Assunto desconfortável e importante: sua evacuação

Vamos falar sobre cocô. Não é o assunto mais atraente mas a observação das fezes é importantíssima pois nos dá muitas dicas sobre a saúde. Fezes moles mostram que o bolo fecal está passando rápido demais pelo intestino. A alta velocidade de passagem prejudica a absorção de nutrientes e pode ser causada por estresse, ansiedade, intolerância ou intoxicação alimentar. Já fezes duras ou em formato de bolinha indicam que a passagem está lenta demais. As causas mais comuns de prisão de ventre incluem baixo consumo de fibras, água e/ou gordura. A disbiose intestinal também precisa ser tratada.

O tipo 4 representa o ideal na escala de Bristol

O tipo 4 representa o ideal na escala de Bristol

Outras condições de saúde comuns, como diabetes, também podem enfraquecer os nervos do cólon e resultar em constipação grave. As fezes de uma pessoa saudável são macias e bem formadas. Passam sem esforço e possuem uma frequência de pelo menos 24 a 72 horas.

A avaliação da consistência das fezes é feita comparando as evacuações com o padrão da escala de Bristol:

Composição das fezes

As fezes possuem cerca de 75% de água. O restante é uma combinação variável de fibras, bactérias e outros microorganismos e muco. Alimentos como feijão, lentilha, ervilha, grão de bico, soja, aveia, konjac são ricos em fibras solúveis que formam um gel, deixando as fezes mais macias. Folhas, milho, farelos, amêndoa, amendoim, coco, casca das frutas e nozes são ricos em fibras insolúveis, que aumentam o volume das fezes, facilitando a evacuação. Por isso, capriche no consumo de alimentos de origem vegetal.

A cor é outra característica das fezes. Fezes brancas indicam problemas no fígado (que produz a bile) ou vesícula (que armazena e depois secreta a bile). A bile é fundamental para a digestão das gorduras e, em contato com bactérias no intestino, vira estercobilina, que tem a cor marrom. Suplementos de ferro podem deixar as fezes mais escuras. Sangramento também. A cor amarela indica uma alta quantidade de gordura que deixou de ser absorvida. Fezes afundam mas podem boiar quando há muita gordura em sua composição. Isso pode acontecer em pessoas com pancreatite crônica ou doença celíaca.

A cor vermelha também pode significar sangramento (ou um alto consumo de beterraba). A cor esverdeada pode significar uma infecção bacteriana ou um alto consumo de clorofila vinda dos vegetais verde escuros (mais comum nos veganos).

Outras doenças que interferem na evacuação

O formato das fezes também diz muito sobre nossa saúde. Cocô fino como lápis pode indicar falta de espaço no intestino, como acontece em pessoas com câncer retal.

A perda de controle intestinal é um problema para milhões de adultos. A incontinência fecal caracteriza-se pela perda de fezes e pode ser causada pelo enfraquecimento da musculatura do reto e do esfíncter anal. Danos nos nervos ou músculos também podem levar à incontinência fecal. Podem acontecer após uma cirurgia, doença inflamatória intestinal, esclerose múltipla, acidente vascular cerebral, parto ou devido ao diabetes. Também pode ser um efeito da diarréia crônica de condições como a doença do intestino irritável. Por fim, também ser o resultado do uso abusivo de remédios para prisão de ventre.

Faz parte do tratamento a inclusão de mais fibras na dieta. O reto percebe as fibras e quanto maior o volume melhor para estimular a sensação local. Além dos alimentos existem suplementos em cápsula e pó a base de fibras (Bliss et al., 2014). Já se as fezes vem em jatos, como diarreia, converse com o médico sobre medicamentos como loperamida (Imodium). Contudo, este tipo de medicação não funciona se o esfícter estiver muito enfraquecido. Por isso, fisioterapia para fortalecimento do assoalho pélvico pode ser necessária. Os exercícios kegel, que envolvem a contração do esfíncter anal várias vezes ao dia, podem ser feitos em casa.

Uma outra opção é chamada de estimulação do nervo sacral. São implantados fios no nervo sacral da coluna para estimular o esfíncter a se contrair. O importante é que ele só funcionará se a incontinência envolver fezes sólidas, e não fezes líquidas. Em último caso, cirurgia pode ser indicada. Será criada uma colostomia, uma bolsa externa, para receber o intestino. Por isso, o melhor sempre é a prevenção.

Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Harvard, mostraram que a dieta rica em fibras está associada a menor risco de incontinência fecal durante a vida. Foram analisadas as respostas a questionários de mais de 58.000 mulheres que foram acompanhadas por mais de 20 anos. Aquelas que consumiram mais fibras (25g ao dia) tiveram um risco 18% menor de incontinência fecal, em comparação com as mulheres que ingeriram a menor quantidade de fibra (13,5 gramas por dia). O estudo é observacional mas aponta a importância de uma dieta rica em frutas e verduras (Staller et al., 2018).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/