Definição de anaplerose mitocondrial

A anaplerose mitocondrial refere-se ao processo pelo qual intermediários do ciclo do ácido cítrico (também conhecido como ciclo de Krebs ou ciclo do ácido tricarboxílico) são reabastecidos. Este ciclo é essencial para a produção de energia celular na forma de ATP e, durante sua operação, alguns de seus intermediários podem ser desviados para outras vias biossintéticas, resultando na necessidade de reabastecimento desses intermediários para manter a continuidade do ciclo.

Função do Ciclo do Ácido Cítrico

O ciclo do ácido cítrico é o nome dado à uma série de reações químicas usadas pelas células aeróbicas para gerar energia através da oxidação de acetil-CoA derivado de carboidratos, gorduras e proteínas.

Intermediários do ciclo são utilizados para a síntese de vários compostos celulares, como ATP, aminoácidos, nucleotídeos, e outros metabólitos essenciais.

Os principais intermediários do ciclo do ácido cítrico incluem citrato, isocitrato, α-cetoglutarato, succinil-CoA, succinato, fumarato, malato e oxaloacetato.

Fontes Anapleróticas

Para manter o ciclo funcionando eficientemente, é necessário reabastecer esses intermediários, o que é feito através de reações anapleróticas. Exemplos de reações anapleróticas incluem a carboxilação do piruvato a oxaloacetato pela enzima piruvato carboxilase, e a conversão de glutamina a α-cetoglutarato através de várias etapas.

A anaplerose é crucial em situações de alta demanda metabólica, como crescimento celular, diferenciação celular e resposta a lesões ou doenças. Deficiências em enzimas anapleróticas ou problemas na regulação dessas vias podem levar a disfunções metabólicas e energéticas, que são características de várias doenças metabólicas e neurodegenerativas.

A anaplerose é regulada por uma série de fatores, incluindo a disponibilidade de substratos, necessidades energéticas da célula e sinais hormonais. Estes processos são fundamentais para a manutenção da função celular, permitindo que o ciclo do ácido cítrico continue a operar de maneira eficiente e forneça a energia necessária para a célula, além de fornecer precursores para outras vias biossintéticas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Disfunção mitocondrial e problemas gastrointestinais no autismo

O estresse oxidativo é comum no TEA e pode ser causado pela disfunção mitocondrial. Mais radicais livres circulantes associam-se a aumento de carbonilação, peroxidação lipídica, aumento da inflamação, oxidação de proteínas e de DNA. Estas questões também estão ligadas a alterações nas junções estreitas de intestino, sintomas gastrointestinais, danos à barreira hematoencefálica, neuroinflamação e mudanças comportamentais.

O círculo superior esquerdo fornece um resumo das anormalidades mitocondriais bioquímicas identificadas em crianças com TEA. Outras caixas resumem biomarcadores, anormalidades genéticas, sintomas clínicos e tratamentos estudados para disfunção mitocondrial associada ao TEA (Frye, 2020).

Evidências emergentes identificaram discretamente disfunções mitocondriais como denominadores etiológicos comuns em doenças gastrointestinais. Porém, é importante perceber que as disfunções mitocondriais não são apenas consequências de doenças. Em vez disso, as mitocôndrias danificadas agravam gravemente a patogênese, qualificando-se assim como fatores perpetráveis ​​dignos de direcionamento profilático e terapêutico.

O estresse oxidativo e nitrosativo devido a estímulos endógenos e exógenos desencadeia lesão mitocondrial causando a produção de padrões moleculares associados ao dano mitocondrial (mtDAMPs), que, em um loop feed-forward, infligem danos inflamatórios no tecido. A inflamação gastroduodenal e as lesões ulcerativas aumentam em função do estresse, hábitos alimentares restritivos, tabagismo, alcoolismo, uso de medicamentos anti-inflamatórios não esteróides, viroses, disbiose e a própria disfunção mitocondrial etc.

A dinâmica estrutural mitocondrial e a mitofagia são parâmetros cruciais de controle de qualidade que determinam a extensão da mitopatologia e os resultados da doença. Curiosamente, além dos fatores endógenos, as mitocôndrias também fazem crosstalk e, por sua vez, são afetadas negativamente por patobiontes intestinais colonizados durante a disbiose luminal.

Um dos fatores que levam à problemas mitocondriais no autismo é a deficiência de carnitina (Kepka et al., 2021), que pode ser causada por deleção de determinados genes. A deficiência de L-carnitina associa-se a sintomas, como:

  • Baixo tônus muscular

  • Fraqueza

  • Cansaço

  • Irritabilidade

  • Atraso no desenvolvimento motor

  • Baixo consumo de alimentos

  • Dificuldade respiratória

  • Perda urinária

  • Baixa produção de energia

  • Regressão

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Esofagite eosinofílica no autismo

Esofagite eosinofílica é mais comum no TEA. O diagnóstico pode estar camuflado e presente mesmo com IgE negativo. Os sintomas podem ficar muito camuflados.Esofagite eosinofílica é uma doença crônica mediada pelo sistema imunitário do esôfago resultando em inflamação predominante de eosinófilos no esôfago; pode causar sintomas semelhantes a refluxo, disfagia, dor, dificuldade de deglutição e impactação alimentar.

A esofagite eosinofílica está bastante associada às alergias mistas. O diagnóstico é feito por endoscopia com biópsia, um exame invasivo mas que vale a pena se a seletividade alimentar é severa, com choro ou piora mesmo com a terapia alimentar. Alergias são cinco vezes mais frequentes em indivíduos no espectro autista do que em controles. Estima-se que até 52% apresentem sintomas e sinais de alergias, o que contrasta com 10% em relação à população controle.

A associação com os processos alérgicos, alimentares e respiratórios como rinite alérgica e asma tem sido reconhecida. Os infiltrados inflamatórios nas mucosas intestinais e no tecido cerebral podem estar presentes, células mononucleares periféricas produzem menos anticorpos IgA, IgG e IgM, é menor o número de macrófagos e células CD20 + B. Testes cutâneos positivos com alergenos, presença dos marcadores celulares IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, IL-12, IL-13, TNF-beta,TNF-alfa e BSA (brain specific autoantibody) são achados em indivíduos no espectro e alérgicos. Pais de crianças com autismo também parece ter mais alergias do que aqueles de crianças sem autismo.

Pacientes no espectro autista com alergia apresentam mais autoanticorpos anti-MBP (myelin basic protein) e antiMAG (myelin associated glycoprotein), do que os sem alergias. Peptídeos microbianos podem reagir com tecidos cerebrais. Vários sensibilizantes alimentares podem ser prejudiciais para autistas, como gliadina, proteínas do leite de vaca e da soja, aumentando a permeabilidade da barreira intestinal e hematoencefálica, o que facilita o processo alérgico (absorção de grandes moléculas), e mudanças de comportamento no autismo.

Alérgenos podem ser responsáveis pela produção de anticorpos contra a proteína do citoesqueleto neuronal, dos neurofilamentos e da proteína básica da mielina. Estes anticorpos interferem na função neuromuscular agravando alterações sensório-motoras.

Nutrição e TEA - https://andreiatorres.com/cursos-online/tea

Referências: Cardoso, & da Rocha, 2020 - DOI - 10.5935/2236-5117.2021v58a14

Xu et al., 2018 - doi: 10.1001/jamanetworkopen.2018.0279.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/