Ômega-3 nos transtornos do neurodesenvolvimento

Transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento. São caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam algum prejuízo pessoal, social, acadêmico ou profissional. Estes transtornos variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle das funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou intelectuais.

Os transtornos de comunicação incluem o transtorno da linguagem, o transtorno da fala, o transtorno da comunicação social, e o transtorno da fluência (gagueira). O transtorno do espectro autista (TEA) caracteriza-se por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo défiicits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento definido por níveis prejudiciais de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade.

Já os transtornos motores do neurodesenvolvimento incluem o transtorno do desenvolvimento da coordenação, o transtorno do movimento estereotipado e os transtornos de tique. Um transtorno específico da aprendizagem é diagnosticado diante de déficits específicos nesta área. Pode ocorrer tanto em pessoas com altas habilidades intelectuais quanto naquelas com deficiência intelectual.

A deficiência intelectual caracteriza-se por déficits em capacidades mentais genéricas, como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência. É uma condição heterogênea com múltiplas causas, como síndromes genéticas (trissomia do cromossomo 21, síndrome de Lesch-Nyhan), aquisição por carência nutricional durante a gestação (como deficiência de iodo) ou traumatismo craniano no período do desenvolvimento.

Uma pessoa ainda pode ter mais de um tipo de transtorno do neurodesenvolvimento simultâneamente. Por exemplo, uma pessoa pode ter autismo e déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). Ou síndrome de Down e autismo. Ou TDAH e um transtorno de aprendizagem.

Os déficits podem resultar em prejuízos no funcionamento adaptativo, de modo que a pessoa não consegue atingir padrões de independência pessoal em um ou mais aspectos da vida diária, como comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e independência pessoal em casa ou na comunidade.

Revisão publicada em 2020 avaliou a suplementação de ômega-3 em transtornos do neurodesenvolvimento como autismo e TDAH (Martins, Bandarra & Figueiredo-Braga, 2020). Os fatores genéticos são muito importantes nestes transtornos mas os fatores ambientais também estão entre as causas cruciais, afetando o neurodesenvolvimento principalmente nos primeiros 1.000 dias de vida da criança. As similaridades clínicas e etiológicas entre TDAH e autismo são marcantes e a prevalência das duas continua a aumentar nos países ocidentais. Uma das hipóteses para este aumento é o contato com toxinas e com uma dieta ocidental rica em alimentos processados, ultraprocessados, fontes de ômega-6 e pobres em ômega-3.

Os ácidos graxos ômega-3 são fundamentais para o desenvolvimento do sistema nervoso. O DHA é rapidamente incorporado no cérebro da criança desde a gestação até o segundo ano de vida. Sem ômega-3 aumenta a incidência de deficiência intelectual, atrasos na aprendizagem, alterações no processamento sensorial e na atividade motora.

Outro tópico de discussão é o fenômeno da neuroinflamação, caracterizado por ativação da micróglia, presença de citocinas inflamatórias e anticorpos no cérebro e maior permeabilidade da barreira hematoencefálica. Por fim, alterações na produção de neurotransmissores inibidores (GABA) e excitatórios (glutamato), além de serotonina e dopamina fazem-se presentes.

O ômega-3 pode ser encontrado em peixes de águas frias e profundas e possui efeito antiinflamatório e regulador do sistema nervoso. Gestante com consumo adequado destes nutrientes dão luz à bebês com maior acuidade visual, desenvolvimento motor e escore cognitivo. Discuto mais sobre o tema nos cursos online sobre autismo e sobre o papel dos nutrientes no cérebro (psiconutrição).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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