Por que algumas pessoas têm pesadelo quando tomam melatonina?

O equilíbrio dos neurotransmissores é fundamental para a saúde mental, a qualidade do sono e o bem-estar geral. Substâncias como serotonina, dopamina, noradrenalina e melatonina regulam o humor, a atenção, os ciclos do sono e até mesmo a intensidade dos sonhos. Quando esse equilíbrio é alterado — seja por fatores ambientais, estilo de vida ou predisposição genética — podem surgir efeitos inesperados.

Um exemplo disso ocorre em pessoas com atividade aumentada da enzima monoamina oxidase (MAO), responsável por degradar neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina. Nesses casos, os níveis dessas substâncias tendem a cair mais rapidamente. Isso explica por que a suplementação com melatonina pode desencadear sonhos intensos ou pesadelos: o sono REM é aprofundado, mas a falta de serotonina para estabilizar a atividade neural deixa o cérebro mais suscetível a experiências oníricas negativas. O mesmo raciocínio vale para o 5-HTP, precursor da serotonina. Embora ele aumente temporariamente a disponibilidade desse neurotransmissor, em indivíduos com alta atividade da MAO a degradação é acelerada, gerando oscilações bruscas e resultando em sonhos vívidos ou perturbadores.

Essas observações reforçam a importância de compreender como fatores genéticos influenciam o metabolismo cerebral. Exames genéticos que avaliam variantes relacionadas a enzimas como a MAO, transportadores de serotonina ou receptores dopaminérgicos podem oferecer informações valiosas sobre a resposta individual a suplementos e medicamentos. Com base nesses dados, é possível personalizar estratégias de tratamento e suplementação, prevenindo efeitos adversos e promovendo um equilíbrio neuroquímico mais estável e saudável.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Exercício aeróbico e memória

Você provavelmente já ouviu que exercícios físicos fazem bem para o corpo. Mas e para o cérebro? Mais especificamente: será que o famoso exercício de endurance (corrida, ciclismo, natação…) pode aumentar o tamanho do hipocampo, região essencial para a memória e o aprendizado? A resposta curta: sim, ele ajuda.

O que a ciência descobriu

Um estudo clássico de 2011, feito pelo pesquisador Kirk Erickson e colegas, acompanhou 120 adultos mais velhos durante 1 ano. O grupo que praticou exercícios aeróbicos regularmente apresentou, em média, aumento de 2% no volume do hipocampo.

Isso pode parecer pouco, mas é muito significativo: depois dos 50 anos, o hipocampo tende a encolher cerca de 1% ao ano. Ou seja, o exercício não só freou a perda natural como ainda trouxe um ganho equivalente a “rejuvenescer” essa área em até 2 anos.

E não é só no volume: esse crescimento esteve ligado a melhora na memória espacial e em tarefas de aprendizagem.

Como isso acontece?

Os cientistas acreditam que o efeito positivo do exercício aeróbico vem de uma combinação de fatores:

  • Neurogênese → formação de novos neurônios.

  • Angiogênese → criação de novos vasos sanguíneos, melhorando a circulação no cérebro.

  • BDNF → aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro, uma proteína que atua como “fertilizante” para as células nervosas.

Em outras palavras: o exercício cria um ambiente mais saudável e fértil para o cérebro se manter ativo.

E se parar de se exercitar?

Um estudo de 2016 com atletas veteranos mostrou que apenas 10 dias sem treino já diminuíram o fluxo sanguíneo no hipocampo. Isso sugere que os benefícios do exercício precisam ser mantidos com regularidade — não adianta treinar por um tempo e depois parar.

Jovens também se beneficiam

Não é só na velhice que o hipocampo ganha com o movimento. Um estudo de 2013, feito com adultos jovens (18 a 45 anos), encontrou uma associação clara entre prática regular de atividade física e maior volume do hipocampo direito.

Referências

1) KI Erickson et al. Exercise training increases size of hippocampus and improves memory. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (2011). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21282661/

2) AJ Alfini et al. Hippocampal and Cerebral Blood Flow after Exercise Cessation in Master Athletes. Frontiers in aging neuroscience (2016). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27547184/

3) WD Killgore et al. Physical exercise habits correlate with gray matter volume of the hippocampus in healthy adult humans. Scientific reports (2013). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24336512/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Como obesidade e envelhecimento deixam nosso sistema imunológico “ligado no 220”

A obesidade é uma doença que causa um tipo de inflamação leve, contínua — chamada meta-inflamação. Isso acontece porque o excesso de gordura no corpo começa a liberar sinais que atraem células inflamatórias (como os macrófagos) – e isso afeta nossa saúde metabólica (pode gerar resistência à insulina e doenças crônicas).

O envelhecimento também desencadeia um tipo parecido de inflamação leve batizado de inflammaging (inflamação+envelhecimento). Ao longo dos anos, danos celulares, acúmulo de células “senescentes” e declínio das funções de reparo criam um ambiente de inflamação silenciosa. Isso enfraquece os órgãos, o sistema imune e acelera o envelhecimento biológico (Qu et al., 2022).

Estas duas inflamações crônicas e silenciosas — uma por excesso de nutrientes, a outra por desgaste natural — atraem monócitos, células do sistema imune que se diferenciam em macrófagos. Estes, por sua vez, amplificam a produção de mediadores inflamatórios.

Quem são os macrófagos e por que importam?

Macrófagos são células de defesa que vivem pelos tecidos do nosso corpo — nosso “faxineiros” e “socorristas” internos. Quando há excesso de gordura (na obesidade) ou sinais de desgaste (no envelhecimento), eles respondem ao chamado, se acumulam nos tecidos e mudam para um modo que libera substâncias inflamatórias. Assim, mesmo sem uma infecção, o corpo fica em estado de alerta — mas de um alerta que causa dano se for constante.

Os macrófagos “sentem” lipídios, glicose, radicais livres e sinais de células senescentes e passam por metafluxos (mudanças em vias como glicólise, respiração celular, β-oxidação de gorduras) que travam um circuito de inflamação crônica de baixo grau. Em meta-inflamação, isso sustenta resistência à insulina e aumenta o risco de diabetes. Em inflammaging, contribui para fibrose, sarcopenia e fragilidade.

A inflamação persistente também remodela a arquitetura linfoide e a qualidade da ajuda T-dependente. Células T auxiliares (Th, do inglês T helper) são cruciais para anticorpos de alta afinidade. Porém, tanto na obesidade crônica quanto na imunossenescência, o “ruído” inflamatório e a disbiose de citocinas alteram a geração/função de Th (Alonso, Fomin, & Rizzo, 2021).

Sem os Tfh funcionando bem:

  • Os anticorpos produzidos podem ser mais fracos ou de curta duração.

  • As respostas a vacinas e infecções ficam comprometidas.

  • Em alguns casos, falhas nos Tfh também estão ligadas a doenças autoimunes, quando os anticorpos passam a atacar o próprio corpo.

Imunossenescência: o sistema imune envelhecendo junto com o corpo

Imunoscenecência é um termo que fala sobre como o sistema imunológico fica “cansado” com a idade: o timo (onde nascem os linfócitos T) encolhe, temos menos T jovens, mais células envelhecidas e também mais células mieloides supressoras (MDSCs) — que atuam silenciosamente reduzindo a resposta imune. Tudo isso ocorre sob a batuta da inflammaging (Alves, & Bueno, 2019).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/