A doença de Alzheimer é a maior causa de demência na velhice. Dois marcadores histopatológicos do Alzheimer são a deposição de placas de β-amilóide e de emaranhados de proteína TAU hiperfosforilada no cérebro.
Pesquisadores acreditam que muitos fatores podem influenciar o início e a progressão da doença, como o envelhecimento, a herança genética (gene APOE4, gene TREM2, gene APP na trissomia do cromossomo 21), assim como fatores ambientais e de estilo de vida.
Com o envelhecimento há atrofia de certas partes do cérebro, neuroinflamação, produção de maior quantidade de radicais livres e distúrbios na produção de energia dentro das células. Contudo, não há um exame que possamos fazer para que possamos saber como está o cérebro neste momento (com mais ou menos amilóide? Mais ou menos inflamado?)
Porém, estudos mostram cada vez mais que condições oculares (glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética) estão ligadas a um maior risco de Alzheimer e outras formas de transtornos neurocognitivos. Já a catarata não parece ter a mesma ligação.
Glaucoma, degeneração macular relacionada à idade e retinopatia diabética também estão muito ligadas às doenças cardiovasculares. No glaucoma, há aumento da pressão no olho que pode levar à perda da visão. Tem sido associada à hipertensão arterial, diabetes e má circulação sanguínea. A degeneração macular relacionada à idade envolve a quebra da mácula, a parte da retina responsável pela visão central aguda. Também tem sido associada a doenças cardíacas.
A retinopatia diabética ocorre em pessoas com diabetes, quando níveis elevados de açúcar no sangue danificam os vasos sanguíneos da retina. Existem fortes ligações entre diabetes e problemas cardiovasculares. Já a catarata - turvação das lentes dos olhos - tem maior probabilidade de se desenvolver à medida que as pessoas envelhecem. No entanto, eles não parecem aumentar o risco de doença cardiovascular, doença de Alzheimer ou outros tipos de demência.
O estudo Adult Changes in Thought, que começou em 1994, incluía 5400 adultos livres de demência. Os participantes foram acompanhados até decidirem sair do estudo, morrerem ou desenvolverem demência. A pesquisa publicada na revista científica Alzheimer & Dementia analisou dados retirados deste estudo. Desta vez, os pesquisadores se concentraram em 3.800 desses participantes, com e sem doença ocular no início do estudo. Cerca de 792 deles desenvolveram demência (Lee et al., 2019).
Os autores do estudo descobriram que pessoas com degeneração macular relacionada à idade eram 20% mais propensas a desenvolver demência em comparação com pessoas que não tinham a doença ocular. Pessoas com retinopatia diabética foram 44% mais propensas a desenvolver demência do que aquelas sem. Pessoas no estudo com um diagnóstico recente de glaucoma - mas não participantes com doença estabelecida - tiveram uma taxa de demência 44% maior. Não está claro por que houve diferença entre pessoas com doença nova ou existente.
Embora essas descobertas mostrem uma ligação entre três doenças oculares e riscos cerebrais, uma questão importante permanece: o que essa informação significa ? Um exame oftalmológico pode dizer se você está destinado a desenvolver demência no futuro? Mais importante, isso pode ajudá-lo a evitar isso? Ainda não sabemos, talvez sim. De qualquer forma, os exames oftalmológicos são valiosos na detecção precoce de doenças oculares, para que possam ser tratados e para que riscos metabólicos (como hipertensão, hiperglicemia ou diabetes e doenças cardiovasculares) sejam rastreados e minimizados.
Hoje, a melhor maneira comprovada para a prevenção da doença de Alzheimer e outras formas de demência é a prevenção das doenças cardiovasculares e do diabetes. Assim, dieta balanceada, manutenção de um peso saudável, prática de atividade física, descanso apropriado, com horas de sono adequadas para o reparo são as estratégias mais importantes a implementar.