Dieta e endometriose

Sabia que dietas ricas em vegetais, frutas e laticínios estão associadas a um risco e/ou sintomas reduzidos de endometriose? [1]. Já carne vermelha processada e não processada, manteiga e alto consumo de cafeína estão associados a um risco aumentado de endometriose [1] [2].

Estudos mostram que as dietas mediterrânea, anti-inflamatória e com baixo teor de FODMAPs são promissoras na melhora dos sintomas da endometriose, mas evidências de alta qualidade são limitadas e mais pesquisas são necessárias [3] [4] [5].

Revisões Sistemáticas e Meta-Análises

Uma revisão abrangente de 10 revisões sistemáticas encontrou um leve efeito protetor para vegetais (RR 0,59), queijo (OR 0,84), laticínios totais (RR 0,87) e laticínios ricos em gordura (RR 0,59) contra a endometriose. Por outro lado, a manteiga (RR 1,27) e o alto consumo de cafeína (> 300 mg/dia, RR 1,30) aumentaram o risco. A qualidade geral da evidência foi baixa devido à heterogeneidade dos estudos [1].

Outra revisão sistemática de 12 estudos (5 de coorte prospectiva, 7 de caso-controle) constatou que a carne vermelha aumenta o risco de endometriose, enquanto vegetais de folhas verdes e frutas frescas podem reduzir o risco. Laticínios também demonstraram um efeito redutor de risco, mas as evidências para outros nutrientes (por exemplo, fibras, vitamina D) foram inconclusivas. A certeza da evidência foi classificada de "muito baixa" a "baixa" [2].

Ensaios Clínicos Randomizados e Estudos de Intervenção

Uma revisão exploratória identificou 7 ECRs (1 dieta, 6 suplementos) e 6 outros estudos de intervenção. A dieta com baixo teor de FODMAPs melhorou a qualidade de vida e os sintomas gastrointestinais em pacientes com endometriose. Suplementos de alho e oligoelementos podem reduzir a dor, mas a maioria dos estudos foi de baixa qualidade e a adesão foi medida de forma inconsistente [4].

Revisões narrativas e exploratórias destacam que dietas mediterrâneas e anti-inflamatórias, ricas em fibras, ácidos graxos ômega-3 e antioxidantes, podem melhorar os sintomas e reduzir a inflamação, mas faltam dados robustos de ECRs [3] [6] [7].

Estudos Observacionais e Populações Específicas

Pesquisas e estudos qualitativos mostram que modificações alimentares são comuns entre indivíduos com endometriose, com até 52% tentando mudanças alimentares para sintomas intestinais. No entanto, apenas 24% relatam alívio satisfatório e o envolvimento de nutricionistas é baixo (13% consultaram um nutricionista) [8] [9].

Dietas à base de plantas e nutrição personalizada, incluindo a identificação de sensibilidades alimentares (por exemplo, glúten, laticínios, FODMAPs), podem ajudar a controlar os sintomas, especialmente as queixas gastrointestinais, mas as evidências provêm, em grande parte, de estudos observacionais ou pré-clínicos [10] [11].

Ou seja, as evidências atuais sugerem que dietas ricas em vegetais, frutas e laticínios podem reduzir o risco e a gravidade da endometriose, enquanto carne vermelha, manteiga e alto consumo de cafeína podem aumentar o risco. As dietas mediterrânea, anti-inflamatória e com baixo teor de FODMAPs apresentam benefícios potenciais para o controle dos sintomas, particularmente para dor e sintomas gastrointestinais.

No entanto, a qualidade geral das evidências é baixa, com a maioria dos estudos sendo observacionais, heterogêneos ou de baixa qualidade metodológica. Ensaios clínicos randomizados de alta qualidade são necessários para estabelecer recomendações dietéticas claras. Na prática, as abordagens dietéticas individualizadas — de preferência com o apoio de um nutricionista — podem oferecer alívio dos sintomas para alguns pacientes, mas devem ser consideradas como adjuvantes e não como substitutos das terapias médicas estabelecidas [1] [2] [4] [3] [6] [8].

Referências

1) LCL Neri et al. Diet and Endometriosis: An Umbrella Review. Foods (Basel, Switzerland) (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40565701/

2) N Akgun et al. Role of macronutrients, dairy products, fruits and vegetables in occurrence and progression of endometriosis: A summary of current evidence in a systematic review. Facts, views & vision in ObGyn (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39718325/

3) İ Türkoğlu et al. Eating for Optimization: Unraveling the Dietary Patterns and Nutritional Strategies in Endometriosis Management. Nutrition reviews (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39225782/

4) SC De Araugo et al. Nutrition Interventions in the Treatment of Endometriosis: A Scoping Review. Journal of human nutrition and dietetics : the official journal of the British Dietetic Association (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39696836/

5) AT Lalla et al. Impact of lifestyle and dietary modifications for endometriosis development and symptom management. Current opinion in obstetrics & gynecology (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38869435/

6) FG Martire et al. Endometriosis and Nutrition: Therapeutic Perspectives. Journal of clinical medicine (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40507748/

7) N Abulughod et al. Dietary and Nutritional Interventions for the Management of Endometriosis. Nutrients (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39683382/

8) K Deepak Kumar et al. Nutritional practices and dietetic provision in the endometriosis population, with a focus on functional gut symptoms. Journal of human nutrition and dietetics : the official journal of the British Dietetic Association (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36794746/

9) S Dwyer et al. Exploring the Nutrition-Related Healthcare Experiences of Individuals With Endometriosis: Qualitative Interviews With Consumers and Dietitians. Journal of human nutrition and dietetics : the official journal of the British Dietetic Association (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40692285/

10) M Matek Sarić et al. The Role of Plant-Based Diets and Personalized Nutrition in Endometriosis Management: A Review. Medicina (Kaunas, Lithuania) (2025). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40731893/

11) A Markowska et al. The Role of Selected Dietary Factors in the Development and Course of Endometriosis. Nutrients (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37375677/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Modulação hormonal natural

Testes metabolômicos ajudam na avaliação de hormônios de mulheres e homens. Podem ser usado para acompanhamento de modulação hormonal, acompanhamento de sintomas da menopausa saúde feminina (mamas, endometriose, SOP, infertilidade) e masculina (disfunção erétil, saúde prostática etc).

A avaliação hormonal pode ser feita de várias formas. A mais usada é a dosagem no sangue, seguida da saliva (por exemplo, estrona, estradiol, estriol, testosterona, cortisol, DHEA). Contudo, ter hormônios circulando não quer dizer que estão ligando-se a receptores e sendo adequadamente metabolizados pelas células.

Outra opção é a metabolômica urinária (por ex. DUTCH test), que mostra como os hormônios estão sendo metabolizados. Podemos ainda pensar na genética do paciente. Muitas enzimas afetam o metabolismo hormonal. Participam de processos como síntese, ativação, inativação e eliminação de hormônios sexuais e adrenais. Podemos avaliar uma série de polimorfismos, como CYP1A1, CYP1B1, COMT, CYP3A4 por meio de painéis genéticos.

  • Exemplos

    • Excesso de atividade de aromatase (CYP19A1) → mais estrogênio, podendo causar sintomas de dominância estrogênica.

    • Reduzida metilação (COMT) → acúmulo de catecolestrogênios, associados a risco aumentado de câncer de mama.

Principais enzimas e papel no metabolismo hormonal

  • CYP19A1 (aromatase) – converte andrógenos em estrogênio.

  • HSD17B – ativa ou inativa estradiol/testosterona.

  • CYP1A1, CYP1B1, CYP3A4 – metabolizam estrógenos em diferentes vias (benéficas ou potencialmente carcinogênicas).

  • COMT – metila catecolestrogênios, tornando-os menos reativos.

  • 5α-redutase – converte testosterona em DHT (mais androgênico).

  • 11β-HSD, 21-hidroxilase, 17α-hidroxilase – regulam cortisol, aldosterona e andrógenos adrenais.

Modulação natural

Segundo a tabela abaixo, alguns compostos podem modular essas enzimas:

  • Curcumina → modula várias enzimas (CYP1A1, CYP1A2, COMT, HSD17B), geralmente favorecendo detoxificação estrogênica.

  • DIM (diindolilmetano) → aumenta CYP1A1 e COMT, promovendo a via protetora do estrogênio (2-OH).

  • EGCG (chá verde) → inibe aromatase, CYP1B1 e favorece detoxificação estrogênica.

  • Semente de uva (proantocianidinas) → inibem aromatase (menos estrogênio).

  • Glycyrrhiza (alcaçuz) → pode inibir enzimas da via de cortisol e reduzir aromatase.

  • Quercetina → inibe várias CYPs (CYP1A2, CYP1B1, CYP3A4).

  • Resveratrol → modula aromatase e vias de estrogênio.

  • Rooibos e alecrim → estimulam COMT e enzimas de detox.

Resumo prático:

  • Para suporte de metilação → COMT → DIM, curcumina, rooibos.

  • Para excesso de andrógenos/DHT → olhar para 5α-redutase → alcaçuz, chá verde.

  • Para cortisol desregulado → atenção a HSD11B1/HSD11B2 (alcaçuz pode aumentar cortisol ativo).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Por que interpretar cortisol, ACTH, aldosterona e renina em conjunto

Muitas pessoas pedem exames de cortisol, mas sua interpretação isolada não quer dizer muita coisa. O cortisol é sim um hormônio fundamental produzido pelas glândulas adrenais, essencial para o metabolismo, resposta ao estresse e regulação da pressão arterial. Contudo, a dosagem isolada de cortisol não é suficiente para determinar a origem de alterações hormonais, nem para diferenciar entre causas primárias, secundárias ou terciárias de disfunção adrenal.

A avaliação conjunta de cortisol e ACTH permite distinguir se uma alteração nos níveis de cortisol se deve a um problema na glândula adrenal ou em órgãos reguladores, como a hipófise ou o hipotálamo:

  • Cortisol elevado + ACTH elevado → sugere produção excessiva estimulada por ACTH (hipófise ou tumor ectópico).

  • Cortisol elevado + ACTH baixo → indica produção autônoma da adrenal (ex: adenoma ou hiperplasia).

  • Cortisol baixo + ACTH elevado → insuficiência adrenal primária (Doença de Addison).

  • Cortisol baixo + ACTH baixo → insuficiência adrenal secundária ou terciária (hipófise/hipotálamo).

A adição de aldosterona e renina amplia a compreensão do eixo adrenal, especialmente em contextos de hipertensão, distúrbios eletrolíticos ou suspeita de hiperaldosteronismo. A aldosterona, regulada principalmente pelo sistema renina-angiotensina, ajuda a controlar sódio, potássio e pressão arterial, enquanto a renina indica a atividade renina-angiotensina. Avaliando esses hormônios em conjunto, é possível:

  • Diferenciar hiperaldosteronismo primário (aldosterona alta, renina baixa) de causas secundárias de disfunção adrenal ou hipovolemia.

  • Correlacionar alterações de cortisol com distúrbios eletrolíticos ou pressão arterial, evitando diagnósticos incompletos se apenas o cortisol fosse medido.

  • Planejar intervenções clínicas mais precisas, incluindo ajustes de dieta, medicamentos e monitoramento da pressão arterial.

Fatores como ritmo circadiano, posição do corpo, ingestão de sódio, medicações e hábitos de vida influenciam cada hormônio de maneira distinta. Medir apenas o cortisol não permite contextualizar essas variações, enquanto a análise combinada oferece um panorama completo da função adrenal e do equilíbrio hormonal do paciente.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/