Eixo Intestino-Cérebro
O eixo intestino-cérebro, uma via de comunicação bidirecional entre o sistema gastrointestinal e o cérebro, desempenha um papel central na sobreposição entre distúrbios GI, metabólicos e psiquiátricos.
A microbiota intestinal influencia a função cerebral através da produção de neurotransmissores (por exemplo, serotonina, dopamina, GABA), ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) e mediadores inflamatórios.
Cerca de 90% da serotonina do corpo é produzida no trato gastrointestinal, e ela desempenha um papel crucial na regulação do humor. A interrupção da sinalização da serotonina no intestino tem sido associada tanto a transtornos psiquiátricos (como depressão) quanto a condições gastrointestinais (como síndrome do intestino irritável e outros distúrbios funcionais).
A disbiose, ou desequilíbrio da microbiota intestinal, tem sido implicada em vários transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade e transtornos do espectro autista, bem como em condições metabólicas como obesidade, diabetes e síndrome metabólica.
Inflamação:
A inflamação crônica de baixo grau é uma característica comum em distúrbios GI, metabólicos e psiquiátricos. Condições como depressão, ansiedade e esquizofrenia estão associadas a níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias (como TNF-α, IL-6), que também desempenham um papel significativo em distúrbios metabólicos como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Em doenças gastrointestinais como Doença Inflamatória Intestinal (DII), doença celíaca ou síndrome do intestino irritável, a ativação do sistema imunológico no intestino pode levar à inflamação sistêmica que afeta o cérebro, contribuindo para sintomas psiquiátricos como alterações de humor, ansiedade e disfunção cognitiva.
Interações Hormonais e Endócrinas:
O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), que regula a resposta do corpo ao estresse, está implicado tanto em distúrbios psiquiátricos quanto metabólicos. O estresse crônico pode levar à desregulação do eixo HPA, resultando em níveis elevados de cortisol, que não afetam apenas o humor e o comportamento, mas também influenciam a função gastrointestinal (por exemplo, aumentando a permeabilidade intestinal ou alterando a motilidade intestinal) e o metabolismo (por exemplo, promovendo resistência à insulina e acúmulo de gordura abdominal).
Leptina e grelina são dois hormônios,envolvidos na regulação do apetite e que também desempenham papéis na saúde psiquiátrica. A resistência à leptina, vista na obesidade, tem sido associada à depressão e disfunção cognitiva. A grelina, conhecida como o "hormônio da fome", tem sido associada à ansiedade, respostas ao estresse e ingestão alimentar. Alterações nesses hormônios podem, portanto, afetar tanto a saúde metabólica quanto psiquiátrica.
Disfunção do Sistema Nervoso Autônomo (SNA):
A desregulação do sistema nervoso autônomo (SNA), que controla funções involuntárias como digestão, frequência cardíaca e metabolismo, é comum tanto em distúrbios GI quanto psiquiátricos. Por exemplo, indivíduos com ansiedade ou depressão podem apresentar motilidade intestinal alterada, o que pode levar a sintomas como diarreia ou constipação (como visto na SII). Da mesma forma, disfunções metabólicas, como resistência à insulina, podem ser exacerbadas por desequilíbrios do SNA.
O nervo vago, um componente chave do sistema nervoso parassimpático, desempenha um papel significativo na comunicação intestino-cérebro. O tônus vagal prejudicado tem sido associado tanto a distúrbios gastrointestinais (como SII) quanto a condições psiquiátricas como depressão, sugerindo uma via neurobiológica compartilhada.
Desregulação Metabólica:
A obesidade, uma característica central da síndrome metabólica, está fortemente associada a transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade e esquizofrenia. Esse vínculo pode ser mediado por inflamação crônica, alterações na sinalização hormonal (como leptina e cortisol) e mudanças nas vias de recompensa cerebral que regulam o comportamento alimentar e as respostas emocionais.
A resistência à insulina, uma característica dos distúrbios metabólicos como diabetes tipo 2, tem sido associada a disfunção cognitiva e condições psiquiátricas, incluindo depressão e demência. Níveis elevados de insulina e sinalização insulínica prejudicada no cérebro podem afetar o humor, o comportamento e a função cognitiva.
Síndrome do Intestino Permeável:
A permeabilidade intestinal aumentada, ou "intestino permeável", é uma condição onde o revestimento do intestino se torna mais permeável, permitindo que toxinas e patógenos entrem na corrente sanguínea. Isso pode levar a inflamação sistêmica, que tem sido implicada tanto em doenças psiquiátricas quanto metabólicas. A inflamação crônica resultante do intestino permeável pode agravar transtornos psiquiátricos (como depressão, ansiedade) e distúrbios metabólicos (como obesidade, resistência à insulina).
A sobreposição fisiopatológica entre distúrbios gastrointestinais, metabólicos e psiquiátricos envolve interações complexas entre o intestino, o cérebro e os sistemas metabólicos do corpo. Disbiose, inflamação crônica, desequilíbrios hormonais, respostas ao estresse e disfunções neuroendócrinas desempenham papéis importantes nessa sobreposição. Uma abordagem abrangente de tratamento, que aborde tanto os aspectos mentais quanto físicos da saúde, pode oferecer estratégias mais eficazes para gerenciar essas condições interrelacionadas.