Genética e estresse oxidativo

A interpretação dos polimorfismos nesses genes em relação ao risco de estresse oxidativo aumentado deve considerar suas funções na defesa antioxidante, no metabolismo de radicais livres e na resposta inflamatória. São muitos genes importantes e a interpretação ideal é feita de forma agregada, por meio de algorítimos estatísticos:

1. Genes Envolvidos na Neutralização de Espécies Reativas de Oxigênio (ROS)

Esses genes codificam enzimas antioxidantes que neutralizam radicais livres e protegem contra danos oxidativos:

  • SOD1, SOD2, SOD3 (Superóxido Dismutase 1, 2 e 3)

    • SOD1 (citoplasmática), SOD2 (mitocondrial) e SOD3 (extracelular) convertem o radical superóxido (O₂⁻) em peróxido de hidrogênio (H₂O₂).

    • Polimorfismos na SOD2 (Val16Ala, rs4880) estão associados a menor atividade mitocondrial da enzima e maior risco de dano oxidativo.

  • CAT (Catalase)

    • Decompõe H₂O₂ em água e oxigênio.

    • Variantes podem reduzir sua eficiência, aumentando os níveis de peróxido na célula.

  • GPX1, GPX3, GPX4 (Glutationa Peroxidase 1, 3 e 4)

    • Reduzem o peróxido de hidrogênio e lipídios oxidados.

    • Polimorfismos, como rs1050450 (GPX1 Pro198Leu), podem reduzir a atividade antioxidante.

  • GSR (Glutationa Redutase)

    • Regenera o glutationa reduzido (GSH), essencial para a defesa antioxidante.

    • Polimorfismos podem afetar a reciclagem da glutationa e aumentar o estresse oxidativo.

  • GSTP1, GSTM1 (Glutationa S-Transferases Pi e Mu 1)

    • Atuam na detoxificação de radicais livres e metabólitos oxidativos.

    • A deleção de GSTM1 (gene nulo) está associada a maior vulnerabilidade ao estresse oxidativo.

2. Genes Envolvidos no Metabolismo de Substâncias Oxidantes

Esses genes influenciam a degradação de compostos tóxicos e a sensibilidade ao estresse oxidativo:

  • ALDH2 (Aldeído Desidrogenase 2)

    • Degrada aldeídos tóxicos, incluindo os gerados pelo estresse oxidativo.

    • O polimorfismo rs671 (Glu504Lys) reduz sua atividade, aumentando a suscetibilidade ao dano oxidativo.

  • G6PD (Glicose-6-Fosfato Desidrogenase)

    • Mantém os níveis de NADPH para regeneração da glutationa.

    • Deficiências genéticas podem levar a maior vulnerabilidade ao dano oxidativo.

  • NQO1 (NAD(P)H Quinona Oxidorredutase 1)

    • Metaboliza quinonas para evitar a formação de radicais livres.

    • O polimorfismo rs1800566 (C609T) reduz a atividade enzimática, aumentando o estresse oxidativo.

  • EPHX1 (Epóxido Hidrolase 1)

    • Atua na detoxificação de epóxidos tóxicos, reduzindo o risco de danos oxidativos.

    • Polimorfismos podem aumentar ou reduzir sua atividade.

3. Genes Reguladores da Resposta ao Estresse Oxidativo

Esses genes influenciam a ativação de mecanismos antioxidantes e a resposta ao estresse celular:

  • NFE2L2 (Nrf2 – Nuclear Factor Erythroid 2-Related Factor 2)

    • Regula a expressão de enzimas antioxidantes.

    • Polimorfismos podem reduzir sua ativação, diminuindo a defesa antioxidante.

  • SIRT6 (Sirtuína 6)

    • Modula a resposta ao estresse oxidativo e a longevidade celular.

    • Polimorfismos podem influenciar a resistência ao dano oxidativo.

4. Genes Relacionados à Inflamação e Estresse Oxidativo

A inflamação crônica pode aumentar a produção de radicais livres, piorando o estresse oxidativo:

  • IL-6 (Interleucina-6)

    • Regula a inflamação e pode aumentar o estresse oxidativo.

    • O polimorfismo rs1800795 (-174G>C) está associado a níveis elevados de IL-6 e maior inflamação.

  • TNF (Fator de Necrose Tumoral Alfa)

    • Polimorfismos, como rs1800629 (-308G>A), aumentam a expressão de TNF-α, amplificando o estresse oxidativo.

  • TLR4 (Toll-Like Receptor 4)

    • Modula a resposta inflamatória a patógenos.

    • Variantes podem aumentar a ativação inflamatória e o dano oxidativo.

5. Outros Genes Relacionados ao Estresse Oxidativo

  • ADA (Adenosina Desaminase): Relacionada à modulação da resposta imune e inflamatória, podendo afetar indiretamente o estresse oxidativo.

  • CBS (Cistationina Beta-Sintase): Envolvida no metabolismo da homocisteína, um fator pró-oxidativo.

  • HFE (Gene da Hemocromatose): Relacionado à homeostase do ferro, impactando a produção de radicais livres via reação de Fenton.

  • SELENOF (Selenoproteína F): Atua na resposta antioxidante, auxiliando na proteção contra danos oxidativos.

  • SLC2A14 (Transportador de Glicose 14): Regula o metabolismo energético celular, influenciando indiretamente a produção de ROS.

  • ZNF648: Possível envolvimento na regulação da expressão gênica em resposta ao estresse oxidativo.

Conclusão

Os polimorfismos nesses genes podem aumentar o risco de estresse oxidativo ao reduzir a capacidade antioxidante, comprometer a detoxificação de metabólitos tóxicos ou amplificar a inflamação. Indivíduos com variantes de SOD2, GPX1, GSTM1, NQO1, NFE2L2, IL-6 e TNF podem apresentar maior suscetibilidade ao dano oxidativo, sendo recomendável adotar estratégias antioxidantes (alimentação rica em antioxidantes, controle da inflamação e redução da exposição a estressores ambientais).

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Genética e funcionamento mitocondrial

A interpretação dos polimorfismos desses genes em relação ao funcionamento mitocondrial pode ser dividida em diferentes categorias, considerando suas funções e interações com o metabolismo energético, o transporte de elétrons e a biogênese mitocondrial. Algorítmos estatísticos são usados para interpretação de alteração de genes associados a metabolismo mitocondrial, incluindo:

1. Genes Relacionados à Biogênese Mitocondrial e Regulação do Metabolismo Energético

  • PPARGC1A, PPARGC1B: Regulam a biogênese mitocondrial e a função oxidativa. Polimorfismos nesses genes podem afetar a eficiência da produção de ATP e a resistência à fadiga.

  • PPARA, PPARD, PPARG: Envolvidos na regulação da oxidação de ácidos graxos e metabolismo lipídico, com impacto no funcionamento mitocondrial e na resistência muscular.

  • NRG1: Relacionado ao desenvolvimento neuromuscular e à regulação da função mitocondrial.

2. Genes Relacionados à Cadeia Transportadora de Elétrons e Produção de ATP

  • MT-ND4 (DNA mitocondrial), NDUFS3, NDUFS7, NDUFS8: Componentes do complexo I da cadeia transportadora de elétrons. Polimorfismos podem afetar a eficiência da produção de ATP e gerar maior produção de radicais livres.

  • ATP5G3: Participa da síntese de ATP na mitocôndria. Alterações podem reduzir a capacidade de regeneração energética celular.

  • UQCRC2: Componente do complexo III da cadeia transportadora de elétrons, envolvido na produção de ATP e no controle do estresse oxidativo.

  • SUCLA2: Importante para o metabolismo energético mitocondrial, atuando na regeneração do GDP e GTP, essenciais para a manutenção do ciclo de Krebs.

3. Genes Relacionados ao Transporte e Metabolismo de Substratos Energéticos

  • SLC16A1 (MCT1): Codifica transportadores de monocarboxilatos (como lactato). Polimorfismos podem influenciar o metabolismo anaeróbico e a fadiga muscular.

  • MCT1: Influencia o transporte de lactato entre células musculares e mitocôndrias, impactando a capacidade de resistência.

  • AMPD1: Envolvido na degradação de nucleotídeos de adenosina, influenciando a recuperação energética pós-exercício.

4. Genes Relacionados à Hipóxia e Adaptação ao Estresse Oxidativo

  • HIF1A, EPAS1: Regulam a resposta à hipóxia e influenciam a eficiência do metabolismo aeróbico e a angiogênese.

  • NOS3: Relacionado à produção de óxido nítrico, influenciando a vasodilatação e o fornecimento de oxigênio para as mitocôndrias.

  • UCP2: Envolvido na dissipação do potencial de membrana mitocondrial e na redução da produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), podendo afetar a eficiência energética.

5. Genes Relacionados à Inflamação e Resiliência Mitocondrial

  • IL-6, CRP: Marcadores inflamatórios que podem afetar a função mitocondrial indiretamente, alterando a homeostase energética.

  • MMP3: Relacionado à remodelação da matriz extracelular, podendo impactar a integridade celular e a função mitocondrial em situações de estresse físico.

6. Genes Relacionados à Regulação Hormonal e do Ritmo Circadiano

  • CLOCK: Regula o ritmo circadiano e pode influenciar o metabolismo mitocondrial ao modular a demanda energética ao longo do dia.

  • TRHR: Relacionado à regulação da tireoide, afetando indiretamente o metabolismo energético mitocondrial.

Conclusão

A interpretação dos polimorfismos nesses genes depende do contexto específico (por exemplo, desempenho esportivo, doenças mitocondriais, metabolismo energético). Polimorfismos em genes da cadeia transportadora de elétrons podem afetar a produção de ATP, enquanto aqueles relacionados à biogênese mitocondrial e metabolismo energético podem modular a eficiência do uso de substratos e a resposta ao estresse oxidativo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Como analisar neurotransmissores?

A análise de neurotransmissores pode ser feita de diversas formas, dependendo do objetivo do estudo e da tecnologia disponível. Aqui estão algumas das principais técnicas usadas para medir e estudar neurotransmissores no cérebro e no corpo:

1. Métodos Bioquímicos e Eletroquímicos

  • Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC): Técnica sensível para detectar e quantificar neurotransmissores em amostras biológicas (como sangue, líquor ou tecidos cerebrais).

  • Espectrometria de Massas (MS): Muitas vezes acoplada à HPLC para aumentar a precisão na identificação e quantificação de neurotransmissores.

  • Eletroquímica (Voltametria Cíclica e Amperometria): Usa eletrodos para medir diretamente a liberação e captação de neurotransmissores no cérebro em tempo real.

2. Métodos de Imagem e Neuroimagem

  • Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET): Utiliza radiofármacos para visualizar a atividade de neurotransmissores no cérebro.

  • Ressonância Magnética Funcional (fMRI): Embora não meça diretamente neurotransmissores, pode inferir mudanças em sua atividade com base no fluxo sanguíneo cerebral.

  • Espectroscopia por Ressonância Magnética (MRS): Variante da ressonância magnética que pode quantificar certos neurotransmissores, como glutamato e GABA.

3. Métodos Genéticos e Moleculares

  • PCR e Western Blot: Usados para analisar a expressão gênica e proteica de enzimas envolvidas na síntese e degradação de neurotransmissores.

  • Microdiálise: Técnica invasiva que coleta amostras de fluido extracelular no cérebro para posterior análise química.

4. Métodos Indiretos

  • Testes de Metabólitos em Urina e Plasma: Alguns metabólitos de neurotransmissores, como ácido homovanílico (dopamina) ou ácido 5-hidroxiindolacético (serotonina), podem ser analisados no sangue ou urina para inferir seus níveis.

  • Testes Neuropsicológicos e Eletrofisiológicos (EEG): Podem indicar alterações funcionais ligadas a neurotransmissores, embora não os meçam diretamente.

Cada método tem suas vantagens e limitações, e a escolha depende do contexto clínico ou de pesquisa.

1. Métodos Bioquímicos e Eletroquímicos

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC)

Vantagens:

  • Alta precisão e sensibilidade na quantificação de neurotransmissores.

  • Pode ser usada com diferentes tipos de amostras biológicas (sangue, líquor, tecido cerebral).

  • Quando acoplada à espectrometria de massas (HPLC-MS), permite uma detecção ainda mais específica.

Desvantagens:

  • Requer processamento da amostra, o que pode alterar a composição original.

  • Não fornece informações sobre a dinâmica dos neurotransmissores em tempo real.

  • Equipamento caro e necessidade de técnicos especializados.

Espectrometria de Massas (MS)

Vantagens:

  • Altíssima precisão e especificidade na identificação dos neurotransmissores e seus metabólitos.

  • Detecta neurotransmissores em concentrações muito baixas.

  • Pode ser usada para análise simultânea de múltiplos compostos.

Desvantagens:

  • Processo demorado e caro.

  • Requer equipamentos sofisticados e pessoal altamente treinado.

  • Amostras podem precisar de preparação complexa.

Eletroquímica (Voltametria Cíclica e Amperometria)

Vantagens:

  • Mede neurotransmissores em tempo real, permitindo estudo dinâmico da liberação e captação.

  • Pode ser aplicada diretamente em tecidos vivos (in vivo).

  • Boa resolução temporal para estudar eventos rápidos.

Desvantagens:

  • Poucos neurotransmissores podem ser detectados diretamente por esse método.

  • Eletrodos podem interferir no ambiente biológico e causar danos aos tecidos.

  • Exige calibração rigorosa para evitar interferências de outros compostos.

2. Métodos de Imagem e Neuroimagem

Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET)

Vantagens:

  • Permite visualizar neurotransmissores e seus receptores no cérebro vivo.

  • Alta especificidade para diferentes tipos de neurotransmissores, dependendo do radiofármaco utilizado.

  • Técnica não invasiva em humanos.

Desvantagens:

  • Exposição à radiação, o que limita o uso frequente.

  • Alto custo e necessidade de ciclotron para produzir radiofármacos.

  • Resolução espacial inferior à da ressonância magnética.

Ressonância Magnética Funcional (fMRI)

Vantagens:

  • Técnica não invasiva e sem radiação.

  • Fornece informações sobre mudanças na atividade cerebral relacionadas a neurotransmissores.

  • Boa resolução espacial.

Desvantagens:

  • Mede indiretamente a atividade dos neurotransmissores (através do fluxo sanguíneo).

  • Não pode identificar neurotransmissores específicos.

  • Equipamento caro e análise complexa.

Espectroscopia por Ressonância Magnética (MRS)

Vantagens:

  • Não invasiva e pode medir neurotransmissores como GABA e glutamato diretamente no cérebro.

  • Pode ser combinada com fMRI para análises mais completas.

Desvantagens:

  • Baixa sensibilidade em comparação com técnicas químicas.

  • Só detecta alguns neurotransmissores.

  • Equipamento e análise são complexos.

3. Métodos Genéticos e Moleculares

PCR e Western Blot

Vantagens:

  • Identificam a expressão gênica e proteica de enzimas relacionadas aos neurotransmissores.

  • Alta sensibilidade e especificidade.

Desvantagens:

  • Não mede neurotransmissores diretamente, apenas os fatores envolvidos na sua produção e degradação.

  • Exige processamento das amostras.

Microdiálise

Vantagens:

  • Mede neurotransmissores diretamente no cérebro vivo.

  • Pode ser combinada com HPLC-MS para alta precisão.

Desvantagens:

  • Técnica invasiva (uso de sondas no tecido cerebral).

  • Baixa resolução temporal (não capta mudanças rápidas).

  • Exige anestesia e pode alterar a fisiologia natural do cérebro.

4. Métodos Indiretos

Testes de Metabólitos em Urina e Plasma

Vantagens:

  • Técnica simples e não invasiva.

  • Boa para avaliar padrões gerais de neurotransmissores.

  • Possibilidade de uso por nutricionistas.

Desvantagens:

  • Mede apenas metabólitos, não neurotransmissores diretamente.

  • Influenciado por diversos fatores (alimentação, metabolismo, estresse).

Testes Neuropsicológicos e Eletrofisiológicos (EEG)

Vantagens:

  • EEG tem alta resolução temporal e é não invasivo.

  • Pode indicar desequilíbrios neuroquímicos de forma indireta.

Desvantagens:

  • Não mede neurotransmissores diretamente.

  • Difícil correlacionar EEG com neurotransmissores específicos.

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