os aspectos positivos faz com que a ciência tire conclusões míopes. A imunidade não sofre apenas porque o corpo entrou em contato com vírus. As emoções, por exemplo, também possuem grande impacto no sistema imune. Por isso é tão importante estudar felicidade, saúde mental, significados, valores, relacionamentos, assim como é importante avaliar o Índice de Massa Corporal, a pressão arterial e os níveis de colesterol.

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O caso do coronavírus nos mostrou o tanto que é importante a epidemiologia tradicional e a rapidez na compreensão dos problemas de saúde. Contudo, precisamos avançar e o que discutem os pesquisadores de Harvard, em artigo publicado em março de 2020 na revista Epidemiology. Os autores propõe que 12 questões curtas, em 6 domínios na vida, sejam respondidas para aprimorar as técnicas da epidemiologia (VanderWeele et al., 2020).

Ou seja, além do pesquisador e profissional de saúde perguntar sobre hábitos de alimentação, atividade física, doenças, tabagismo, consumo de álcool etc., também incluirá questões como satisfação com a vida, saúde mental, sentido, propósito, contentamento com as relações, preocupações, segurança alimentar, dentre outros aspectos. Estes tópicos não deveriam ser deixados para psicólogos e nutricionistas? Uma coisa não invalida a outra. O que se quer é justamente é maior diálogo entre as disciplinas.

Referência: VanderWeele, T.J., Chen. Y., Long, K.N., Kim, E.S., Trudel-Fitzgerald, C., Kubzansky, L.D. (2020). Positive epidemiology? Epidemiology, 31:189-193.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/