Avaliação da neuroinflamação

A neuroinflamação pode ser avaliada por imagem PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons) usando radiotraçadores que se ligam ao TSPO (Translocator Protein 18 kDa), um biomarcador expresso em células da glia ativadas, especialmente micróglia e astrócitos. Aqui estão alguns aspectos importantes sobre essa abordagem:

1. O Papel do TSPO na Neuroinflamação

O TSPO é uma proteína mitocondrial localizada na membrana externa das mitocôndrias. Sua expressão aumenta em resposta a inflamação e estresse celular, tornando-o um alvo importante para o estudo de doenças neurológicas inflamatórias. A ativação da micróglia e dos astrócitos leva a um aumento da densidade do TSPO, que pode ser detectado com PET (Song et al., 2019).

2. Radiotraçadores TSPO para PET

O [11C]PK11195 foi o primeiro radiotraçador desenvolvido para detectar TSPO, mas tem baixo sinal-ruído. Novos radiotraçadores como [18F]DPA-714, [11C]PBR28 e [18F]GE-180 oferecem melhor especificidade e sensibilidade. A ligação ao TSPO é influenciada por polimorfismos genéticos do gene TSPO, que podem alterar a captação dos radiotraçadores.

3. Aplicações em Doenças Neurológicas

  • Doença de Alzheimer (DA): Aumento da neuroinflamação correlacionado com acúmulo de placas beta-amiloide e tau.

  • Doença de Parkinson (DP): Ativação microglial em regiões como substância negra.

  • Esclerose Múltipla (EM): Monitoramento da ativação glial em lesões desmielinizantes.

  • Traumatismo Cranioencefálico (TCE) e AVC: Avaliação do papel da neuroinflamação secundária no dano cerebral.

  • Doenças psiquiátricas: Esquizofrenia e depressão maior podem ter um componente neuroinflamatório detectável via PET-TSPO.

4. Limitações e Desafios

  • Especificidade do TSPO: Embora seja um marcador inflamatório, TSPO não diferencia entre ativação pró-inflamatória e anti-inflamatória da micróglia.

  • Efeito do polimorfismo TSPO: Indivíduos com certas variantes genéticas podem apresentar menor captação de radiotraçadores, complicando a interpretação.

  • Alto custo e disponibilidade: Radiotraçadores PET requerem síntese específica e infraestrutura avançada. A cobertura do PET-TSPO neurológico por planos de saúde pode ser limitada. Além disso, no Sistema Único de Saúde (SUS), a cobertura para esse exame é restrita a casos específicos.

O uso da imagem PET-TSPO continua sendo uma ferramenta valiosa para entender o papel da neuroinflamação em doenças neurológicas, ajudando no diagnóstico precoce e no monitoramento da progressão da doença e resposta a tratamentos. Existem outros marcadores para neuroinflamação, mas o PET-TSPO continua sendo o mais utilizado (Chauveau et al., 2024).

Sridharan et al., 2017 - A imagem fornece evidências visuais e quantitativas da distribuição e captação de três diferentes radiotraçadores de TSPO em um modelo de neuroinflamação leve usando diferentes biomarcadores.

Como alternativa aos exames de imagem existem os exames metabolômicos, que podem identificar biomarcadores inflamatórios no sangue e na urina, fornecendo um perfil metabólico detalhado da inflamação, apesar de não serem específicos para neuroinflamação.

🩸 Biomarcadores Inflamatórios no Sangue

Esses biomarcadores refletem processos inflamatórios em curso, incluindo neuroinflamação e inflamação sistêmica:

1️⃣ Lipídios pró e anti-inflamatórios

  • Eicosanoides (derivados do ácido araquidônico): prostaglandinas (PGE₂), leucotrienos (LTB₄), tromboxanos (TXB₂).

  • Ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs): relação ômega-3/ômega-6 pode indicar inflamação crônica.

  • Resolvinas, maresinas e lipoxinas: mediadores lipídicos anti-inflamatórios.

2️⃣ Outros Metabólitos Relevantes

  • Proteína C-reativa (PCR) metabólica

  • Metabólitos do ciclo do ácido cítrico (TCA/Krebs): disfunção metabólica ligada à inflamação.

  • Metilação da homocisteína (ligada ao metabolismo do folato e B12, indicando inflamação crônica).

💧 Biomarcadores Inflamatórios na Urina (Metabolômica)

A urina contém metabólitos que refletem inflamação sistêmica e estresse oxidativo:

1️⃣ Eicosanoides e Metabólitos Lipídicos

  • Prostaglandinas urinárias (PGE-M, PGD-M, TXB₂-M): indicam inflamação ativa.

  • Isoprostanos (8-iso-PGF2α): biomarcadores de estresse oxidativo.

2️⃣ Metabólitos do Triptofano

  • Ácido quinurênico e quinolínico: indicam ativação da via inflamatória do triptofano.

  • Serotonina urinária (reduzida na inflamação crônica).

3️⃣ Ácidos Orgânicos e Aminoácidos

  • Cetonas e metabólitos do ciclo do ácido cítrico (TCA): marcadores de disfunção mitocondrial inflamatória.

  • Metabólitos da tirosina (ácido homogentísico, ácido vanilmandélico): podem indicar inflamação associada a estresse oxidativo.

4️⃣ Indicadores de Disfunção Redox e Estresse Oxidativo

  • GSSG/GSH (glutationa oxidada/reduzida): menor relação GSH/GSSG sugere estresse oxidativo e inflamação.

  • Metilmalonato (MMA): indica disfunção mitocondrial e inflamação crônica.

Aprenda mais em https://t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Autismo e depressão

A relação entre autismo e depressão foi explorada em vários estudos, destacando vários aspectos dessa interação complexa:

Um estudo envolvendo 1.024 estudantes universitários encontrou uma correlação positiva significativa entre traços autistas e depressão (r = 0,39, p < 0,001). Foi observado que a regulação emocional interpessoal e a autoeficácia social desempenharam papéis mediadores nessa relação, sugerindo que aprimorar essas habilidades poderia ajudar a mitigar a depressão em indivíduos com altos traços autistas [1].

Outro estudo focado em adultos em idade universitária de diferentes origens raciais revelou que a associação entre traços autistas e sintomas de ansiedade e depressão foi mais forte em participantes negros em comparação com participantes brancos não hispânicos. Isso ressalta a importância de considerar fatores demográficos ao examinar os resultados de saúde mental em indivíduos autistas [2].

A pesquisa indicou que a ansiedade e a depressão podem mediar a relação entre traços autistas e outros problemas, como comportamento de acumulação. Em uma grande amostra de estudantes universitários chineses, efeitos mediadores significativos de ansiedade e depressão foram observados, sugerindo que esses estados emocionais poderiam influenciar a manifestação de traços autistas [3].

Um estudo sobre estudantes universitários iranianos descobriu que a resolução de problemas sociais mediou parcialmente a relação entre traços autistas e depressão. Isso indica que dificuldades na resolução de problemas podem contribuir para o aumento da vulnerabilidade à depressão entre aqueles com traços autistas [4].

No geral, essas descobertas destacam uma associação consistente entre autismo e depressão, com vários fatores mediadores, como regulação emocional, ansiedade e resolução de problemas sociais desempenhando papéis significativos nessa relação. Um outro fator que contribui para a depressão no autismo é a neuroinflamação.

Aprenda mais nos cursos online:

Referências

1) C Liu et al. The Association Between Autistic Traits and Depression in College Students: The Mediating Roles of Interpersonal Emotion Regulation and Social Self-Efficacy. Psychology research and behavior management (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39559710/

2) MR Kurtz et al. The role of the broader autism phenotype in anxiety and depression in college-aged adults. Frontiers in psychiatry (2023). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/37342174/

3) W Xu et al. Relationship between autistic traits and hoarding in a large non-clinical Chinese sample: mediating effect of anxiety and depression. Psychological reports (2015). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25650639/

4) ZS Einadab et al. Mediating Role of Social Problem-Solving on the Relationship between Autistic Traits and Depression in a Non-Clinical Iranian Sample. Iranian journal of public health (2022). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36415796/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Neuroinflamação no autismo

Há pesquisas sugerindo que níveis mais altos de suporte no autismo (como os níveis 2 e 3 do DSM-5) podem estar associados a maior neuroinflamação. Uma hipótese é a de que pessoas diagnosticadas no espectro autista com maior severidade dos sintomas podem apresentar aumento da ativação microglial e níveis elevados de citocinas inflamatórias no cérebro e no líquido cefalorraquidiano.

A partir de dentes de leite doados por crianças com e sem autismo, os grupos de pesquisa liderados pelos neurocientistas brasileiros Patricia Beltrão Braga, da USP, e Alysson R. Muotri, da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, confirmaram que uma inflamação em células cerebrais chamadas astrócitos pode estar associada ao desenvolvimento de uma forma grave desse transtorno. Mais importante: ao menos em laboratório, o controle da inflamação nos astrócitos reverteu alterações que ela provoca nos neurônios, as células responsáveis por transmitir e armazenar informações no cérebro e que se encontram mais imaturas nessa forma de autismo (1).

No entanto, essa relação ainda não é totalmente compreendida. A neuroinflamação pode estar envolvida em alguns dos mecanismos do autismo, mas não é necessariamente a causa direta da necessidade de suporte mais alto. Outros fatores, como diferenças na conectividade cerebral, genética e metabolismo, também desempenham um papel importante.

Um estudo indicou que anormalidades neuroimunes, incluindo neuroinflamação, podem contribuir para a diversidade de fenótipos autistas. Isso sugere que a neuroinflamação pode desempenhar um papel na condição geral de indivíduos com autismo, apesar de nem sempre se correlacionar ao nível de suporte necessário (2).

Outro estudo explorou a relação entre habilidades da teoria da mente e gravidade do autismo, indicando que crianças com autismo mais grave (e potencialmente maiores necessidades de suporte) foram identificadas por meio de suas habilidades cognitivas. No entanto, este estudo não abordou a neuroinflamação diretamente (3).

Um estudo observacional separado destacou que adultos autistas relataram necessidades não atendidas relacionadas à saúde mental e condições de neurodesenvolvimento, mas, novamente, não estabeleceu uma ligação direta com a neuroinflamação (4).

Referências

1) Russo FB, Freitas BC, Pignatari GC, Fernandes IR, Sebat J, Muotri AR, Beltrão-Braga PCB. Modeling the Interplay Between Neurons and Astrocytes in Autism Using Human Induced Pluripotent Stem Cells. Biol Psychiatry. 2018 Apr 1;83(7):569-578. doi: 10.1016/j.biopsych.2017.09.021. Epub 2017 Oct 3. PMID: 29129319.

2) CA Pardo et al. Immunity, neuroglia and neuroinflammation in autism. International review of psychiatry (Abingdon, England) (2006). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16401547/

3) M Hoogenhout et al. Theory of mind predicts severity level in autism. Autism : the international journal of research and practice (2016). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27493232/

4) C Jose et al. The Associations Between Clinical, Social, Financial Factors and Unmet Needs of Autistic Adults: Results from an Observational Study. Autism in adulthood : challenges and management (2021). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36605370/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/