Deficiência de magnésio e câncer

Existe uma ligação entre a ingestão de magnésio e o desenvolvimento de tipos específicos de câncer. A relação entre carências nutricionais e câncer é complexa. Em estudos com animais, observou-se que o magnésio tem tanto efeitos positivos quanto negativos no crescimento e desenvolvimento de tumores.

Magnésio e redução do risco de câncer

O Mg desempenha um papel vital no funcionamento normal do sistema imunológico. A inflamação geral e crônica desempenha um papel significativo no crescimento e propagação do cancro. Assim, mediadores inflamatórios podem estimular a invasão de células cancerígenas no meio durante os estágios iniciais da doença.

A ausência de magnésio no corpo pode desencadear a ativação do fator de necrose tumoral (TNF), interleucina-1 (IL-1) e IL-6, o que pode aumentar ainda mais a disfunção imune e a probabilidade de disseminação de células cancerígenas.

Alguns estudos demonstraram que baixos níveis de magnésio podem aumentar o risco de tipos específicos de câncer, como colorretal, pancreático e de mama. Portanto, é vital manter níveis adequados de Mg no corpo. Com uma suplementação eficaz de magnésio, a formação e a recorrência do carcinoma colorretal podem ser evitadas.

Outros estudos descobriram que um aumento na incidência de carcinoma hepatocelular pode ser atribuído principalmente à presença de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Pacientes com DHGNA e níveis séricos mais elevados de magnésio têm um risco significativamente menor de desenvolver câncer.

Pesquisas também mostram que o aumento da ingestão de magnésio está associado a uma menor incidência de câncer primário de fígado. Além disso, o desenvolvimento de cancro primário do pulmão está significativamente relacionado com a hipomagnesemia, cujo contexto pode ser confirmado pela redução da capacidade de reparo do DNA.

A interação do magnésio com a vitamina C também é interessante. A vitamina C, também conhecida como ácido L-ascórbico (AA), possui propriedades antioxidantes e pró-oxidantes. O seu efeito nas células cancerígenas baseia-se num resultado hormonal, o que significa que é estimulado em doses baixas, mas inibido em doses elevadas.

Portanto, o AA só é eficaz em grandes quantidades devido às suas propriedades pró-oxidantes contra as células cancerígenas. O magnésio também pode aumentar os efeitos anticancerígenos do AA em ambientes clínicos. Além disso, reduz significativamente a velocidade de migração de células cancerígenas com potencial metastático variável.

Mas, o paciente precisa manter acompanhamento nutricional e oncológico. Isto porque apesar de o magnésio impedir o crescimento do tumor na sua localização original, estudos mostram que pode facilitar o estabelecimento do tumor em locais metastáticos, pelo menos em camundongos. Ainda há muito para entendermos e pesquisarmos sobre o tema. Possuo uma playlist sobre magnésio com mais de 20 vídeos. Acompanhe:

Pethő, Á.G.; Fülöp, T.; Orosz, P.; Tapolyai, M. Magnesium Is a Vital Ion in the Body—It Is Time to Consider Its Supplementation on a Routine Basis. Clin. Pract. 2024, 14, 521-535. https://doi.org/10.3390/clinpract14020040

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Todo mundo precisa suplementar magnésio?

O corpo humano contém 25 g (1000 mmol) de magnésio, 98% do qual está distribuído em tecidos moles (38%) e ossos (60%). O sangue contém apenas 1a 2% do total de magnésio do corpo. Este magnésio no sangue (ou plasma) é biologicamente ativo, devido à sua ionização.

Átomo de magnésio (à esquerda) e magnésio ionizado (à direita), com dois elétrons a menos.

Por que temos tanto magnésio no corpo?

O magnésio é crucial para manter a fisiologia e o metabolismo das células em padrões ótimos. Atua como cofator para mais de 300 enzimas, regulando os canais iônicos e a geração de energia. Desempenha um papel vital em vários aspectos da função vascular, incluindo o tônus dos vasos. Sua deficiência aumento as chances de desenvolvimento de aterosclerose, formação de coágulos sanguíneos, calcificação dos vasos.

Além disso, o magnésio participa de processos biológicos, como transdução de sinal, fosforilação oxidativa, glicólise e produção de proteínas e DNA. Os íons de magnésio (Mg2+) têm uma boa afinidade com os ligantes contendo bifosfonato e oxigênio com natureza de ligação reversível.

O íon Mg também tem um grande papel em diversos processos biológicos, como a regulação enzimática em diversas reações bioquímicas, incluindo a síntese de proteínas, funções musculares e nervosas, regulação da pressão arterial, fosforilação oxidativa e até mesmo na síntese de DNA e RNA.

CAUSAS DA DEFICIÊNCIA DE MAGNÉSIO

A deficiência de Mg é mais frequentemente causada por ingestão insuficiente deste mineral ou pelo aumento da excreção. Pode-se desenvolver muito frequentemente como efeito colateral do uso de medicamentos.

Pelo menos 30% da população adulta não consome a necessidade diária de magnésio através da dieta. A ingestão insuficiente de magnésio aumenta a probabilidade de mortalidade e o desenvolvimento de vários problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes, acidente vascular cerebral, câncer e fraturas ósseas.

Estudos demonstraram que baixos níveis de magnésio em pacientes idosos podem ter impactos negativos na saúde óssea, na sensibilidade à insulina, na glicosilação e na função cardíaca. Também pode ter um efeito prejudicial na função cognitiva e no humor. Assim, ações para prevenir a hipomagnesemia são cruciais. Eu tenho uma playlist com mais de 20 vídeos sobre o magnésio em meu canal no YouTube:

A prevenção da deficiência é mais importante e mais eficaz em termos de custos do que o tratamento de doenças estabelecidas. Em geral, recomenda-se entre 5 e 7 mg/Kg/dia de magnésio. De acordo com as necessidades dietéticas, recomenda-se que, para adultos, a ingestão média diária de 500 mg de magnésio (total, dieta + suplementação).

Esta recomendação considera as necessidades nutricionais específicas necessárias para uma saúde e bem-estar ideais. A adesão a esta recomendação garantirá que o corpo receba níveis adequados de magnésio

POSSO ME INTOXICAR COM MAGNÉSIO?

O excesso de magnésio não é uma anormalidade eletrolítica comum. O maior fator de risco contribuinte é a redução da função dos rins, que é observada em aproximadamente 10% dos pacientes hospitalizados.

Os sintomas de níveis elevados de magnésio no sangue incluem fraqueza, náusea, tontura e confusão, que normalmente ocorrem em níveis inferiores a 7,0 mg/dL. À medida que os níveis de magnésio aumentam (7–12 mg/dL), podem aparecer sintomas neurológicos graves, incluindo diminuição dos reflexos, agravamento da confusão, sonolência, paralisia da bexiga, rubor, dor de cabeça e prisão de ventre. Às vezes, também pode ocorrer visão turva.

Nos casos em que os níveis de magnésio excedem 12,0 mg/dL, o indivíduo pode apresentar sintomas ainda mais preocupantes, como paralisia muscular, íleo paralítico, diminuição da frequência respiratória, pressão arterial baixa e alterações nas leituras do eletrocardiograma (ECG). Se os níveis de magnésio excederem 15,0 mg/dL, pode resultar em coma e parada cardíaca imediata. Por isso, pacientes renais precisam ter os exames monitorados.

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Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Canabinóides no tratamento da dor

A dor é considerada um instinto humano primata e pode ser definida como uma sensação angustiante, bem como uma experiência emocional que está ligada a danos reais ou potenciais nos tecidos, com o único propósito de notificar o mecanismo de defesa do corpo para reagir a um estímulo em para evitar maiores danos aos tecidos.

A sensação de dor está associada à ativação dos receptores nas fibras aferentes primárias, que incluem a fibra C não mielinizada e a fibra Aσ mielinizada. Os receptores para dor (nociceptores) permanecem silenciosos quando está tudo bem e são ativados quando há potencial de estímulo nocivo. A percepção de uma série de eventos sensoriais é necessária para que o cérebro detecte a dor e produza uma resposta à ameaça (como tirar a mão do fogo ou procurar um médico).

Geralmente existem três estágios principais na percepção da dor. O primeiro estágio é a sensibilidade à dor, seguido pelo segundo estágio onde os sinais são transmitidos da periferia para o corno dorsal, que está localizado na medula espinhal através do sistema nervoso periférico (SNP).

A terceira etapa é a transmissão dos sinais para o cérebro superior através do sistema nervoso central (SNC). Normalmente, existem duas rotas para a transmissão de sinais: vias ascendentes e descendentes. A via que sobe, transportando informações sensoriais do corpo através da medula espinhal em direção ao cérebro, é definida como via ascendente, enquanto os nervos que descem do cérebro para os órgãos reflexos através da medula espinhal são conhecidos como via descendente.

O mecanismo básico da dor passa por três eventos – transdução, transmissão e modulação quando há presença de estímulos nocivos. Por exemplo, a transdução ocorre ao longo da via nociceptiva seguindo a seguinte ordem: (1) os eventos de estímulo são convertidos em eventos químicos teciduais; (2) os eventos químicos do tecido e da fenda sináptica são então transformados em eventos elétricos nos neurônios; e (3) eventos elétricos nos neurônios são transduzidos como eventos químicos nas sinapses.

Após a conclusão da transdução, o mecanismo seguinte seria a transmissão de eventos elétricos ao longo das vias neuronais, enquanto os neurotransmissores na fenda sináptica transmitem informações de um terminal pós-sináptico de uma célula para um terminal pré-sináptico de outra.

Enquanto isso, o evento de modulação ocorre em todos os níveis das vias nociceptivas através do neurônio aferente primário, corno dorsal e centro cerebral superior por regulação positiva ou negativa. Tudo isso leva a um resultado final, e o caminho da dor foi iniciado e concluído, permitindo-nos sentir a sensação dolorosa desencadeada pelo estímulo.

Canabinóides no tratamento da dor

Os canabinóides são classes de neurotransmissores que ligam-se a receptores de dor no cérebro. O canabinóide mais comum é o tetrahidrocanabinol (THC), um dos principais componentes psicoativos isolados da Cannabis sativa.

Os canabinóides podem se ligar aos receptores canabinóides tipo 1 acoplados à proteína Gi (CB1), que são altamente expressos no pré e pós-sináptico no cérebro e na medula espinhal, bem como aos receptores G2 (CB2) localizados predominantemente no sistema imunológico. A ativação de CB1 e CB2 inibe a formação de AMPc intracelular, levando assim a uma tremenda redução do efeito excitatório dentro dos neurônios.

O receptor canabinóide 1 (CB1) é o principal alvo do Δ9-tetrahidrocanabinol (THC), o químico psicoativo da Cannabis sativa com uma ampla gama de aplicações terapêuticas e uma longa história de uso recreativo. O CB1 é ativado por endocanabinóides e é um alvo terapêutico promissor para o controle da dor, inflamação, obesidade e distúrbios de abuso de substâncias.

Já a ativação do receptor CB2 pode prevenir a desgranulação dos mastócitos e a liberação de mediadores pró-inflamatórios, reduzindo a dor.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/