Erva de São João para proteção hepática e da vesícula

A formação e fluxo da bíle são essenciais para evitar a colestase, que pode evoluir para fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular. Colestase é uma condição em que há redução ou bloqueio do fluxo da bile do fígado para o intestino. Isso afeta diretamente os ácidos biliares e, consequentemente, a microbiota intestinal. A terapêutica padrão — como uso de UDCA (ácido ursodesoxicólico) — falha em até 40 % dos pacientes, impulsionando a busca por adjuvantes naturais.

O estudo Hypericum perforatum L. and the Underlying Molecular Mechanisms for Its Choleretic, Cholagogue, and Regenerative Properties utilizou extrato de Hypericum perforatum, analisando genes diferencialmente expressos e sua sobreposição com genes envolvidos na colestase. O hypericum possui vários compostos bioativos, como hyperforina, hypericina, flavonoides (quercitrina, quercetina, kaempferol, rutina) e ácido p‑cumárico.

Mecanismos Molecular‑Celulares

O hyperico exerce seus efeitos protetores por meio de vários mecanismos:

1. Ação Colerética/Colagoga

  • α₅β₁‑integrinas, atuando como osmorreceptores no fígado, foram ativadas pelo extrato de hypericum, ativando a via c‑SRC (tirosina‑quinase). Isso resultou na redistribuição de transportadores de ácidos biliares para a membrana canalicular, aumentando o fluxo biliar.

  • Ampliação da expressão de genes do sistema de membranas — notadamente a cadeia COG — sugere intensificação do tráfego vesicular do Golgi, favorecendo a exocitose de substâncias biliares.

2. Regeneração Hepática & Proteção Celular

  • Aumento de CDK6, que promove a proliferação de hepatócitos, contrapondo-se ao dano tóxico causado por acúmulo de ácidos biliares.

  • Expressão elevada de ICAM‑1 (intercellular adhesion molecule-1), que atua na regeneração tecidual hepática.

  • Regulação de nischarin, receptor associado à hepatoproteção e modulação de via de sobrevivência celular.

3. Homeostase do Colesterol

  • Up-regulação de SCP2 (sterol carrier protein 2), uma proteína intracelular que transporta colesterol, estabilizando o equilíbrio lipídico intra-hepático.

A combinação de efeitos choleréticos, regenerativos e de equilíbrio lipídico torna o extrato promissor como terapia auxiliar em casos refratários a UDCA. Os resultados sugerem potencial uso como adição terapêutica ou segunda linha, especialmente para pacientes não-respondedores, devendo ser confirmado por ensaios clínicos padronizados.

Contudo, é importante consultar um profissional habilitado em fitoterapia. Plantas não são livres de riscos. No caso do hyperico, podemos citar:

  • Indução de enzimas hepáticas (CYP3A4): A hyperforina ativa receptores como PXR, o que acelera o metabolismo de fármacos e pode afetar o metabolismo de ácidos biliares e medicamentos usados no tratamento da colestase.

  • Interações medicamentosas sérias:

    • Pode reduzir a eficácia de medicamentos como ciclosporina, estatinas, anticoagulantes, etc.

    • Em pacientes com colestase que já têm metabolismo hepático alterado, isso pode ser especialmente perigoso.

  • Fotossensibilidade (com hypericina): Aumenta a sensibilidade à luz, especialmente em doses altas.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/