A interface nutrição e ecopsicologia

A ecopsicologia e a nutrição são campos com fortes implicações para o bem-estar humano e a sustentabilidade, e elas se cruzam de maneiras interessantes.

Ecopsicologia

A ecopsicologia explora a relação entre os seres humanos e o mundo natural, enfatizando os benefícios psicológicos e emocionais de se conectar com a natureza. Seus objetivos incluem promover a preservação ambiental, fomentar um senso de interconexão com a Terra e abordar os impactos psicológicos de questões ambientais (por exemplo, ansiedade climática).

Princípios-chave da ecopsicologia:

  1. Os humanos fazem parte do mundo natural, e não estão separados dele.

  2. A desconexão da natureza contribui para o sofrimento mental e emocional.

  3. Curar o planeta e curar as pessoas são processos interligados.

Atividades como terapia na natureza, ecoterapia, banhos de floresta e projetos de espaços verdes são aplicações práticas da ecopsicologia.

Nutrição

A nutrição se concentra no impacto dos alimentos na saúde e no bem-estar humano. Este campo abrange os aspectos biológicos, sociais e culturais da dieta e dos sistemas alimentares.

Princípios-chave da nutrição:

  1. A comida é remédio; uma dieta equilibrada apoia a saúde física e mental.

  2. As escolhas alimentares afetam não apenas a saúde pessoal, mas também os ecossistemas globais (por exemplo, através da agricultura sustentável).

  3. Fatores culturais, sociais e ambientais moldam os padrões alimentares.

Interseções entre Ecopsicologia e Nutrição

1. Alimentação Consciente e Conexão com a Natureza

  • Aspecto da Ecopsicologia: A alimentação consciente incentiva as pessoas a apreciarem a origem dos alimentos e sua conexão com a natureza, promovendo gratidão e consciência ecológica.

  • Aspecto da Nutrição: Prestar atenção às escolhas alimentares pode melhorar a qualidade da dieta e reduzir o consumo excessivo, enquanto práticas conscientes também ajudam a lidar com a alimentação emocional.

2. Sistemas Alimentares Sustentáveis

  • Aspecto da Ecopsicologia: Compreender o impacto ambiental da produção de alimentos (por exemplo, agricultura industrial, desmatamento) incentiva comportamentos ecologicamente responsáveis.

  • Aspecto da Nutrição: Dietas sustentáveis que enfatizam alimentos à base de plantas, produtos locais e a redução do desperdício de alimentos beneficiam tanto a saúde humana quanto o planeta.

3. O Papel Terapêutico da Natureza na Produção de Alimentos

  • Atividades como jardinagem, agricultura e coleta de alimentos possuem benefícios terapêuticos, como redução do estresse, melhoria da saúde mental e fortalecimento do senso de propósito.

  • Alimentos cultivados diretamente melhoram a qualidade nutricional, criando um vínculo direto entre a cura emocional e a nutrição física.

4. Lidando com a Ansiedade Climática por Meio das Escolhas Alimentares

  • A ecopsicologia pode ajudar as pessoas a lidarem com o estresse das crises ambientais, incentivando soluções práticas.

  • Escolher dietas ecológicas (por exemplo, dietas à base de plantas ou de baixo carbono) empodera as pessoas a sentirem que estão contribuindo para a solução.

5. Comunidade e Cultura

  • Hortas comunitárias e refeições compartilhadas fortalecem laços sociais, que são essenciais para a saúde mental.

  • Celebrar alimentos locais e sazonais conecta a nutrição aos ciclos ecológicos e à identidade cultural.

Aplicações Práticas

  • Atividades Terapêuticas: Jardinagem, aulas de culinária e workshops de coleta podem combinar práticas ecopsicológicas com educação nutricional.

  • Nutrição Sustentável: Incentivar dietas à base de plantas, reduzir o desperdício de alimentos e apoiar a agricultura regenerativa aborda preocupações ambientais enquanto melhora a saúde.

  • Programas Educacionais: Escolas, terapeutas e nutricionistas podem colaborar para ensinar sobre a interdependência entre ecossistemas, sistemas alimentares e bem-estar humano.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Produção de energia: glicose x cetonas

A glicose, um açúcar simples formado por carbono, hidrogênio e oxigênio (C6H12O6), é uma das principais fontes de energia do corpo humano. Produzida a partir de carboidratos, frutose ou amidos, a glicose é essencial para alimentar processos que requerem energia, como a respiração celular. Ela é decomposta para gerar ATP (adenosina trifosfato), que alimenta quase todos os mecanismos do corpo. Quando o organismo não tem glicose suficiente, ele pode produzir glicose por dois métodos principais: glicogenólise (quebra de glicogênio armazenado) e gliconeogênese (produção a partir de fontes não-carboidratos, como lactato, especialmente durante o exercício).

Prós e Contras da Glicose

A glicose é vital para várias funções, especialmente no cérebro, que consome a maior parte da energia do corpo. Sem glicose e oxigênio suficientes, células cerebrais podem morrer, resultando em danos permanentes. Ela também é fundamental para a formação de memória e para a manutenção do equilíbrio do corpo (homeostase). Além disso, a glicose gera uma quantidade significativa de ATP por molécula, o que é benéfico para as funções corporais.

Por outro lado, níveis elevados de glicose no sangue causam hiperglicemia, podendo danificar nervos, vasos sanguíneos e órgãos, além de prejudicar a cicatrização de feridas. Quando a glicose está em níveis muito baixos, ocorre hipoglicemia, afetando o sistema nervoso central e causando fadiga e confusão. A regulação da glicose no corpo é realizada pelos hormônios insulina e glucagon, que controlam seu transporte e uso. O consumo excessivo de glicose pode levar à resistência à insulina e ao desenvolvimento de diabetes.

Produção e Uso de Cetona: Uma Alternativa à Glicose

As cetonas (CH3C(O)CH3) são moléculas solúveis em água derivadas de ácidos graxos e também fornecem energia para o corpo. Existem três tipos principais de corpos cetônicos: acetona, acetoacetato e beta-hidroxibutirato. Normalmente, o corpo produz uma pequena quantidade de cetonas continuamente, mas sua produção aumenta quando o organismo tem poucos carboidratos ou glicose disponíveis, como durante o jejum ou em condições como o diabetes ou o alcoolismo. O processo pelo qual os ácidos graxos se decompõem para formar cetonas é chamado de cetogênese, que ocorre nas mitocôndrias das células do fígado.

Quando a glicose não está disponível, o corpo recorre à cetogênese para gerar energia. A insulina regula esse processo. Quando os níveis de insulina são baixos, mais ácidos graxos são liberados, aumentando a produção de cetonas. Além disso, hormônios como glucagon, cortisol e hormônios da tireoide também desempenham papéis na regulação da cetogênese.

Dieta Cetogênica (Keto): Aumentando a Produção de Cetonas

A dieta cetogênica (ou keto) ganhou popularidade nos últimos anos e é baseada na redução drástica do consumo de carboidratos, forçando o corpo a entrar em um estado conhecido como cetose, onde a gordura se torna a principal fonte de energia. Isso ocorre quando o corpo converte os ácidos graxos em cetonas, que são usadas para gerar ATP. Alimentos como carnes, peixes gordurosos, laticínios, nozes e sementes são consumidos em vez de carboidratos, grãos e açúcares.

A dieta cetogênica tem sido associada a benefícios potenciais no tratamento de diabetes, epilepsia, doença de Alzheimer e câncer, uma vez que pode reduzir os níveis de glicose no sangue e melhorar a resistência à insulina. Além disso, a dieta pode auxiliar na perda de peso e na redução da pressão arterial.

No entanto, a dieta cetogênica pode ser muito rigorosa para algumas pessoas. Para aqueles que não desejam seguir uma mudança tão drástica, existem alternativas, como jejum intermitente ou aumento da atividade física, que também podem aumentar a produção de cetonas de maneira mais gradual.

Prós e Contras das Cetonas

As cetonas têm benefícios notáveis, especialmente para o cérebro, onde podem ser uma fonte de energia mais eficiente que a glicose. O uso de cetonas produz mais ATP por molécula do que a glicose, tornando-as uma escolha ideal para órgãos e tecidos, particularmente durante períodos de estresse ou quando a glicose não está disponível. Esse aumento na produção de cetonas tem mostrado efeitos positivos no tratamento de epilepsia, doenças cardíacas, Alzheimer e até em tumores, pois as células cancerígenas consomem grandes quantidades de glicose.

A dieta cetogênica pode ser difícil de seguir, deve ser acompanhada para não gerar carências nutricionais e efeitos colaterais iniciais, como diarreia, constipação e vômitos.

Tanto a glicose quanto as cetonas são fontes essenciais de energia para o corpo, desempenhando papéis cruciais nas funções cerebrais e na produção de ATP. A glicose é a fonte primária de energia, mas, quando não disponível, o corpo recorre à produção de cetonas como combustível alternativo. Ambas as fontes têm seus prós e contras, e a chave para um funcionamento saudável é a regulação adequada desses níveis no corpo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Hiperinsulinemia e câncer

A hiperinsulinemia (aumento do hormônio insulina) é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de muitos tipos de câncer, bem como para o aumento da mortalidade por câncer. A proporção de cancros com risco atribuível ao elevado índice de massa corporal e diabetes é estimada em 31% dos cancros do endométrio, 29% dos cancros do esófago, 18-21% dos cancros renais, 16-18% dos cancros do fígado, 13% dos cânceres de pâncreas e 7% dos cânceres de mama.

A disfunção metabólica é um desafio significativo no tratamento do câncer, uma vez que pode não apenas limitar a eficácia terapêutica, mas também ser agravada pelo próprio tratamento, criando um ciclo paradoxal de distúrbios metabólicos e resistência ao tratamento. Esse ciclo dificulta o sucesso das terapias convencionais e pode levar à progressão da doença.

No entanto, estratégias dietéticas que modulam os níveis de insulina têm surgido como opções promissoras para ajudar no tratamento do câncer. Entre as mais estudadas estão a restrição calórica, dietas de baixo carboidrato, dietas cetogênicas e o jejum intermitente.

O Impacto das Dietas na Modulação da Insulina e Tratamento do Câncer

O câncer é caracterizado por um metabolismo energético alterado, que favorece a maior proliferação celular. As células cancerígenas, ao contrário das células normais, dependem da glicólise para produzir energia, mesmo na presença de oxigênio, um fenômeno conhecido como o efeito Warburg. Essa adaptação metabólica requer uma abundância de nutrientes, como açúcares e ácidos graxos, que podem ser adquiridos pela alimentação ou pelas reservas de energia no corpo, como o tecido adiposo.

Além disso, as células cancerígenas frequentemente apresentam alterações na via de sinalização da insulina, o que promove o crescimento celular, a sobrevivência e a proliferação de tumores. A hiperinsulinemia, com o aumento da insulina circulante, tem um efeito direto sobre a produção hormonal e pode aumentar o risco de cânceres hormonais, como o câncer de mama e endometrial. Estudos clínicos também sugerem que a obesidade e a resistência à insulina estão associadas a um aumento no risco e na mortalidade por diversos tipos de câncer.

Dietas Redutoras de Insulina como Terapia Adjunta

Dietas que visam reduzir os níveis de insulina têm sido propostas como tratamentos adjuvantes ao câncer. Estas dietas podem afetar o volume tumoral e a formação de metástases de três maneiras principais:

  1. Redução das reservas de nutrientes: Diminuindo a disponibilidade de nutrientes que as células cancerígenas usam para crescer.

  2. Alteração da sinalização da insulina: Modificando os fatores de sinalização que estimulam o crescimento tumoral.

  3. Melhoria dos parâmetros metabólicos relacionados à obesidade: Reduzindo a adiposidade, dislipidemia e inflamação sistêmica.

Algumas dietas que têm sido estudadas incluem a restrição calórica (RC), a dieta cetogênica (KD), a dieta pobre em carboidratos (LCD) e o jejum intermitente (IF).

  • Restrição Calórica (RC): Consiste em uma ingestão calórica reduzida, mas com uma proporção equilibrada de macronutrientes. Embora tenha mostrado benefícios em modelos pré-clínicos de câncer, seu uso em pacientes com câncer metastático é limitado devido ao risco de perda excessiva de peso e caquexia.

  • Dieta Cetogênica (KD) e Dieta Pobre em Carboidratos (LCD): Ambas restringem a ingestão de carboidratos, com a dieta cetogênica sendo extremamente baixa em carboidratos (30-40g por dia) e a LCD com menos de 100g de carboidratos diários. Essas dietas têm mostrado melhorar a perda de peso, reduzir a adiposidade e melhorar a sensibilidade à insulina, com efeitos positivos também na pressão arterial.

  • Jejum Intermitente (IF): As estratégias de jejum intermitente incluem a Alimentação com Restrição de Tempo (TRF), que limita a ingestão de alimentos a intervalos específicos durante o dia, e a Dieta que Imita o Jejum (FMD), que ajusta tanto o tempo quanto a ingestão de macronutrientes para simular os efeitos do jejum, minimizando a fome.

Essas abordagens dietéticas têm mostrado resultados positivos em estudos pré-clínicos, ao reduzir a progressão do câncer e a formação de metástases. Elas funcionam, em parte, ao influenciar o metabolismo das células tumorais, limitando os recursos energéticos que essas células precisam para se proliferar e espalhar.

Resultados Preliminares e Desafios

Nos estudos pré-clínicos, essas dietas demonstraram algum sucesso na redução da carga de doença metastática e na melhora dos parâmetros metabólicos. No entanto, comparações diretas entre as estratégias revelaram resultados mistos. Nos estudos clínicos, a maioria das investigações focou em estratégias de restrição de carboidratos, dieta cetogênica e jejum intermitente. Alguns resultados sugeriram que a restrição de carboidratos e o jejum de curto intervalo (24-72 horas antes da quimioterapia) podem ser seguros, viáveis e promissores na melhoria de fatores metabólicos e na composição corporal. No entanto, esses estudos incluíram apenas pequenos grupos de pacientes (menos de 20), o que limita a generalização dos resultados.

Desafios no Uso de Dietas Redutoras de Insulina em Pacientes com Câncer Metastático

O uso dessas dietas em pacientes com câncer metastático apresenta desafios significativos. Entre eles estão a baixa tolerabilidade, a dificuldade de adesão a regimes restritivos, o risco de progressão da doença e a necessidade constante de ajustes nos tratamentos. Além disso, a preocupação com a perda de peso e caquexia (perda muscular e gordura excessiva) pode tornar essas intervenções mais difíceis de implementar. A complexidade do quadro clínico desses pacientes também dificulta a adesão a essas estratégias dietéticas.

Direções Futuras e Estudos em Andamento

Vários estudos estão atualmente sendo realizados para testar estratégias dietéticas de redução de insulina em pacientes com câncer metastático. A maioria desses estudos investiga diferentes graus de restrição de carboidratos, frequentemente combinados com terapias anticâncer padrão ou jejum de curto prazo. Os desfechos primários desses estudos incluem a taxa de resposta global e a sobrevida livre de progressão, enquanto a qualidade de vida é um desfecho secundário. Os resultados desses estudos, que envolverão um número maior de pacientes, podem fornecer mais informações sobre a viabilidade e segurança dessas dietas, além de indicar se elas podem melhorar a resposta ao tratamento e aumentar a sobrevivência.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/