Epidrugs (Epifármacos)

O conceito de epigenética mudou desde que foi introduzido pela primeira vez na década de 1940 por Conrad Waddington para descrever “o ramo da biologia que estuda as interações causais entre genes e seus produtos que dão origem ao fenótipo”.

Hoje em dia, o significado de epigenética é aceito como o estudo de mudanças hereditárias no perfil de expressão genética que não implicam uma mudança na sequência de DNA, mas modificam a acessibilidade do código por meio da metilação do DNA e modificações de aminoácidos na cauda amino-terminal de histonas e RNAs não codificantes.

Foi proposto que essas mudanças poderiam ser classificadas em três tipos: epigenética direta, que ocorre na vida útil de uma pessoa; epigenética indireta, que ocorre dentro do útero devido a eventos durante a gestação; e epigenética indireta, que se refere às mudanças que afetaram os predecessores individuais e, de alguma forma, talvez por meio de mudanças nos gametas ou no ambiente intrauterino, são transmitidas através das gerações.

O imenso interesse no campo levou a muitos estudos mostrando a ligação entre mudanças epigenéticas e certas doenças, como diabetes, insuficiência cardíaca, câncer, doenças inflamatórias intestinais e doenças neurodegenerativas.

Certas enzimas foram descritas como tendo um papel fundamental nessas modificações epigenéticas: DNA metiltransferases (DNMTs), responsáveis ​​pela adição covalente de um grupo metil ao DNA, levando à repressão de certos genes; histona acetiltransferases (HATs), com a função de acetilação de proteínas histonas, permitindo que a estrutura da cromatina se abra e se torne mais ativa transcricionalmente, e histona desacetilases (HDACs), que regulam a desacetilação de histonas, levando à hipoacetilação em direção à heterocromatina e à supressão genética.

Assim, a busca por moléculas que pudessem atingir esses alvos começou, e o termo “epidrugs’’ foi cunhado para descrever compostos químicos que alteram a estrutura do DNA e da cromatina, promovendo a interrupção de modificações transcricionais e pós-transcricionais pela inibição de DNMTs e HDACs, principalmente. Em 2022, vários compostos foram aprovados pela Food and Drug Administration dos EUA para uso clínico, enquanto outros compostos são sondas químicas.

Exemplos de epidrugs representativos e candidatos a epidrugs incluem azacitidina (inibidor de DNMT1), 5-aza-2′desoxicitidina (inibidor de DNMTs e HDACs), procaína (inibidor de DNMTs), hidralazina (inibidor de DNMTs), vorinostat (inibidor de HDACs), romidepsina (inibidor de HDACs), panobinostat (inibidor de HDACs) e belinostat (inibidor de HDACs).

Outros Epifármacos Emergentes

  • Alvo em RNAs não codificantes (por exemplo, miRNAs e lncRNAs envolvidos na regulação epigenética).

  • Medicamentos que modulam outros complexos de remodelação da cromatina.

Nutrientes que Funcionam como Epifármacos

Certos nutrientes e compostos bioativos podem atuar como moduladores epigenéticos, influenciando diretamente ou indiretamente os processos epigenéticos. Exemplos incluem:

1. Folato (Vitamina B9)

  • Fonte: Vegetais de folhas verdes, legumes, cereais fortificados.

  • Função: Fornece grupos metil para reações de metilação no DNA.

2. Vitamina B12

  • Fonte: Carnes, ovos, laticínios.

  • Função: Cofator em reações de metilação do DNA.

3. Polifenóis

  • Exemplos: Resveratrol (encontrado no vinho tinto), catequinas (presentes no chá verde) e curcumina (da cúrcuma).

  • Função: Moduladores de acetilação e metilação de histonas.

4. Ácido Graxo Ômega-3

  • Fonte: Peixes gordurosos (salmão, sardinha), nozes, sementes de linhaça.

  • Função: Influencia a regulação epigenética de genes anti-inflamatórios.

5. Compostos Sulfurados

  • Exemplo: Sulforafano (presente em vegetais crucíferos como brócolis).

  • Função: Inibe HDACs, promovendo a expressão de genes supressores tumorais.

6. Colina

  • Fonte: Ovos, carne de frango, soja.

  • Função: Importante na produção de grupos metil para metilação do DNA.

7. Flavonoides

  • Exemplo: Genisteína (soja).

  • Função: Modula a metilação do DNA e a expressão de oncogenes.

8. Zinco

  • Fonte: Nozes, sementes, carnes.

  • Função: Cofator de enzimas epigenéticas.

Epifármacos e nutrientes epigenéticos representam uma fronteira na medicina personalizada, abordando doenças em seu núcleo regulatório e oferecendo esperança para condições resistentes aos tratamentos convencionais. Aprenda mais no curso de genômica nutricional.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutriepigenômica

A nutriepigenômica é a área científica que se concentra no estudo da interação entre nutrientes dos alimentos e o genoma por meio de mecanismos epigenéticos, modulando a superexpressão ou silenciamento de genes específicos e respostas metabólicas (Juárez-Mercado et al., 2024).

O câncer de mama é de longe a doença mais discutida na literatura com o maior número de alvos epigenéticos desregulados. Mas muitas enzimas podem ser reguladas por nutrientes ou compostos bioativos, afetando a prevalência de doenças crônicas. Compostos com grande número de alvos epigenéticos incluem: biotina, berberina, alfa-cetoglutarato, tricostatina, folato, ômega-3 e buteína.

A nutriepigenômica está ajudando a entender melhor como os hábitos alimentares podem ter um impacto duradouro na saúde e na susceptibilidade a doenças, não apenas da pessoa que os consome, mas também de seus descendentes. Esse campo oferece uma nova perspectiva sobre a prevenção e o tratamento de doenças, sugerindo que as intervenções dietéticas podem modificar a expressão dos genes e, consequentemente, melhorar a saúde a longo prazo.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Nutrição e displasia neuromuscular

A displasia neuromuscular (DNM) é um grupo de condições genéticas que afetam os músculos e o sistema nervoso. Ela pode causar fraqueza muscular progressiva, alterações nos reflexos e, em alguns casos, comprometimento de outras funções do corpo.

A adequada nutrição é fundamental para melhorar a qualidade de vida e controlar os sintomas da condição. Aqui estão alguns pontos importantes sobre nutrição e DNM:

1. Necessidades Energéticas e Nutricionais

Pessoas com displasia neuromuscular podem ter maior ou menor necessidade calórica, dependendo do grau de atividade muscular e da presença de atrofia muscular. A fraqueza muscular pode diminuir o gasto calórico, mas, ao mesmo tempo, o esforço para se mover e realizar atividades cotidianas pode aumentar o consumo de energia.

  • Hipocaloria ou Hipercaloria: Em alguns casos, a pessoa pode precisar de uma dieta hipocalórica (se houver perda de peso significativa) ou hipercalórica (se houver gasto energético elevado devido a movimentos involuntários, como espasmos musculares).

  • Macronutrientes: O equilíbrio de proteínas, carboidratos e gorduras é importante. A proteína é fundamental para a manutenção muscular, enquanto carboidratos e gorduras fornecem energia.

2. Suporte à Função Muscular e Prevenção de Deficiências

A deficiência de certos nutrientes pode agravar os sintomas da displasia neuromuscular. Alguns nutrientes são especialmente importantes:

  • Proteínas: Essenciais para o reparo muscular e para prevenir a perda de massa muscular. Fontes de alta qualidade incluem carnes magras, ovos, laticínios e legumes.

  • Ácidos graxos essenciais: Como o ômega-3, encontrado em peixes e óleos vegetais, podem ajudar a reduzir a inflamação muscular.

  • Vitaminas e Minerais:

    • Vitamina D: Importante para a saúde óssea e muscular. A deficiência pode contribuir para a fraqueza muscular.

    • Cálcio e magnésio: Cruciais para a função muscular.

    • Vitaminas do complexo B: Essenciais para o metabolismo energético e saúde nervosa.

3. Controle de Peso e Mobilidade

A manutenção de um peso saudável é importante para reduzir a sobrecarga das articulações e ajudar na mobilidade. O ganho de peso excessivo pode ser um problema devido à falta de atividade física, enquanto a perda de peso excessiva pode resultar em perda de massa muscular e fraqueza.

4. Hidratação

A hidratação é essencial para todas as funções corporais, incluindo a saúde muscular e nervosa. Pessoas com DNM podem ter dificuldades para beber líquidos de forma adequada, portanto, o monitoramento da ingestão de líquidos pode ser necessário.

5. Suporte Terapêutico e Dieta Personalizada

Como as necessidades nutricionais podem variar muito de acordo com o tipo de displasia neuromuscular e os sintomas específicos, é fundamental contar com uma abordagem personalizada, orientada por um nutricionista especializado, que pode ajustar a dieta de acordo com a evolução da condição.

  • Dietas enterais podem ser necessárias em casos de dificuldades significativas de deglutição, que podem surgir à medida que a doença progide.

6. Considerações Específicas

  • Função respiratória: Em algumas condições neuromusculares, a função respiratória pode ser afetada, e uma dieta rica em antioxidantes (como frutas e vegetais) pode ajudar a proteger os pulmões de danos.

  • Comorbidades associadas: As comorbidades, como problemas cardíacos ou metabólicos, podem exigir modificações adicionais na dieta.

O tratamento nutricional da displasia neuromuscular deve ser individualizado e considerar a condição clínica específica do paciente. A nutrição adequada pode ajudar a reduzir complicações e melhorar a qualidade de vida, além de proporcionar um suporte essencial à função muscular e nervosa.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/