Microbiota e autismo

O artigo "An anxious relationship between Autism Spectrum Disorder and Gut Microbiota: A tangled chemistry?" explora a ligação entre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a microbiota intestinal, destacando os seguintes pontos principais:

  • Relação bidirecional entre intestino e cérebro: Existe uma conexão bidirecional, conhecida como eixo microbiota-intestino-cérebro, que permite a troca de informações entre as bactérias intestinais e o sistema nervoso central. Quando a homeostase do microambiente intestinal é desregulada, isso pode causar estresse oxidativo, afetando células neuronais e neurotransmissores, o que pode levar a distúrbios do neurodesenvolvimento.

  • Diferenças na composição da microbiota intestinal: Estudos confirmaram diferenças na constituição das bactérias intestinais entre indivíduos com TEA e seus controles. A disbiose intestinal observada em indivíduos com TEA é caracterizada por um aumento de patógenos intestinais e uma diminuição de bactérias benéficas. Algumas alterações comuns observadas são:

    • Redução de bactérias produtoras de butirato (importantes para a saúde intestinal e a regulação do sistema imunológico).

    • Aumento de bactérias patogênicas, como Clostridium e Bacteroides, que estão associadas a inflamação intestinal.

    • Alterações na diversidade bacteriana, com menor variedade de espécies de bactérias benéficas no intestino.

  • Inflamação e TEA: O artigo destaca que a inflamação intestinal desempenha um papel importante na fisiopatologia do TEA. O aumento da inflamação crônica no trato gastrointestinal pode desencadear uma resposta imunológica que afeta o cérebro. Isso pode resultar em um desequilíbrio na produção de neurotransmissores, como o ácido gama-aminobutírico (GABA) e a serotonina, que estão envolvidos em processos neurais importantes para o comportamento e funções cognitivas.

    Além disso, a inflamação sistêmica observada em indivíduos com TEA pode ser mediada por moléculas inflamatórias como as citocinas e outras substâncias químicas produzidas por células do sistema imunológico. O estresse oxidativo e a disfunção na microbiota intestinal também contribuem para esse processo inflamatório.

  • Intervenções dietéticas e terapêuticas: O artigo aborda várias estratégias que têm mostrado algum efeito na modulação da microbiota intestinal e, possivelmente, na melhoria dos sintomas do TEA:

    • Probióticos e prebióticos: O uso de probióticos (bactérias benéficas) e prebióticos (substâncias que promovem o crescimento de boas bactérias) pode ajudar a restaurar o equilíbrio da microbiota intestinal e reduzir a inflamação. Estudos sugerem que certos probióticos, como Lactobacillus e Bifidobacterium, podem melhorar a função gastrointestinal e até reduzir alguns sintomas comportamentais associados ao TEA.

    • Dieta sem glúten e sem caseína (SGSC): Embora a dieta sem glúten e sem caseína seja uma intervenção popular entre os pais de crianças com TEA, o artigo observa que ainda há falta de evidências sólidas para apoiar a eficácia dessa dieta na melhoria dos sintomas comportamentais do TEA. Contudo, alguns estudos mostram melhorias na saúde intestinal e na redução de sintomas gastrointestinais.

    • Dieta rica em ácidos graxos de cadeia curta: Dietas que incentivam a produção de ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, podem ajudar na saúde intestinal e na modulação da microbiota. Alimentos ricos em fibras e carboidratos fermentáveis podem ajudar nesse processo.

Além das intervenções dietéticas, o artigo menciona o uso de suplementos que podem ter impacto positivo no TEA, tais como:

  • Ácidos graxos essenciais (como ômega-3): Estudos sugerem que suplementos de ômega-3, que têm propriedades anti-inflamatórias, podem ajudar a melhorar o comportamento e as funções cognitivas em pessoas com TEA.

  • Vitaminas e minerais: Algumas deficiências vitamínicas (como vitamina D e vitamina B12) podem ser mais comuns em indivíduos com TEA. A suplementação com essas vitaminas tem mostrado benefícios para melhorar aspectos do desenvolvimento neurocognitivo e do comportamento.

  • Antioxidantes: O uso de suplementos antioxidantes, como vitamina C e vitamina E, pode ajudar a reduzir o estresse oxidativo e a inflamação associada ao TEA.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Estresse oxidativo no autismo

O artigo "The Role of Nutrition, Oxidative Stress, and Trace Elements in the Pathophysiology of Autism Spectrum Disorders" analisa como fatores nutricionais, estresse oxidativo e elementos traço podem influenciar o desenvolvimento e a progressão dos Transtornos do Espectro Autista (TEA).

Principais pontos do artigo:

  1. Nutrição e TEA – Deficiências nutricionais, como baixos níveis de vitaminas do complexo B, vitamina D e ácidos graxos ômega-3, podem afetar o desenvolvimento neurológico e agravar sintomas do TEA.

  2. Estresse Oxidativo – Indivíduos com TEA frequentemente apresentam altos níveis de estresse oxidativo, com produção excessiva de radicais livres e deficiências em antioxidantes como a glutationa. Isso pode contribuir para inflamações cerebrais e disfunções neuronais.

  3. Elementos Traço – Desequilíbrios em metais essenciais (como zinco, ferro e selênio) e exposição a metais tóxicos (como chumbo e mercúrio) podem estar associados a déficits cognitivos e comportamentais em pessoas com TEA.

  4. Papel da Dieta e Suplementação – Intervenções dietéticas, incluindo suplementação com antioxidantes e correção de deficiências nutricionais, podem ajudar a modular sintomas e melhorar a qualidade de vida de pacientes com TEA.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Análises de precisão no autismo

A medicina e a nutrição de precisão visam adaptar avaliações de risco, diagnósticos, prevenções e terapias às características únicas de cada indivíduo, melhorando a qualidade de vida e a saúde pública (Gabis, Gross, & Barbaro, 2021). Estas ciências buscam combinar novos tratamentos baseados em mecanismos patofisiológicos com testes objetivos (biomarcadores de estratificação) para prever qual tratamento pode ser benéfico para uma pessoa em particular.

Embora alguns indivíduos com TEA sejam altamente funcionais e necessitem de pouco ou nenhum suporte para viver de forma independente, outros são moderada a severamente afetados, o que pode reduzir drasticamente a qualidade de vida deles e de suas famílias. Para esses indivíduos, uma abordagem  de precisão pode levar a uma mudança crítica no cuidado (Kostic, & Buxbaum, 2021).

Historicamente, diversos tratamentos, incluindo análise comportamental aplicada, treinamento de habilidades sociais, terapia ocupacional, fisioterapia, terapia de integração sensorial e o uso de tecnologias assistivas, têm melhorado a vida de indivíduos afetados. No entanto, a variabilidade na resposta ao tratamento destaca a necessidade de abordagens cada vez mais personalizadas.

A relação entre distúrbios metabólicos e o transtorno do espectro autista (TEA) ganhou força com evidências crescentes de que fatores como excesso de amônia, disfunções mitocondriais e desequilíbrios da microbiota intestinal, níveis elevados de glutamina, glicina e ornitina estão presentes em subgrupos significativos de pacientes (Smith et al., 2019).

Um estudo publicado em 2020 identificou que crianças autistas apresentavam níveis fecais de amônia significativamente mais altos que os controles neurotípicos, além de metabolismo de aminoácidos alterado e estresse oxidativo acentuado (Saleem et al., 2020). Disbiose intestinal e hiperamonemia devem ser monitoradas em casos de regressão, autismo regressivo ou TEA com sintomas flutuantes

Estudos mostram que no caso de disfunção mitocondrial estratégias como dieta low carb ou cetogênica, suplementos específicos (coenzima Q10, NAC e vitaminas do complexo B) devem ser considerados (Frye, & Rossignol, 2016).

Outro estudo mostrou alterações na microbiota oral e contribuição de enzimas das vias de degradação da serotonina, GABA e dopamina. Estudar a mirobiota oral e fecal é muito importante (Manghi et al., 2024).

O estudo intitulado "A robust microbiome signature for autism spectrum disorder across different studies using machine learning" investigou a associação entre o microbioma intestinal e o transtorno do espectro autista (TEA). A análise identificou 26 táxons bacterianos que podem prever o status de TEA com uma área sob a curva (AUC) superior a 80% nos classificadores de melhor desempenho. Esses resultados sugerem uma forte associação entre o microbioma intestinal e o TEA, indicando o potencial do microbioma como alvo para intervenções terapêuticas.

Especificamente, a análise revelou uma redução de bifidobactérias em crianças com TEA, o que está associado a alterações no metabolismo do triptofano, um composto relacionado à gravidade do TEA. Além disso, foram observados níveis anormais de Clostridia, bactérias associadas a uma maior suscetibilidade a distúrbios do neurodesenvolvimento e a certos parâmetros comportamentais no TEA. Houve também uma redução de Butyricicoccus, cuja recuperação foi observada em modelos animais de TEA após transplante de microbiota fecal (Peralta-Marzal et al., 2024).

Essas alterações não apenas reforçam o papel do eixo intestino-cérebro, como também sustentam o uso do testes metagenômicos e metabolômicos de ácidos orgânicos (OAT) como ferramenta complementar na avaliação clínica do autismo. Um estudo com cromatografia gasosa e espectrometria de massa mostrou que os perfis de ácidos orgânicos na urina podem ajudar no rastreio metabólico do autismo. Em paralelo, marcadores bacterianos de Clostridia, altamente frequentes nos resultados de OAT em pacientes autistas, têm sido associados a sintomas como agressividade, irritabilidade, distúrbios do sono e comportamentos estereotipados (Vellingiri et al., 2022). Observar mudança de odor na urina é importante.

Estudos de ácidos orgânicos urinários, como ácidos oxálico, láctico e arabinose ajudam no tratamento precoce de questões de saúde. Ácido oxálico urinário alto pode incluir no caso de cálculos, mas também em distúrbios metabólicos e síndromes de má absorção intestinal. Ácido lático elevado é comum na disfunção mitocondrial e na deficiência de tiamina. Arabinose elevada pode surgir quando há supercrescimento de fungos no intestino (Sertoglu et al., 2023).
Os dados atuais apontam para uma nutrição de precisão voltada ao perfil metabólico de cada indivíduo com TEA, com potencial de transformar abordagens clínicas e melhorar desfechos. Aprenda mais nos cursos de genômica nutricional e nutrição no autismo.

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