Dos 17 aos 24 anos vivi o primeiro amor. Não foi um mar de rosas. Pelo contrário, em uma relação abusiva com alguém 11 anos mais velho desenvolvi traumas e medos que levaram tempo a serem superados. E foram. Mas muita gente apresenta dificuldades maiores e anos ou décadas mais tarde desenvolvem depressão. Como tudo acontece?
O trauma emocional é um tipo de dano psicológico que ocorre como resultado de um ou vários acontecimentos. É acompanhado de dor, sofrimento físico ou emocional e gera uma exacerbação do medo e do estresse. Isso tudo culmina com mudanças físicas no cérebro, que acabam afetando o comportamento e a forma de pensar.
O trauma é um choque esmagador no equilíbrio de uma pessoa. Pode estar ligado a um ataque emocional, físico ou sexual. Também acontece com pessoas que testemunham violências. Quando pensamos em traumas frequentemente pensamos em guerra, estupros, assassinatos, acidentes. Mas até pessoas “bem intencionadas” e até procedimentos médicos mal sucedidos podem traumatizar. Assim como ataques emocionais ou verbais e perdas devastadoras de qualquer tipo.
Quando as pessoas estão traumatizadas, muitas vezes adaptam suas crenças sobre si mesmas ou sobre a vida. Começam a pensar de forma negativa. São comuns frases e pensamentos como “não estou seguro”, “não sou digno de ser amado”, “sou um monstro”, “o amor é perigoso”, “sou um fracasso”, “sou impotente", “sou incompetente”, “nunca serei feliz", “nunca serei bem sucedido", “ninguém gosta de mim", “faço tudo errado", etc. . Tais pensamentos afetam os sentimentos e as ações e contribuem para o desencadeamento da depressão.
Tais pensamentos podem ser verdadeiros no momento do trauma: “não estou seguro". Mas as crenças que se formaram durante um evento traumático são armazenadas e podem ficar repetindo-se mesmo quando a pessoa não encontra-se mais na mesma situação. Quando alguém não tem a chance de expor seus sentimentos (por vergonha, desamparo, falta de apoio) pode carregar crenças limitantes por toda a vida. O pensamento gerado durante o trauma acaba fazendo parte da identidade da pessoa.
As crenças também podem ser irracionais. Por exemplo, digamos que uma criança assiste a mãe ser assaltada e congela de medo. Talvez em sua mente infantil, ela conclua: "sou um covarde". Viver com a crença de que é um covarde pode ser tão doloroso que a criança desenvolve mecanismos de superação que podem ser inadequados. Pode passar a infância tentando provar coragem, brigando com todos os amigos da escola ou envolvendo-se em situações de risco. Quando ganha uma briga ou experimenta um sentimento de euforia ao fazer uma manobra arriscada de bicicleta (e mais tarde de carro) sente-se confiante e a crença “eu sou covarde” é aliviada. Enquanto a pessoa não trabalhar adequadamente a crença limitante, enquanto não superar o sentimento infantil de vergonha por não ter ajudado a mãe pode continuar colocando-se ou colocando os outros em risco.
Em outras situações em que sentir medo, não mostrará a vulnerabilidade. Continuará fingindo ser forte. E atrairá pessoas e situações de acordo com os comportamentos que adota. Não trabalhar traumas pode virar uma bola de neve. O uso de drogas, álcool e a depressão são mais comuns. Perceber que não houve covardia na infância. Que congelar em situações de estresse é normal (e até sábio) liberta para que a pessoa possa se redefinir e fazer novas escolhas.
Outro exemplo: imagine uma criança que é sexualmente agredida por um adulto. Essa criança pode responder ao trauma acreditando “adultos só me amarão se eu proporcionar-lhes satisfação sexual". Não é difícil imaginar que essa criança possa se tornar um adolescente ou adulto sexualmente disponível para muitos. Quando esse método de lidar com o trauma deixar de funcionar (por exemplo, quando a pessoa é pega relacionando-se fora do casamento e um divórcio acontece) a depressão aparece. Esta não surgiu por causa do divórcio. Os problemas iniciaram-se muito antes, com a tentativa de lidar com o trauma original.
As causas de um trauma podem ser muito variadas, assim como as respostas. Cada pessoa responde a um trauma à sua maneira mas é bom estarmos atentos às pessoas que amamos em busca de sinais como tremores, desorientação, ansiedade, pesadelos, irritabilidade, mudanças bruscas de humor, baixa capacidade de concentração, medos, ataques de pânico, tristeza, culpa, vergonha, dores de cabeça, insônia, pensamentos suicidas, evitação de situações cotidianas ou situações que lembrem o evento traumático.
Um profissional especializado na área fará um diagnóstico e a proposta de tratamento. Este poderá envolver terapia (indico a Julia Maciel), uso de medicação, atividade física, meditação, yoga ou outras estratégias para a redução do estresse. Além disso, em casa é importante manter um ambiente seguro, limitar a exposição à mídia, validar medos e preocupações, criar rotinas, fazer planos, manter promessas. A família também pode precisar de acompanhamento já que quanto mais calmos, focados e relaxados estamos mais podemos ajudar quem sofre.