Hipotireoidismo Subclínico e Resistência à Insulina: O Que a Ciência Revela Sobre Essa Relação em Pessoas com e sem Diabetes

Um estudo recente publicado no periódico Frontiers in Endocrinology trouxe novos insights sobre a relação entre a função tireoidiana e a resistência à insulina, focando especificamente no papel do hipotireoidismo subclínico — uma condição silenciosa, mas com potenciais implicações metabólicas importantes.

O que é hipotireoidismo subclínico?

O hipotireoidismo subclínico é caracterizado por níveis elevados do hormônio TSH (hormônio estimulante da tireoide), enquanto os hormônios tireoidianos T3 e T4 permanecem dentro da faixa normal. Embora os pacientes não apresentem sintomas evidentes, a condição pode impactar diversos processos metabólicos no organismo.

O estudo: o que foi investigado?

Os pesquisadores analisaram 1.243 indivíduos: 622 com diabetes tipo 2 e 621 normoglicêmicos (ou seja, sem diagnóstico de diabetes). O objetivo foi entender como o hipotireoidismo subclínico afeta a resistência à insulina — um dos principais fatores envolvidos no desenvolvimento do diabetes tipo 2 — em ambos os grupos.

Principais descobertas

  • A prevalência de disfunções tireoidianas foi maior no grupo com diabetes.

  • O hipotireoidismo subclínico foi a alteração mais comum, presente em 14,95% dos participantes com diabetes.

  • Entre os indivíduos sem diabetes, aqueles com hipotireoidismo subclínico apresentaram índices significativamente mais altos de:

    • IMC (Índice de Massa Corporal)

    • Relação cintura-quadril

    • HOMA-IR (índice usado para estimar resistência à insulina)

  • Curiosamente, essas diferenças não foram observadas no grupo com diabetes, possivelmente devido a fatores como o uso de medicamentos ou alterações metabólicas já estabelecidas.

Além disso, os pesquisadores utilizaram um índice chamado Thyroid Feedback Quantile-Based Index (TFQI) para avaliar a sensibilidade do organismo aos hormônios da tireoide. Eles observaram que, à medida que o TFQI aumentava (indicando menor sensibilidade aos hormônios tireoidianos), também ocorriam alterações em diversos marcadores metabólicos.

Conclusões e implicações clínicas

O estudo concluiu que o hipotireoidismo subclínico contribui para o aumento da resistência à insulina, especialmente em pessoas que ainda não desenvolveram diabetes. Além disso, a sensibilidade reduzida aos hormônios da tireoidepode estar relacionada ao maior risco de desenvolvimento da doença.

Esses achados reforçam a ideia de que a função tireoidiana está profundamente interligada ao metabolismo da glicose. Monitorar e, se necessário, tratar o hipotireoidismo subclínico pode ser uma estratégia importante para prevenir ou retardar o surgimento do diabetes tipo 2 em indivíduos de risco.

O que isso significa na prática?

  • Médicos devem considerar a avaliação da tireoide como parte da triagem metabólica, especialmente em pessoas com sobrepeso ou resistência à insulina.

  • Em casos de hipotireoidismo subclínico diagnosticado, mesmo na ausência de sintomas clássicos, pode ser prudente acompanhar de perto os parâmetros glicêmicos.

  • Estratégias que melhorem a sensibilidade à insulina (como alimentação adequada, atividade física e manejo de peso) também são fundamentais para beneficiar a função tireoidiana e vice-versa. Marque aqui sua consulta de nutrição online.

Referência:
Yang W, Jin C, Wang H, Lai Y, Li J, Shan Z. Subclinical hypothyroidism increases insulin resistance in normoglycemic people. Front Endocrinol (Lausanne). 2023;14:1106968. doi: 10.3389/fendo.2023.1106968.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Terapia transpessoal na compulsão alimentar

A terapia transpessoal aplicada à compulsão alimentar propõe uma abordagem mais integrativa, que vai além dos aspectos cognitivos e comportamentais do transtorno, incluindo também dimensões emocionais, espirituais e existenciais da experiência humana. Ela reconhece que o comportamento alimentar compulsivo pode estar ligado não só a traumas ou desregulação emocional, mas também a um vazio existencial, desconexão interior ou busca por sentido e pertencimento.

Como funciona a terapia transpessoal na compulsão alimentar:

1. Integração de corpo, mente, emoções e espírito:

  • Trabalha a compulsão como um sintoma de desalinhamento interior.

  • Incentiva o resgate da autenticidade e da autoconsciência, favorecendo o autoconhecimento profundo.

2. Ferramentas e técnicas comuns:

  • Meditação e mindfulness com foco existencial ou espiritual.

  • Respiração consciente (breathwork) para acessar conteúdos inconscientes e liberar tensões emocionais.

  • Visualizações guiadas para trabalhar a autoimagem, o relacionamento com o corpo e feridas emocionais.

  • Trabalho com arquétipos e símbolos (baseado em Jung e psicologia profunda).

  • Constelações familiares e trabalho com ancestralidade, quando se identifica uma repetição transgeracional de padrões.

  • Diálogo interno (ex.: com a “parte faminta” ou a “parte controladora” da pessoa).

3. Foco em significado e reconexão:

  • Incentiva a investigação sobre o que a fome representa (fome de amor, de pertencimento, de expressão?).

  • Trabalha com autoaceitação radical e a superação da vergonha, frequentemente associada a comportamentos compulsivos.

  • Pode incluir práticas de espiritualidade laica ou religiosa, conforme a crença da pessoa.

4. Ambiente terapêutico:

  • O terapeuta transpessoal atua mais como um facilitador da jornada interior do que como alguém que aplica técnicas padronizadas.

  • A relação terapêutica é baseada em presença compassiva, escuta profunda e acolhimento não julgador.

Evidência científica:

Embora a terapia transpessoal tenha menos evidências empíricas formais comparada a abordagens como a TCC ou TCD, há estudos qualitativos e relatos clínicos que indicam benefícios significativos na redução da compulsão alimentar, aumento do bem-estar e transformação do relacionamento com o corpo e a comida.

Ela costuma ser mais indicada como complementar a outras abordagens (como TCC ou TCD), especialmente em pessoas que relatam questões existenciais profundas, histórico de traumas complexos ou desejo de um trabalho mais holístico.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Mindfulness como tratamento da compulsão alimentar

Um estudo publicado em 2025 atualizou e ampliou significativamente a revisão de 2015 feita por Godfrey et al., avaliando o impacto de intervenções baseadas em mindfulness (IBMs) no tratamento da compulsão alimentar. Esta nova análise incluiu 54 estudos — quase três vezes mais do que a revisão anterior — refletindo o crescimento substancial do interesse e da produção científica na área ao longo da última década.

Principais Descobertas

Comparação com Grupos de Controle Não-Psicológicos

As intervenções baseadas em mindfulness mostraram efeitos moderados a grandes na redução da compulsão alimentar quando comparadas com condições de controle não-psicológicas (por exemplo, lista de espera ou ausência de tratamento). O tamanho do efeito foi expressivo:

  • Hedge’s g = -0,65 no pós-tratamento

  • Hedge’s g = -0,71 no seguimento

Isso indica que as IBMs são substancialmente mais eficazes do que a ausência de intervenção para reduzir comportamentos de compulsão alimentar (Liu et al., 2025).

Comparação com Intervenções Psicológicas Ativas

Quando comparadas a tratamentos psicológicos bem estabelecidos — como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) — as IBMs não demonstraram superioridade:

  • Hedge’s g = -0,05 no pós-tratamento

  • Hedge’s g = 0,13 no seguimento

Esses resultados sugerem que, embora as IBMs sejam benéficas, elas não superam abordagens clínicas consolidadas como a TCC. De toda forma, como a TCC leva a remissão 30% dos pacientes apenas, precisamos de um leque de opções, como acompanhamento nutricional, mindfulness, medicamentos etc.

Terapia Comportamental Dialética (TCD)

Entre os diferentes tipos de IBMs avaliados, as intervenções inspiradas na Terapia Comportamental Dialética (TCD) destacaram-se. Esses programas demonstraram os maiores tamanhos de efeito na redução da compulsão alimentar, sugerindo que a TCD adaptada para este fim pode ser particularmente eficaz.

A TCD visa a compreensão de visões opostas sobre comportamentos alimentares desordenados e seu uso na redução de sofrimento. Treina atenção plena (mindfulness), tolerância ao sofrimento, regulação emocional, eficácia interpressoal.

Foco Específico na Compulsão Alimentar

Os estudos que focaram especificamente na compulsão alimentar como desfecho primário apresentaram efeitos significativamente maiores do que aqueles em que a compulsão era apenas um desfecho secundário. Isso reforça a importância de uma abordagem direcionada no desenho de intervenções.

Métodos de Entrega Inovadores

Nos estudos mais recentes, há uma tendência crescente de uso de formatos autoajuda e componentes tecnológicos, como aplicativos móveis e plataformas online. Tais formatos têm o potencial de aumentar o acesso e a disseminação dessas intervenções, especialmente em contextos com recursos limitados.

Aspectos Metodológicos

A revisão seguiu as diretrizes PRISMA para revisões sistemáticas e usou a ferramenta de Avaliação da Qualidade do Projeto EPHPP (Effective Public Health Practice Project) para avaliar a qualidade metodológica dos estudos incluídos.

As análises meta-analíticas utilizaram modelos de efeitos aleatórios, apropriados para lidar com a heterogeneidade dos métodos e populações envolvidas nos diferentes estudos.

Direções Futuras

Os autores recomendam:

  • A realização de ensaios clínicos randomizados mais robustos, que comparem diretamente IBMs com outras intervenções psicológicas bem estabelecidas.

  • A avaliação do impacto de diferentes tipos de IBMs, como MBSR (Mindfulness-Based Stress Reduction), MB-EAT (Mindfulness-Based Eating Awareness Training) e DBT.

  • Estudos com períodos de acompanhamento mais longos, para avaliar a manutenção dos efeitos ao longo do tempo.

  • Uma maior inclusão de populações diversas, como homens e indivíduos de diferentes origens étnicas, para melhorar a generalização dos resultados.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/