Mutações no gene HECW2 e autismo

A síndrome genética causada por mutações no gene HECW2 é uma condição rara e ainda em estudo, mas está associada a diversas alterações metabólicas, neurológicas e comportamentais. O gene HECW2 codifica uma enzima ubiquitina ligase E3, que desempenha um papel crucial na regulação de proteínas celulares, incluindo as relacionadas à neurodesenvolvimento e homeostase metabólica.

Alterações Metabólicas Relacionadas ao HECW2

As principais alterações metabólicas associadas a mutações no HECW2 podem incluir:

1. Disfunção Mitocondrial

  • O gene HECW2 é expresso em tecidos metabólicos ativos, incluindo o cérebro, e está envolvido na regulação do turnover de proteínas mitocondriais.

  • As mutações podem levar à:

    • Diminuição da produção de energia (ATP), resultando em fadiga metabólica.

    • Acúmulo de espécies reativas de oxigênio (estresse oxidativo) devido à disfunção do metabolismo energético.

2. Desregulação do Metabolismo do Glutamato

  • O metabolismo do aminoácido Glutamina/Glutamato pode ser afetado:

    • Glutamato, o principal neurotransmissor excitatório do cérebro, pode estar desregulado, contribuindo para excitotoxicidade neuronal (dano causado pela hiperatividade dos neurônios).

    • Desequilíbrios no metabolismo do glutamato estão associados a autismo e outras condições neuropsiquiátricas.

3. Alterações na Homeostase Redox

  • Mutações no HECW2 podem afetar o equilíbrio entre produção de radicais livres e mecanismos antioxidantes, como o sistema de glutationa.

  • Consequências:

    • Estresse oxidativo crônico, que contribui para dano celular e inflamação.

    • Vulnerabilidade neuronal ao dano oxidativo, exacerbando atrasos no neurodesenvolvimento.

4. Impacto no Ciclo da Ureia

  • Alterações no metabolismo da glutamina e no ciclo da ureia podem levar a um aumento de compostos tóxicos como amônia, que pode contribuir para disfunção neurológica e letargia metabólica.

5. Resistência à Insulina e Alterações Metabólicas Sistêmicas

  • Alguns pacientes com mutações no HECW2 podem apresentar desregulação no metabolismo de carboidratos e lipídios:

    • Resistência à insulina ou alterações na glicose sanguínea, potencialmente ligadas a inflamação e ao estresse oxidativo.

    • Diminuição na mobilização de lipídios ou dislipidemias.

6. Inflamação Crônica

  • Mutações em HECW2 podem ativar respostas inflamatórias anormais, que estão associadas ao aumento de citocinas inflamatórias (e.g., IL-6, TNF-α):

    • Esse estado de neuroinflamação pode exacerbar condições como atraso no desenvolvimento, autismo e convulsões.

Manifestações Clínicas Ligadas às Alterações Metabólicas

  1. Atraso no desenvolvimento neuropsicomotor:

    • Influenciado por desequilíbrios no metabolismo de neurotransmissores e estresse oxidativo.

  2. Transtorno do Espectro Autista (TEA):

    • Relacionado à disfunção do metabolismo do glutamato e alterações sinápticas.

  3. Convulsões:

    • Excitotoxicidade causada por excesso de glutamato pode aumentar a probabilidade de crises epilépticas.

  4. Hipotonia e fraqueza muscular:

    • Associadas a disfunção mitocondrial e baixa produção de energia.

  5. Dificuldades gastrointestinais:

    • Alterações no metabolismo de aminoácidos e na microbiota intestinal.

  6. Estresse oxidativo sistêmico:

    • Contribui para a progressão de inflamação crônica e neurodegeneração.

Abordagens Potenciais para Manejo

O manejo das alterações metabólicas associadas ao HECW2 pode incluir:

  1. Suplementação Antioxidante:

    • N-Acetilcisteína (NAC) para aumentar glutationa.

    • Vitamina E e Coenzima Q10 para proteção contra estresse oxidativo.

  2. Regulação do Metabolismo do Glutamato:

    • Dieta rica em alimentos com baixo teor de glutamato livre (evitar glutamato monossódico - MSG).

    • Uso de moduladores de glutamato como memantina (sob orientação médica).

  3. Melhora da Função Mitocondrial:

    • L-carnitina ou acetil-L-carnitina para suporte energético.

    • Dieta rica em gorduras saudáveis (e.g., ácidos graxos ômega-3) para função mitocondrial.

  4. Controle Inflamatório:

    • Suplementos anti-inflamatórios (e.g., curcumina, ômega-3).

    • Dieta anti-inflamatória, como a dieta mediterrânea.

  5. Abordagens Personalizadas:

    • Avaliação de perfil metabólico e ajustes dietéticos com suporte de nutricionistas ou especialistas.

1. Suplementos e Alimentos Moduladores de Glutamato

  • MAGNÉSIO:

    • Atua como um bloqueador natural dos receptores NMDA (principais receptores de glutamato no cérebro).

    • Fontes: Oleaginosas, sementes, vegetais verdes escuros.

  • Zinco:

    • Regula a atividade dos receptores NMDA e ajuda a modular o glutamato.

    • Fontes: Ostras, carne vermelha, sementes de abóbora.

  • N-Acetilcisteína (NAC):

    • Aumenta a glutationa, o principal antioxidante cerebral, e regula a homeostase do glutamato.

  • Vitamina B6:

    • Cofator essencial para a síntese de GABA, o principal neurotransmissor inibitório, que contrabalança o glutamato.

    • Fontes: Banana, batata, abacate.

  • Ômega-3 (EPA/DHA):

    • Reduz neuroinflamação e melhora a plasticidade sináptica.

    • Fontes: Peixes gordurosos (salmão, sardinha), óleo de linhaça.

  • L-Teanina:

    • Aminoácido que modula os níveis de glutamato e promove relaxamento sem sedação.

    • Fontes: Chá verde.

2. Reduzir Fontes Externas de Glutamato

  • Evitar alimentos ricos em glutamato livre, que podem exacerbar excitotoxicidade:

    • Glutamato monossódico (MSG): Presente em alimentos ultraprocessados, temperos prontos e sopas instantâneas.

    • Produtos fermentados com alto teor de glutamato (e.g., molho de soja, queijos envelhecidos).

3. Dieta Anti-Inflamatória

Adotar uma dieta que reduza inflamação sistêmica e apoie a saúde cerebral:

  • Dieta Mediterrânea:

    • Rica em frutas, vegetais, peixes, azeite de oliva, e alimentos integrais.

  • Polifenóis:

    • Compostos anti-inflamatórios que protegem o cérebro.

    • Fontes: Frutas vermelhas, cúrcuma (curcumina), chá verde.

4. Melhora da Homeostase Energética e Redução do Estresse Oxidativo

  • Coenzima Q10:

    • Suporte mitocondrial e redução do estresse oxidativo.

  • Ácido Alfa-Lipoico (ALA):

    • Antioxidante e co-fator no metabolismo energético.

  • Carnitina (Acetil-L-Carnitina):

    • Promove o transporte de ácidos graxos para mitocôndrias, aumentando energia celular.

5. Aumentar Produção de GABA

Equilibrar a relação entre glutamato (excitatório) e GABA (inibitório):

  • Alimentos ricos em GABA ou precursores:

    • Amêndoas, nozes, banana, espinafre.

  • Taurina:

    • Atua como um neurotransmissor inibitório e estabiliza a atividade neural.

Sugestão de Dieta Diária (Exemplo)

Café da manhã:

  • Vitamina de frutas vermelhas com leite de amêndoas e espinafre (rico em magnésio e antioxidantes).

  • Uma fatia de pão integral sem glúten (com sementes e psyllium) com abacate (fonte de vitamina B6).

Almoço:

  • Salmão grelhado (rico em ômega-3).

  • Arroz integral e brócolis no vapor (antioxidantes e magnésio).

Lanche da tarde:

  • Chá verde (L-theanine) e uma porção de oleaginosas (amêndoas e nozes).

Jantar:

  • Salada com folhas verdes escuras, azeite de oliva e frango grelhado.

  • Batata-doce assada (fonte de energia e vitamina B6).

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Erva de São João para proteção hepática e da vesícula

A formação e fluxo da bíle são essenciais para evitar a colestase, que pode evoluir para fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular. Colestase é uma condição em que há redução ou bloqueio do fluxo da bile do fígado para o intestino. Isso afeta diretamente os ácidos biliares e, consequentemente, a microbiota intestinal. A terapêutica padrão — como uso de UDCA (ácido ursodesoxicólico) — falha em até 40 % dos pacientes, impulsionando a busca por adjuvantes naturais.

O estudo Hypericum perforatum L. and the Underlying Molecular Mechanisms for Its Choleretic, Cholagogue, and Regenerative Properties utilizou extrato de Hypericum perforatum, analisando genes diferencialmente expressos e sua sobreposição com genes envolvidos na colestase. O hypericum possui vários compostos bioativos, como hyperforina, hypericina, flavonoides (quercitrina, quercetina, kaempferol, rutina) e ácido p‑cumárico.

Mecanismos Molecular‑Celulares

O hyperico exerce seus efeitos protetores por meio de vários mecanismos:

1. Ação Colerética/Colagoga

  • α₅β₁‑integrinas, atuando como osmorreceptores no fígado, foram ativadas pelo extrato de hypericum, ativando a via c‑SRC (tirosina‑quinase). Isso resultou na redistribuição de transportadores de ácidos biliares para a membrana canalicular, aumentando o fluxo biliar.

  • Ampliação da expressão de genes do sistema de membranas — notadamente a cadeia COG — sugere intensificação do tráfego vesicular do Golgi, favorecendo a exocitose de substâncias biliares.

2. Regeneração Hepática & Proteção Celular

  • Aumento de CDK6, que promove a proliferação de hepatócitos, contrapondo-se ao dano tóxico causado por acúmulo de ácidos biliares.

  • Expressão elevada de ICAM‑1 (intercellular adhesion molecule-1), que atua na regeneração tecidual hepática.

  • Regulação de nischarin, receptor associado à hepatoproteção e modulação de via de sobrevivência celular.

3. Homeostase do Colesterol

  • Up-regulação de SCP2 (sterol carrier protein 2), uma proteína intracelular que transporta colesterol, estabilizando o equilíbrio lipídico intra-hepático.

A combinação de efeitos choleréticos, regenerativos e de equilíbrio lipídico torna o extrato promissor como terapia auxiliar em casos refratários a UDCA. Os resultados sugerem potencial uso como adição terapêutica ou segunda linha, especialmente para pacientes não-respondedores, devendo ser confirmado por ensaios clínicos padronizados.

Contudo, é importante consultar um profissional habilitado em fitoterapia. Plantas não são livres de riscos. No caso do hyperico, podemos citar:

  • Indução de enzimas hepáticas (CYP3A4): A hyperforina ativa receptores como PXR, o que acelera o metabolismo de fármacos e pode afetar o metabolismo de ácidos biliares e medicamentos usados no tratamento da colestase.

  • Interações medicamentosas sérias:

    • Pode reduzir a eficácia de medicamentos como ciclosporina, estatinas, anticoagulantes, etc.

    • Em pacientes com colestase que já têm metabolismo hepático alterado, isso pode ser especialmente perigoso.

  • Fotossensibilidade (com hypericina): Aumenta a sensibilidade à luz, especialmente em doses altas.

Aprenda mais sobre fitoterapia

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Como os ácidos biliares afetam a microbiota?

Os ácidos biliares exercem um papel importante na regulação da microbiota intestinal, e essa relação é bidirecional: os ácidos biliares afetam a microbiota, e a microbiota modifica os ácidos biliares.

O que são ácidos biliares?

São compostos derivados do colesterol produzidos no fígado, armazenados na vesícula biliar e liberados no intestino delgado, principalmente após refeições. Eles ajudam na digestão e absorção de gorduras.

Como os ácidos biliares afetam a microbiota?

  1. Efeito antimicrobiano direto:

    • Ácidos biliares primários (como o ácido cólico e o ácido quenodesoxicólico) podem danificar membranas bacterianas, afetando especialmente bactérias Gram-positivas.

    • Eles também interferem no metabolismo bacteriano, inibindo o crescimento de algumas espécies.

  2. Seleção de espécies bacterianas:

    • Algumas bactérias desenvolvem mecanismos para resistir aos efeitos tóxicos dos ácidos biliares.

    • Isso favorece o crescimento de microrganismos bile-tolerantes (ex: Bilophila wadsworthia, Clostridium spp., Enterobacteriaceae), enquanto inibe outros.

  3. Alteração do ambiente intestinal:

    • Ao modificar o pH e a fluidez das membranas, os ácidos biliares criam um ambiente que seleciona quais bactérias sobrevivem ou prosperam.

Como a microbiota também afeta os ácidos biliares?

  • Bactérias intestinais convertem ácidos biliares primários em ácidos biliares secundários (ex: ácido desoxicólico e ácido litocólico), através de reações como desconjugação e 7α-desidroxilação.

  • Essas formas secundárias têm efeitos diferentes sobre o hospedeiro, podendo inclusive influenciar:

    • Inflamação intestinal

    • Metabolismo hepático

    • Expressão de receptores como FXR e TGR5 (ligados ao metabolismo de glicose, lipídios e energia)

Os ácidos biliares atuam como moduladores da microbiota intestinal, controlando o crescimento bacteriano e influenciando sua composição. Essa interação influencia processos digestivos, imunológicos e metabólicos no hospedeiro.

Quando é bom:

Em condições normais, os ácidos biliares ajudam a manter um equilíbrio saudável da microbiota. Eles:

  • Limitam o crescimento excessivo de bactérias nocivas.

  • Favorecem bactérias resistentes e benéficas.

  • Participam da digestão de gorduras e na regulação metabólica (via receptores como FXR e TGR5).

  • Estimulam a produção de muco e barreiras protetoras intestinais, prevenindo infecções.

Nesse contexto, os ácidos biliares são benéficos para a microbiota e para a saúde intestinal como um todo.

Quando é ruim:

Se houver excesso ou alteração na composição dos ácidos biliares (por exemplo, devido a dieta rica em gordura animal, inflamação, uso de antibióticos, etc.), isso pode:

  • Favorecer bactérias nocivas, como Bilophila wadsworthia (ligada a inflamação).

  • Matar bactérias boas, reduzindo a diversidade microbiana.

  • Levar à disbiose (desequilíbrio da microbiota), o que pode causar ou piorar:

    • Doença inflamatória intestinal

    • Síndrome metabólica

    • Obesidade

    • Câncer de cólon

Nesse caso, os ácidos biliares prejudicam a microbiota e a saúde geral.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/