A beta-glucuronidase é uma enzima presente em diversos tecidos do corpo humano, com papel fundamental na quebra de moléculas complexas. Ela atua hidrolisando ligações glicosídicas, processo essencial para a degradação de substâncias como hormônios esteroides, bilirrubina e xenobióticos (substâncias estranhas ao organismo). Sua atividade excessiva pode ser um marcador de inflamação, função hepática anormal e até risco de algum tipo de câncer.
Causas do Excesso de Beta-Glucuronidase
As causas precisas do excesso de beta-glucuronidase ainda não são totalmente compreendidas e podem variar de caso para caso. Alguns fatores que podem estar relacionados incluem:
Distúrbios genéticos: Mutações genéticas podem levar a uma produção excessiva da enzima. Uma mutação genética associada a um excesso de beta-glucuronidase está relacionada à Doença de Sly (ou Mucopolissacaridose tipo VII). Esta condição é causada por mutações no gene GUSB (no cromossomo 7q11.21), que codifica a enzima beta-glucuronidase. Deficiências ou mau funcionamento da beta-glucuronidase levam ao acúmulo de glicosaminoglicanos nos tecidos, causando uma série de manifestações clínicas, como deformidades ósseas, problemas cardíacos, deficiência cognitiva e hepatoesplenomegalia.
Entretanto, o "excesso" de beta-glucuronidase isoladamente não é tipicamente causado por mutações no gene GUSB, mas pode ocorrer secundariamente a outros fatores, como inflamação ou câncer.
Inflamações: Processos inflamatórios podem estimular a produção da beta-glucuronidase. A enzima é produzida em maior quantidade por células inflamatórias e tumorais, especialmente em casos de câncer de mama e outros tumores sólidos, onde o excesso de atividade de beta-glucuronidase pode promover a progressão tumoral.
Doenças hepáticas: O fígado desempenha um papel crucial no metabolismo da bilirrubina, e doenças hepáticas podem afetar a atividade da enzima.
Tumores: A beta-glucuronidase é liberada em grandes quantidades por macrófagos e neutrófilos, no local do tumor. Esse aumento na atividade da enzima pode promover a progressão do câncer, degradando o ambiente extracelular e favorecendo a proliferação, invasão e metástase de células cancerígenas. Alguns tumores associados ao aumento da beta-glucuronidase incluem: câncer de mama, câncer de pulmão, câncer colorretal, câncer de próstata, melanona, câncer gástrico.
Exposição a toxinas: A exposição a determinadas substâncias tóxicas pode induzir a produção da enzima. Algumas toxinas associadas a aumento de beta-glucuronidase incluem bilirrubina (em condições hepáticas), aflatoxinas, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e derivados do benzeno, bisfenol A, fenóis e parabenos, antibióticos como sulfosalazinas, amônia, toxinas de bactérias como Escherichia coli e Clostridium, tabaco, dioxinas.
Consumo excessivo proteico ou má digestão de proteínas: favorecem o crescimento de E. coli e Clostridium, capazes de produzir beta-glucuronidase.
Consequências do Excesso de Beta-Glucuronidase
O excesso de beta-glucuronidase pode levar a diversas consequências, dependendo do tecido afetado e da causa subjacente. Algumas das possíveis consequências incluem:
Icterícia: Aumento da bilirrubina não conjugada no sangue, causando a coloração amarelada da pele e dos olhos.
Danos teciduais: A atividade excessiva da enzima pode levar à degradação de componentes celulares importantes, causando danos aos tecidos.
Inflamação crônica: A atividade da beta-glucuronidase pode contribuir para a perpetuação de processos inflamatórios.
Desenvolvimento de tumores: Em alguns casos, o excesso de beta-glucuronidase pode estar associado ao desenvolvimento de tumores.
Exame de beta-glucuronidase
O exame de beta-glucuronidase mede a atividade dessa enzima em diferentes fluidos corporais, como sangue, urina, fezes ou até tecidos, dependendo da suspeita clínica. A medição da beta-glucuronidase pode ser solicitada em vários contextos clínicos, incluindo doenças hepáticas, suspeita e monitoramento de terapias para determinados tipos de câncer, acompanhamento e tratamento da disbiose, doenças de armazenamento lisossômico, avaliação da síndrome estrogênica.
O metabolismo do estrogênio é mediado por beta-glucuronidase (GUS). Os glicuronídeos de estrogênio são biologicamente inativos, mas por excreção biliar, eles entram no trato gastrointestinal onde gmGUS libera estrogênios de conjugados. Os estrogênios reativados são reabsorvidos no corpo através da circulação entero-hepática (Sui, Wu, & Chen, 2021).
A coleta do exame depende da indicação clínica e pode envolver:
Amostra de sangue: Para medir a atividade sistêmica da enzima.
Amostra de fezes: Usada principalmente para avaliar a saúde intestinal e identificar disbiose.
Amostra de urina: Em casos específicos de doenças metabólicas.
Tratamento do Excesso de Beta-Glucuronidase
O tratamento do excesso de beta-glucuronidase depende da causa subjacente. Algumas das abordagens terapêuticas incluem:
Tratamento da causa primária: Se a causa for um distúrbio genético, não há cura, mas o tratamento pode ser direcionado para aliviar os sintomas, incluindo o uso da beta glucuronidase.
Medicamentos: O uso de medicamentos pode ajudar a inibir a atividade da enzima ou reduzir a produção. Podem incluir antiinflamatórios não esteroidais como ibuprofeno e aspirina e outras drogas para combate às doenças subjacentes.
Terapia gênica: Essa abordagem experimental visa corrigir a mutação genética responsável pela produção excessiva da enzima.
Transplante de órgão: Em casos de doenças hepáticas graves, o transplante de fígado pode ser necessário.
Suplementação: também dependerá da causa subjacente e pode incluir probióticos e fibras para tratamento da disbiose intestinal, enzimas digestivas para facilitar a digestão de proteínas, beta glucuronidase e magnésio D-glicinato para apoiar a destoxificação hepática, curcumina e resveratrol para redução da inflamação, ácido elágico, EGCG e quercetina para diminuição do estresse oxidativo, silimarina para proteção hepática.