A hiperinsulinemia (aumento do hormônio insulina) é um fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento de muitos tipos de câncer, bem como para o aumento da mortalidade por câncer. A proporção de cancros com risco atribuível ao elevado índice de massa corporal e diabetes é estimada em 31% dos cancros do endométrio, 29% dos cancros do esófago, 18-21% dos cancros renais, 16-18% dos cancros do fígado, 13% dos cânceres de pâncreas e 7% dos cânceres de mama.
A disfunção metabólica é um desafio significativo no tratamento do câncer, uma vez que pode não apenas limitar a eficácia terapêutica, mas também ser agravada pelo próprio tratamento, criando um ciclo paradoxal de distúrbios metabólicos e resistência ao tratamento. Esse ciclo dificulta o sucesso das terapias convencionais e pode levar à progressão da doença.
No entanto, estratégias dietéticas que modulam os níveis de insulina têm surgido como opções promissoras para ajudar no tratamento do câncer. Entre as mais estudadas estão a restrição calórica, dietas de baixo carboidrato, dietas cetogênicas e o jejum intermitente.
O Impacto das Dietas na Modulação da Insulina e Tratamento do Câncer
O câncer é caracterizado por um metabolismo energético alterado, que favorece a maior proliferação celular. As células cancerígenas, ao contrário das células normais, dependem da glicólise para produzir energia, mesmo na presença de oxigênio, um fenômeno conhecido como o efeito Warburg. Essa adaptação metabólica requer uma abundância de nutrientes, como açúcares e ácidos graxos, que podem ser adquiridos pela alimentação ou pelas reservas de energia no corpo, como o tecido adiposo.
Além disso, as células cancerígenas frequentemente apresentam alterações na via de sinalização da insulina, o que promove o crescimento celular, a sobrevivência e a proliferação de tumores. A hiperinsulinemia, com o aumento da insulina circulante, tem um efeito direto sobre a produção hormonal e pode aumentar o risco de cânceres hormonais, como o câncer de mama e endometrial. Estudos clínicos também sugerem que a obesidade e a resistência à insulina estão associadas a um aumento no risco e na mortalidade por diversos tipos de câncer.
Dietas Redutoras de Insulina como Terapia Adjunta
Dietas que visam reduzir os níveis de insulina têm sido propostas como tratamentos adjuvantes ao câncer. Estas dietas podem afetar o volume tumoral e a formação de metástases de três maneiras principais:
Redução das reservas de nutrientes: Diminuindo a disponibilidade de nutrientes que as células cancerígenas usam para crescer.
Alteração da sinalização da insulina: Modificando os fatores de sinalização que estimulam o crescimento tumoral.
Melhoria dos parâmetros metabólicos relacionados à obesidade: Reduzindo a adiposidade, dislipidemia e inflamação sistêmica.
Algumas dietas que têm sido estudadas incluem a restrição calórica (RC), a dieta cetogênica (KD), a dieta pobre em carboidratos (LCD) e o jejum intermitente (IF).
Restrição Calórica (RC): Consiste em uma ingestão calórica reduzida, mas com uma proporção equilibrada de macronutrientes. Embora tenha mostrado benefícios em modelos pré-clínicos de câncer, seu uso em pacientes com câncer metastático é limitado devido ao risco de perda excessiva de peso e caquexia.
Dieta Cetogênica (KD) e Dieta Pobre em Carboidratos (LCD): Ambas restringem a ingestão de carboidratos, com a dieta cetogênica sendo extremamente baixa em carboidratos (30-40g por dia) e a LCD com menos de 100g de carboidratos diários. Essas dietas têm mostrado melhorar a perda de peso, reduzir a adiposidade e melhorar a sensibilidade à insulina, com efeitos positivos também na pressão arterial.
Jejum Intermitente (IF): As estratégias de jejum intermitente incluem a Alimentação com Restrição de Tempo (TRF), que limita a ingestão de alimentos a intervalos específicos durante o dia, e a Dieta que Imita o Jejum (FMD), que ajusta tanto o tempo quanto a ingestão de macronutrientes para simular os efeitos do jejum, minimizando a fome.
Essas abordagens dietéticas têm mostrado resultados positivos em estudos pré-clínicos, ao reduzir a progressão do câncer e a formação de metástases. Elas funcionam, em parte, ao influenciar o metabolismo das células tumorais, limitando os recursos energéticos que essas células precisam para se proliferar e espalhar.
Resultados Preliminares e Desafios
Nos estudos pré-clínicos, essas dietas demonstraram algum sucesso na redução da carga de doença metastática e na melhora dos parâmetros metabólicos. No entanto, comparações diretas entre as estratégias revelaram resultados mistos. Nos estudos clínicos, a maioria das investigações focou em estratégias de restrição de carboidratos, dieta cetogênica e jejum intermitente. Alguns resultados sugeriram que a restrição de carboidratos e o jejum de curto intervalo (24-72 horas antes da quimioterapia) podem ser seguros, viáveis e promissores na melhoria de fatores metabólicos e na composição corporal. No entanto, esses estudos incluíram apenas pequenos grupos de pacientes (menos de 20), o que limita a generalização dos resultados.
Desafios no Uso de Dietas Redutoras de Insulina em Pacientes com Câncer Metastático
O uso dessas dietas em pacientes com câncer metastático apresenta desafios significativos. Entre eles estão a baixa tolerabilidade, a dificuldade de adesão a regimes restritivos, o risco de progressão da doença e a necessidade constante de ajustes nos tratamentos. Além disso, a preocupação com a perda de peso e caquexia (perda muscular e gordura excessiva) pode tornar essas intervenções mais difíceis de implementar. A complexidade do quadro clínico desses pacientes também dificulta a adesão a essas estratégias dietéticas.
Direções Futuras e Estudos em Andamento
Vários estudos estão atualmente sendo realizados para testar estratégias dietéticas de redução de insulina em pacientes com câncer metastático. A maioria desses estudos investiga diferentes graus de restrição de carboidratos, frequentemente combinados com terapias anticâncer padrão ou jejum de curto prazo. Os desfechos primários desses estudos incluem a taxa de resposta global e a sobrevida livre de progressão, enquanto a qualidade de vida é um desfecho secundário. Os resultados desses estudos, que envolverão um número maior de pacientes, podem fornecer mais informações sobre a viabilidade e segurança dessas dietas, além de indicar se elas podem melhorar a resposta ao tratamento e aumentar a sobrevivência.



