Hipertensão na gestação | Causas, consequências, prevenção e tratamento

Pressão ou tensão arterial é o termo que designa a pressão que o sangue exerce na parede das artérias por onde circula. Isto é, as paredes ficam sob tensão, distendidas pela pressão sanguínea. A pressão arterial deve encontrar-se dentro dos valores considerados normais: 120-129 (máxima) e 80-84 (mínima) mmHg. A partir daí está a condição conhecida como hipertensão.

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Quando bem administrada, a pressão alta durante a gravidez nem sempre é perigosa. Mas às vezes pode causar graves complicações de saúde para a mãe e o bebê em desenvolvimento.

A hipertensão na gravidez é mais usual após as 20 semanas de gestação, atinge entre 6 e 8% das gestantes e tem risco aumentado quando um ou mais fatores estão presentes:

  • A grávida ter mais de 35 anos

  • A mulher é obesa ou tem diabetes

  • É a primeira gestação

  • A alimentação é desequilibrada

  • Não se pratica atividade física

  • Há histórico familiar de hipertensão na gravidez

  • A gestante é fumante ou já tinha pressão alta

  • A gestação é múltipla

Tipos de condições de pressão arterial relacionadas à gravidez

  • Hipertensão crônica: quando a mulher já tinha pressão alta ou hipertensão pré-existente antes de engravidar. Isso pode ser chamado de hipertensão crônica e geralmente é tratado com medicação para pressão arterial. Os médicos também consideram a hipertensão que ocorre nas primeiras 20 semanas de gravidez como hipertensão crônica.

  • Hipertensão gestacional: se desenvolve após a 20ª semana de gravidez. Geralmente resolve-se após o parto. Quando diagnosticado antes de 30 semanas, há uma chance maior de progredir para pré-eclâmpsia.

  • Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia sobreposta. A pré-eclâmpsia é uma complicação da segunda metade da gravidez que se manifesta justamente com a elevação da pressão arterial, associada à eliminação de proteínas na urina, acompanhada ou não de sintomas como edema (inchaço) das mãos e rosto, alterações da visão ou dores de cabeça. A maioria das situações corresponde a formas ligeiras da doença, mas cerca de 25% constituem formas graves que, se não detectadas e tratadas precocemente, podem levar à morte da mãe e do bebê.

O que significam os números da pressão arterial?

Vejamos os números 120/80mmHg. O principal e mais alto é a pressão sistólica, que é uma medida da pressão nas artérias quando o coração está batendo ou pressionando o sangue para a frente através do corpo. Neste caso 120mmHg. A pressão diastólica, ou o número mais baixo, é uma medida da pressão sanguínea nas artérias quando o coração está em repouso.

A pressão arterial normal é inferior a 120/80 mm Hg. O que é considerado pressão alta durante a gravidez? Uma pressão arterial maior que 130/90 mmHg ou 15 pontos mais alta do que o número mais alto que a mulher tinha antes de iniciar a gravidez. A pressão alta durante a gravidez é definida como aquela igual ou superior a 140/90 mmHg.

No início da gravidez, geralmente de 5 semanas a meio do segundo trimestre, a pressão arterial de uma mulher grávida pode diminuir. Isso ocorre porque os hormônios da gravidez podem estimular os vasos sanguíneos a dilatarem-se. Algumas mulheres podem sentir neste período dor de cabeça, tontura, náusea, pele fria e úmida À medida que a mulher progride na gravidez, sua pressão arterial pode mudar ou retornar aos níveis pré-gravidez. Existem algumas razões possíveis para isso. A primeira é que a quantidade de sangue no corpo da gestante aumenta em até 45%. Isso é sangue extra que o coração deve bombear por todo o corpo. O ventrículo esquerdo (lado esquerdo do coração que faz uma quantidade significativa de bombeamento) se torna mais espesso e maior. Esse efeito temporário permite que o coração trabalhe mais para apoiar o aumento do volume sanguíneo.

Outro ponto é que os rins liberam quantidades maiores de vasopressina, um hormônio que leva ao aumento da retenção de água. Na maioria dos casos, a pressão alta durante a gravidez diminui após o parto. Nos casos em que a pressão arterial permanece elevada, o seu médico pode prescrever medicamentos para que a mesma volte ao normal.

Existem maneiras de monitorar sua pressão arterial entre as consultas médicas. Você pode comprar um monitor de pressão arterial ou visitar uma farmácia ou centro de saúde onde a leitura da pressão possa ser feita. Para obter as leituras mais precisas, faça sua pressão arterial todos os dias no mesmo horário. Tome-a sentada com as pernas não cruzadas. Use o mesmo braço todas as vezes. Informe imediatamente o seu médico se tiver repetido as leituras de pressão alta com quatro horas de intervalo e tiver dado sempre alta.

Consequências da pressão alta durante a gravidez

O objetivo do monitoramento é evitar as complicações da pressão alta, como a pré-eclâmpsia. Essa condição pode causar sérios danos aos seus órgãos, incluindo o cérebro e os rins. A pré-eclâmpsia também é conhecida como toxemia. Pré-eclâmpsia com convulsões torna-se eclâmpsia e, se não tratada, pode ser fatal para mãe e bebê. Os sintomas da pré-eclâmpsia incluem: inchaço anormal nas mãos e no rosto, dores de cabeça persistentes, manchas na visão, dor abdominal, náusea, vômito, dificuldade para respirar.

Outra complicação da hipertensão na gravidez é a síndrome HELLP ((HemolysisElevated Liver enzymesLow Platelet count). Este acrônimo significa hemólise, enzimas hepáticas elevadas e baixa contagem de plaquetas. Essa condição também é grave, aumentando o risco de morte. Os sintomas associados ao HELLP incluem: náusea, vômito, dor de cabeça, dor abdominal superior. Os cuidados médicos de emergência visam reduzir a pressão arterial para a saúde da mãe e do bebê.

A pressão alta durante a gravidez também pode afetar a taxa de crescimento do bebê. Isso pode resultar em baixo peso ao nascer. Outras complicações da hipertensão na gravidez incluem: descolamento de placenta, uma emergência médica durante a qual a placenta se destaca do útero prematuramente, parto prematuro, definido como parto antes das 38 semanas de gravidez, necessidade de cesariana.

Prevenção da pressão alta durante a gravidez

O ideal é que a mulher prepare-se antes de engravidar, não fume, pratique atividade física e mantenha o peso sob controle. Durante a gravidez, o ganho de peso é normal, mas não deve ser exagerado. Faça acompanhamento com um nutricionista. Este profissional te dará orientações para que permaneça dentro de um intervalo de ganho de peso saudável.

A deficiência de micronutrientes afeta a gestação de várias formas. A carência de nutrientes antioxidantes aumenta o estresse oxidativo e este tem um papel relevante no desenvolvimento da hipertensão gestacional. Um dos nutrientes com excelente ação antioxidante é o selênio. Sua deficiência aumentava em mais de 15 vezes o risco de desenvolver hipertensão gestacional quando comparado com mulheres com consumo adequado (Lewandowska et al., 2019). A castanha do Pará (Brazil nut) é a melhor fonte de selênio na natureza.

Outro exemplo é o cálcio. A ingestão adequada deste mineral é muito importante para a redução do risco de hipertensão durante a gestação (Ikbal, Klammer, Ekmekcioglu, 2019). O cálcio está presente em laticínios, vegetais verde escuros, sementes, alimentos fortificados e suplementos. Durante o acompanhamento nutricional seu consumo será avaliado, assim como sinais e sintomas de carências e um plano individual será prescrito.

Uma outra estratégia para reduzir a pressão arterial é consumir probióticos, na forma de iogurte, kefir ou suplementos. Probióticos com uma alta variedade de bactérias reduzem a pressão sanguínea em um grau maior do que aqueles que continham apenas um tipo de bactéria. Por isso, kefir ou suplementos com muitas variedades de bactérias costumam ser mais eficazes do que o iogurte. Por exemplo, o Lactobacillus murinus ajuda a reduzir a hipertensão, mesmo em pessoas sensíveis ao sal (Wilck et al., 2017).

Caso o estresse seja um fator importante, faça psicoterapia, yoga e meditação, visto que hormônios do estresse também contribuem para o aumento da pressão. Se a pressão não baixar podem ser indicados medicamentos antihipertensivos, como metildopa e labetalol.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/