BRCA1 e BRCA2: Guardiões Genéticos e a Supressão de Tumores

Os genes BRCA1 e BRCA2 desempenham um papel fundamental na manutenção da estabilidade genômica, atuando como supressores de tumores. Eles codificam proteínas que participam ativamente na reparação do DNA, especialmente em lesões de fita dupla, que são altamente prejudiciais para a célula.

Como BRCA1 e BRCA2 funcionam na supressão de tumores?

  • Reparo do DNA: Quando ocorrem danos no DNA, as proteínas BRCA1 e BRCA2 se unem a outras proteínas para formar um complexo de reparo. Esse complexo reconhece a lesão, remove o DNA danificado e o substitui por uma nova sequência correta.

  • Regulação do ciclo celular: Além do reparo do DNA, essas proteínas também estão envolvidas na regulação do ciclo celular, garantindo que as células se dividam apenas quando o DNA estiver intacto.

Consequências das mutações em BRCA1 e BRCA2

Mutações nesses genes comprometem significativamente a capacidade de reparo do DNA, aumentando o risco de acumulação de mutações adicionais. Essas novas mutações podem levar ao desenvolvimento de células cancerígenas.

As consequências das mutações variam dependendo de diversos fatores, incluindo:

  • Posição da mutação: Mutações em diferentes regiões do gene podem ter efeitos distintos na função da proteína. Algumas mutações podem levar à perda completa da função da proteína, enquanto outras podem afetar apenas parcialmente sua atividade.

  • Tipo de mutação: Mutações podem ser de diferentes tipos, como deleções, inserções ou substituições de bases nitrogenadas. Cada tipo de mutação pode ter um impacto diferente na função da proteína.

  • Outros fatores genéticos e ambientais: A presença de outras mutações genéticas e a exposição a fatores ambientais, como radiação e substâncias químicas, podem influenciar o risco de desenvolvimento de câncer em indivíduos portadores de mutações em BRCA1 ou BRCA2.

Principais cânceres associados às mutações em BRCA1 e BRCA2

  • Câncer de mama: Mulheres com mutações nesses genes apresentam um risco significativamente aumentado de desenvolver câncer de mama em idade precoce. Nem todas as mulheres com estas mutações terão câncer. Isto vai depender de outras mutações que podem ou não estar presentes e que podem ter efeito compensatório, além de fatores de estilo de vida.

  • Câncer de ovário: O risco de câncer de ovário também é elevado em portadoras de mutações em BRCA1 e BRCA2.

  • Outros tipos de câncer: Mutações nesses genes também estão associadas a um maior risco de desenvolver outros tipos de câncer, como câncer de próstata, de pâncreas e de melanoma.

Diagnóstico e manejo

O diagnóstico de mutações em BRCA1 e BRCA2 é feito através de testes genéticos. O aconselhamento genético é fundamental para ajudar as pessoas a entender os resultados dos testes e as opções de manejo. Existem várias opções de manejo:

  • Vigilância: Indivíduos com mutações podem optar por um acompanhamento médico mais rigoroso, com exames de imagem periódicos para detectar precocemente o desenvolvimento de câncer.

  • Cirurgia profilática: A remoção cirúrgica das mamas (mastectomia) ou dos ovários (ooforectomia) pode ser considerada para reduzir o risco de câncer em mulheres com mutações em BRCA1 ou BRCA2.

  • Medicamentos: Alguns medicamentos podem ser utilizados para reduzir o risco de desenvolvimento de câncer em indivíduos com mutações nesses genes.

É importante ressaltar que o diagnóstico de uma mutação em BRCA1 ou BRCA2 não significa que a pessoa irá desenvolver câncer. O risco é aumentado, mas não é absoluto. O que pode ser feito?

Embora não haja uma maneira garantida de prevenir o câncer apenas através da dieta, certas escolhas alimentares e mudanças no estilo de vida podem ajudar a reduzir o risco e apoiar a saúde geral para aqueles com essas mutações. Aqui estão algumas estratégias dietéticas que podem ser benéficas:

Aumente o Consumo de Alimentos Ricos em Antioxidantes

  • Frutas e Vegetais: Foque em uma variedade de frutas e vegetais coloridos, pois são ricos em antioxidantes que podem ajudar a proteger as células contra estresse oxidativo e danos. Opções particularmente benéficas incluem:

    • Frutas vermelhas (mirtilos, morangos)

    • Verduras folhosas (espinafre, couve)

    • Vegetais crucíferos (brócolis, couve-de-bruxelas)

    • Cenouras e batatas-doces (ricas em beta-caroteno)

  • Grãos Integrais: Inclua grãos integrais como arroz integral, quinoa, pão integral e aveia em sua dieta. Eles são ricos em fibras, que podem ajudar na digestão e podem ajudar a reduzir o risco de câncer.

  • Incluir Gorduras Saudáveis, especialmente fontes de Ômega-3: peixes gordurosos (salmão, cavala), nozes e sementes de linhaça têm propriedades anti-inflamatórias que podem contribuir para a prevenção do câncer.

  • Trocar o óleo de soja por azeite de oliva e óleo de abacate: fontes de gorduras monoinsaturadas antiinflamatórias. Promovem a saúde do coração e o bem-estar geral.

  • Limitar Carnes Vermelhas e Processadas (como bacon, salsichas e frios), que estão associadas a um aumento do risco de certos cânceres. Se consumir carne vermelha, escolha cortes magros e limite o tamanho das porções, pois o consumo elevado está associado a um risco elevado de câncer.

  • Manter um Peso Saudável - Busque uma dieta balanceada combinada com atividade física regular para atingir e manter um peso saudável. A obesidade é um fator de risco conhecido para vários tipos de câncer.

  • Evitar Bebidas Açucaradas e Limitar a Ingestão de Açúcar: Reduza a ingestão de bebidas açucaradas e alimentos ricos em açúcares adicionados, que podem contribuir para o ganho de peso e impactar negativamente a saúde geral.

  • Limitar o Consumo de Álcool: Se optar por consumir álcool, faça-o com moderação. O consumo excessivo de álcool está associado a um aumento do risco de câncer de mama e outros cânceres. Atualmente não existe dose segura para álcool.

  • Incorporar Alimentos Fermentados: iogurte, kefir, chucrute e kimchi podem apoiar a saúde intestinal através de probióticos benéficos. Um microbioma intestinal saudável pode desempenhar um papel na função imunológica e na saúde geral.

  • Fazer exames: a depender dos seus resultados podem ser necessários suplementos como vitamina C, complexo B, que são importantes para a síntese e reparo do DNA, o que pode ser particularmente importante para indivíduos com mutações BRCA.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Câncer como processo microevolutivo

O câncer, em essência, pode ser compreendido como um processo de microevolução que ocorre dentro do corpo humano. Essa perspectiva, que tem ganhado cada vez mais força na comunidade científica, nos ajuda a entender a complexidade e a adaptabilidade das células cancerígenas.

Imagine uma população de células dentro de um tumor. Assim como as espécies na natureza, essas células estão em constante competição por recursos e espaço. Ao longo do tempo, mutações genéticas aleatórias surgem nessas células. Algumas dessas mutações podem conferir vantagens à célula, como a capacidade de se dividir mais rapidamente ou de resistir a determinados tratamentos.

A seleção natural, um dos pilares da evolução, entra em cena:

  • Sobrevivência dos mais aptos: As células com mutações benéficas têm mais chances de sobreviver e se multiplicar, transmitindo suas características genéticas para suas descendentes.

  • Adaptação: Com o passar do tempo, a população de células cancerígenas se adapta ao ambiente tumoral e ao organismo hospedeiro, tornando-se cada vez mais resistente e agressiva.

Esse processo evolutivo dentro do tumor leva a algumas características típicas do câncer:

  • Heterogeneidade: As células cancerígenas dentro de um mesmo tumor podem apresentar diferenças genéticas significativas, o que as torna mais difíceis de combater com um único tratamento.

  • Resistência a tratamentos: As células cancerígenas podem desenvolver mecanismos de resistência a quimioterápicos, radioterapia e outros tratamentos, tornando-os menos eficazes ao longo do tempo.

  • Metástase: A capacidade das células cancerígenas de se espalhar para outras partes do corpo é um exemplo clássico de adaptação evolutiva, permitindo que o tumor colonize novos territórios.

Principais mecanismos que levam ao desenvolvimento do câncer:

  • Mutações genéticas:

    • Oncogenes: Genes que, quando mutados, estimulam o crescimento celular excessivo.

    • Genes supressores de tumor: Genes que, quando inativados, perdem a capacidade de controlar o crescimento celular.

    • Genes de reparo do DNA: Quando esses genes estão danificados, as células não conseguem reparar o DNA com eficiência, acumulando mais mutações.

  • Instabilidade genômica: As células cancerígenas tendem a ter uma taxa de mutação mais alta, o que acelera a aquisição de novas alterações genéticas e a progressão do câncer.

  • Angiogênese: É o processo de formação de novos vasos sanguíneos para suprir o tumor com nutrientes e oxigênio, permitindo seu crescimento.

  • Metástase: As células cancerígenas podem se desprender do tumor primário, invadir tecidos adjacentes, entrar na corrente sanguínea ou linfática e se alojar em outros órgãos, formando tumores secundários.

  • Evitação da apoptose: As células cancerígenas desenvolvem mecanismos para evitar a apoptose, que é a morte celular programada.

  • Imortalidade replicativa: As células cancerígenas adquirem a capacidade de se dividir indefinidamente, ao contrário das células normais.

Fatores de risco para o desenvolvimento do câncer:

  • Idade: O risco de câncer aumenta com a idade.

  • Herditaridade: Algumas pessoas herdam mutações genéticas que aumentam o risco de desenvolver certos tipos de câncer.

  • Fatores ambientais: Exposição a substâncias carcinogênicas, como tabaco, radiação, poluentes e alguns produtos químicos.

  • Estilo de vida: Dieta rica em gordura e pobre em frutas e verduras, sedentarismo, consumo excessivo de álcool e tabagismo.

  • Infecções virais: Alguns vírus, como o HPV e o vírus da hepatite B, estão associados ao desenvolvimento de certos tipos de câncer.

É importante ressaltar que o desenvolvimento do câncer é um processo complexo e multifatorial, e a combinação desses fatores pode variar de pessoa para pessoa.

Prevenção:

Embora não seja possível evitar completamente o câncer, algumas medidas podem reduzir o risco:

  • Hábitos de vida saudáveis: Alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, não fumar e evitar o consumo excessivo de álcool.

  • Vacinação: Vacinas contra o HPV e a hepatite B podem prevenir alguns tipos de câncer.

  • Exames de rastreio: Realizar exames de rotina pode ajudar a detectar o câncer em estágios iniciais, quando o tratamento é mais eficaz.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Conexinas e câncer

Conexinas (tradução do inglês de Connexins) são proteínas integrais de membrana que formam junções comunicantes, canais que permitem a comunicação direta entre as células. Esses canais desempenham papéis cruciais em diversos processos celulares, incluindo sinalização célula-célula, acoplamento metabólico e desenvolvimento tecidual.

O Papel das Connexins no Câncer

O envolvimento das connexins no câncer é um tópico complexo e multifacetado. Embora inicialmente fossem consideradas principalmente supressoras de tumor, estudos recentes revelaram um papel mais nuançado.

Funções Supressoras de Tumor:

  • Regulação do ciclo celular: As connexins podem regular o ciclo celular, prevenindo a proliferação celular descontrolada.

  • Apoptose: Elas podem promover a apoptose, um processo de morte celular programada, essencial para prevenir o crescimento tumoral.

  • Comunicação intercelular por junções comunicantes (GJIC): Disrupções na GJIC podem levar ao crescimento e invasão celular anormais.

Funções Promotoras de Tumor:

  • Acoplamento metabólico: As connexins podem facilitar a transferência de nutrientes e metabólitos entre as células cancerígenas, promovendo sua sobrevivência e crescimento.

  • Resistência a medicamentos: Elas podem contribuir para a resistência a medicamentos em células cancerígenas, permitindo que compartilhem moléculas protetoras.

  • Microambiente tumoral: As connexins podem influenciar o microambiente tumoral, interagindo com células estromais e componentes da matriz extracelular.

Quando as células tumorais perdem as junções comunicantes, deixa de entender o que está acontecendo com o conjunto das células daquele tecido. Deixa de ser útil para a execução de sua função original (Aasen et al., 2019).

Connexins como Potenciais Alvos Terapêuticos

Dadas suas funções duais no câncer, as connexins estão emergindo como promissores alvos terapêuticos. Estratégias voltadas para modular a expressão ou função das connexins poderiam potencialmente ter efeitos benéficos no tratamento do câncer.

  • Inibidores de connexins: Compostos que inibem a função das connexins poderiam interromper o crescimento e a metástase tumoral.

  • Upregulação de connexins: Aumentar a expressão de connexins em células tumorais poderia restaurar a comunicação célula-célula normal e suprimir o crescimento tumoral.

Desafios e Direções Futuras

Apesar do potencial promissor das connexins como alvos terapêuticos, vários desafios permanecem:

  • Complexidade: O papel das connexins no câncer é altamente dependente do contexto e pode variar dependendo do tipo e estágio do tumor.

  • Redundância: Existem múltiplas isoformas de connexins, e suas funções podem se sobrepor, tornando difícil direcionar connexins específicas sem afetar processos celulares normais.

  • Resistência: As células cancerígenas podem desenvolver resistência a terapias direcionadas às connexins.


Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/