Já tenho um filho com autismo, qual é o risco de um segundo filho também ter TEA?

Recebi esta pergunta de uma aluna. Ela está atendendo uma mulher que deseja engravidar. O marido tem diagnóstico de autismo e a primeira filha também. De acordo com a literatura, o risco de um pai no espectro autista ter um segundo filho diagnosticado com autismo depende de fatores genéticos e ambientais, mas é significativamente maior do que na população geral.

Contexto:

  1. Hereditariedade do autismo:

    • O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) tem uma forte base genética. Estudos sugerem que a herdabilidade do autismo é alta, variando de 50% a 90%.

    • Se um dos pais é está no espectro, há uma maior chance de que os filhos herdem predisposições genéticas que podem levar ao autismo.

  2. Risco aumentado em irmãos:

    • Quando já há um filho no espectro do autismo na família, o risco de um segundo filho ser diagnosticado com TEA também aumenta. Estudos mostram que o risco para o segundo filho varia entre 10% e 20% (ou mais), dependendo de fatores como a gravidade do autismo no primeiro filho e o histórico familiar. Aprenda mais sobre Genômica.

  3. Fatores adicionais:

    • O risco pode ser ainda maior se ambos os pais tiverem traços relacionados ao autismo ou diagnósticos confirmados.

    • Idade avançada dos pais, especialmente do pai, está associada a um maior risco.

    • Complicações na gravidez ou no parto, como prematuridade ou baixo peso ao nascer.

    • Exposição a toxinas ambientais, infecções ou medicamentos durante a gestação.

Fatores de Proteção

  1. Cuidados Pré-natais:

    • Dieta materna equilibrada e rica em ácido fólico durante a gravidez promove o desenvolvimento cerebral saudável. Marque aqui sua consulta de nutrição.

    • Consumo adequado de vitamina D, cálcio, ferro, ácidos graxos poliinsaturados, especialmente ômega-3.

  2. Tempo Ótimo entre Gestações:

    • Intervalos adequados entre as gestações podem reduzir riscos associados a condições perinatais.

  3. Cuidados pós-natais:

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Sobreposição fisiopatológica entre distúrbios gastrointestinais (GI), metabólicos e psiquiátricos

A sobreposição fisiopatológica entre distúrbios gastrointestinais (GI), metabólicos e psiquiátricos é uma área de crescente interesse tanto na pesquisa quanto na prática clínica. Essas condições estão interconectadas por interações complexas entre fatores biológicos, ambientais e psicossociais. Compreender essa sobreposição pode fornecer insights sobre o porquê de certas condições frequentemente ocorrerem juntas, como problemas gastrointestinais em pacientes com transtornos de humor, disfunção metabólica em indivíduos com doenças psiquiátricas, e vice-versa.

Mecanismos-chave de sobreposição:

  1. Eixo Intestino-Cérebro

    O eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação bidirecional entre o sistema gastrointestinal e o cérebro, desempenha um papel central na sobreposição entre distúrbios GI, metabólicos e psiquiátricos.

    A microbiota intestinal influencia a função cerebral através da produção de neurotransmissores (por exemplo, serotonina, dopamina, GABA), ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) e mediadores inflamatórios.

    Cerca de 90% da serotonina do corpo é produzida no trato gastrointestinal, e ela desempenha um papel crucial na regulação do humor. A interrupção da sinalização da serotonina no intestino tem sido associada tanto a transtornos psiquiátricos (como depressão) quanto a condições gastrointestinais (como síndrome do intestino irritável e outros distúrbios funcionais).

    A disbiose, ou desequilíbrio da microbiota intestinal, tem sido implicada em vários transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade e transtornos do espectro autista, bem como em condições metabólicas como obesidade, diabetes e síndrome metabólica.

  2. Inflamação:

    A inflamação crônica de baixo grau é uma característica comum em distúrbios GI, metabólicos e psiquiátricos. Condições como depressão, ansiedade e esquizofrenia estão associadas a níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias (como TNF-α, IL-6), que também desempenham um papel significativo em distúrbios metabólicos como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.

    Em doenças gastrointestinais como Doença Inflamatória Intestinal (DII), doença celíaca ou síndrome do intestino irritável, a ativação do sistema imunológico no intestino pode levar à inflamação sistêmica que afeta o cérebro, contribuindo para sintomas psiquiátricos como alterações de humor, ansiedade e disfunção cognitiva.

  3. Interações Hormonais e Endócrinas:

    O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula a resposta do corpo ao estresse, está implicado tanto em distúrbios psiquiátricos quanto metabólicos. O estresse crônico pode levar à desregulação do eixo HPA, resultando em níveis elevados de cortisol, que não afetam apenas o humor e o comportamento, mas também influenciam a função gastrointestinal (por exemplo, aumentando a permeabilidade intestinal ou alterando a motilidade intestinal) e o metabolismo (por exemplo, promovendo resistência à insulina e acúmulo de gordura abdominal).

    Leptina e grelina são dois hormônios,envolvidos na regulação do apetite e que também desempenham papéis na saúde psiquiátrica. A resistência à leptina, vista na obesidade, tem sido associada à depressão e disfunção cognitiva. A grelina, conhecida como o "hormônio da fome", tem sido associada à ansiedade, respostas ao estresse e ingestão alimentar. Alterações nesses hormônios podem, portanto, afetar tanto a saúde metabólica quanto psiquiátrica.

  4. Disfunção do Sistema Nervoso Autônomo (SNA):

    A desregulação do sistema nervoso autônomo (SNA), que controla funções involuntárias como digestão, frequência cardíaca e metabolismo, é comum tanto em distúrbios GI quanto psiquiátricos. Por exemplo, indivíduos com ansiedade ou depressão podem apresentar motilidade intestinal alterada, o que pode levar a sintomas como diarreia ou constipação (como visto na SII). Da mesma forma, disfunções metabólicas, como resistência à insulina, podem ser exacerbadas por desequilíbrios do SNA.

    O nervo vago, um componente chave do sistema nervoso parassimpático, desempenha um papel significativo na comunicação intestino-cérebro. O tônus vagal prejudicado tem sido associado tanto a distúrbios gastrointestinais (como SII) quanto a condições psiquiátricas como depressão, sugerindo uma via neurobiológica compartilhada.

  5. Desregulação Metabólica:

    A obesidade, uma característica central da síndrome metabólica, está fortemente associada a transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade e esquizofrenia. Esse vínculo pode ser mediado por inflamação crônica, alterações na sinalização hormonal (como leptina e cortisol) e mudanças nas vias de recompensa cerebral que regulam o comportamento alimentar e as respostas emocionais.

    A resistência à insulina, uma característica dos distúrbios metabólicos como diabetes tipo 2, tem sido associada a disfunção cognitiva e condições psiquiátricas, incluindo depressão e demência. Níveis elevados de insulina e sinalização insulínica prejudicada no cérebro podem afetar o humor, o comportamento e a função cognitiva.

  6. Síndrome do Intestino Permeável:

    A permeabilidade intestinal aumentada, ou "intestino permeável", é uma condição onde o revestimento do intestino se torna mais permeável, permitindo que toxinas e patógenos entrem na corrente sanguínea. Isso pode levar a inflamação sistêmica, que tem sido implicada tanto em doenças psiquiátricas quanto metabólicas. A inflamação crônica resultante do intestino permeável pode agravar transtornos psiquiátricos (como depressão, ansiedade) e distúrbios metabólicos (como obesidade, resistência à insulina).

Interações Específicas entre Doenças:

  • Depressão e Distúrbios Gastrointestinais:

    • A depressão é frequentemente associada a problemas gastrointestinais como SII, constipação e distensão abdominal. A sobreposição fisiopatológica acredita-se ser mediada pela sinalização intestino-cérebro, inflamação e alterações na função de neurotransmissores. A produção de serotonina no intestino, um neurotransmissor chave envolvido na regulação do humor, pode ser interrompida em indivíduos com doenças gastrointestinais, contribuindo para sintomas tanto gastrointestinais quanto psiquiátricos.

  • Síndrome Metabólica e Condições Psiquiátricas:

    • A síndrome metabólica, que inclui obesidade, hipertensão, dislipidemia e resistência à insulina, é comumente vista em indivíduos com depressão e outros distúrbios psiquiátricos. O vínculo entre essas condições pode ser influenciado por fatores como resposta ao estresse e inflamação crônica, que agravam a saúde metabólica, enquanto as disfunções metabólicas contribuem para alterações de humor, fadiga e declínio cognitivo.

  • Síndrome do Intestino Irritável (SII) e Ansiedade:

    • A SII é um distúrbio gastrointestinal caracterizado por dor abdominal, distensão e alterações nos hábitos intestinais, frequentemente acompanhada de ansiedade e depressão. Ambas as condições acreditam-se compartilhar mecanismos fisiopatológicos comuns, incluindo desregulação do eixo intestino-cérebro, inflamação e alterações na sinalização da serotonina. O estresse psicológico pode agravar os sintomas da SII, e o desconforto gastrointestinal pode piorar os sintomas psiquiátricos.

  • Esquizofrenia e Disfunção Metabólica:

    • A esquizofrenia está associada a altas taxas de distúrbios metabólicos, incluindo obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Essa comorbidade acredita-se ser influenciada por fatores como os efeitos colaterais dos medicamentos (por exemplo, antipsicóticos), fatores de estilo de vida, inflamação crônica e desregulação do eixo HPA.

A sobreposição fisiopatológica entre distúrbios gastrointestinais, metabólicos e psiquiátricos envolve interações complexas entre o intestino, o cérebro e os sistemas metabólicos do corpo. Disbiose, inflamação crônica, desequilíbrios hormonais, respostas ao estresse e disfunções neuroendócrinas desempenham papéis importantes nessa sobreposição. Uma abordagem abrangente de tratamento, que aborde tanto os aspectos mentais quanto físicos da saúde, pode oferecer estratégias mais eficazes para gerenciar essas condições interrelacionadas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Beta amiloide (βA): Estrutura, Biologia e Desenvolvimento Terapêutico

A beta-amiloide (βA) é uma proteína central no estudo de doenças neurodegenerativas, especialmente o Alzheimer. Este texto é baseado no artigo Amyloid beta: structure, biology and structure-based therapeutic development e explora a estrutura molecular do βA, seu papel biológico e como essas informações estão guiando o desenvolvimento de novas terapias baseadas em estrutura.

1. O que é a beta-amiloide (βA)?

A βA é um peptídeo formado a partir da clivagem da proteína precursora amiloide (APP). Sua agregação em placas no cérebro é uma característica marcante da doença de Alzheimer. A proteína existe em diferentes formas, variando em tamanho, sendo que os resíduos produzidos possuem 37 a 49 aminoácidos, sendo a βA42 a mais propensa à agregação.

A formação da beta-amiloide (Aβ) no cérebro depende de como a proteína precursora amiloide (APP) é processada. Esse processo ocorre por duas vias principais: a via amiloidogênica, que leva à produção do Aβ, e a via não amiloidogênica, que evita a formação dessa proteína.

A APP é uma proteína transmembranar expressa em várias células, especialmente no cérebro. Sua função normal inclui:

  • Regulação da plasticidade sináptica.

  • Participação no crescimento e reparo neuronal.

A clivagem da APP ocorre em diferentes locais da molécula, definindo qual via será ativada.

Quebra do APP (proteína percursora do amiloide) na via amiloidogênica e não amiloidogênica

2. A Via Não Amiloidogênica

Essa via é considerada a "rota saudável" de processamento da APP, pois não gera o Aβ. Os passos são:

  1. Ação da α-secretase
    A α-secretase cliva a APP em uma região diferente da β-secretase, liberando o fragmento sAPPα. Essa clivagem ocorre dentro da sequência do Aβ, impedindo sua formação.

  2. Ação da γ-secretase
    O fragmento transmembranar restante (CTF-α) é processado pela γ-secretase, gerando:

    • Peptídeos não tóxicos.

    • O fragmento intracelular AICD.

O produto final não é propenso à agregação, e sAPPα parece ter efeitos neuroprotetores, promovendo a sobrevivência neuronal e a plasticidade sináptica.

3. A Via Amiloidogênica

Essa via está associada à formação do peptídeo beta-amiloide e ocorre em duas etapas principais:

  1. Ação da β-secretase (BACE1)
    A β-secretase cliva a APP em uma região extracelular, liberando um fragmento chamado sAPPβ (soluble APP beta) e deixando um fragmento transmembranar, conhecido como CTF-β.

  2. Ação da γ-secretase
    O fragmento CTF-β é então clivado pela γ-secretase, que produz:

    • O peptídeo Aβ (incluindo as formas tóxicas βA40 e βA42).

    • Um fragmento intracelular chamado AICD (APP intracellular domain), que pode ter funções de sinalização.

Apesar de ser amplamente associada à neurotoxicidade, o βA também tem funções biológicas importantes:

  • Regulação de processos sinápticos.

  • Proteção contra infecções microbianas, atuando como parte do sistema imunológico inato.

No entanto, o desbalanço na produção e remoção do βA resulta em sua toxicidade. Os peptídeos βA tendem a se agregar, formando oligômeros solúveis tóxicos e, eventualmente, placas amiloides características da doença de Alzheimer.

A indústria farmacêutica tenta encontrar novos inibidores de agreção, moduladores da produção de βA, vacinas e anticorpos monoclonais visando remover depósitos de βA ou neutralizar formas tóxicas. Contudo, por enquanto, a medicação não tem mostrado-se eficaz na redução do avanço da doença. Por isso, outras estratégias são indicadas, incluindo a proposta pelo Dr. Dale Bredesen:

Aprenda mais na plataforma t21.video

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/