Todo mundo precisa suplementar magnésio?

O corpo humano contém 25 g (1000 mmol) de magnésio, 98% do qual está distribuído em tecidos moles (38%) e ossos (60%). O sangue contém apenas 1a 2% do total de magnésio do corpo. Este magnésio no sangue (ou plasma) é biologicamente ativo, devido à sua ionização.

Átomo de magnésio (à esquerda) e magnésio ionizado (à direita), com dois elétrons a menos.

Por que temos tanto magnésio no corpo?

O magnésio é crucial para manter a fisiologia e o metabolismo das células em padrões ótimos. Atua como cofator para mais de 300 enzimas, regulando os canais iônicos e a geração de energia. Desempenha um papel vital em vários aspectos da função vascular, incluindo o tônus dos vasos. Sua deficiência aumento as chances de desenvolvimento de aterosclerose, formação de coágulos sanguíneos, calcificação dos vasos.

Além disso, o magnésio participa de processos biológicos, como transdução de sinal, fosforilação oxidativa, glicólise e produção de proteínas e DNA. Os íons de magnésio (Mg2+) têm uma boa afinidade com os ligantes contendo bifosfonato e oxigênio com natureza de ligação reversível.

O íon Mg também tem um grande papel em diversos processos biológicos, como a regulação enzimática em diversas reações bioquímicas, incluindo a síntese de proteínas, funções musculares e nervosas, regulação da pressão arterial, fosforilação oxidativa e até mesmo na síntese de DNA e RNA.

CAUSAS DA DEFICIÊNCIA DE MAGNÉSIO

A deficiência de Mg é mais frequentemente causada por ingestão insuficiente deste mineral ou pelo aumento da excreção. Pode-se desenvolver muito frequentemente como efeito colateral do uso de medicamentos.

Pelo menos 30% da população adulta não consome a necessidade diária de magnésio através da dieta. A ingestão insuficiente de magnésio aumenta a probabilidade de mortalidade e o desenvolvimento de vários problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes, acidente vascular cerebral, câncer e fraturas ósseas.

Estudos demonstraram que baixos níveis de magnésio em pacientes idosos podem ter impactos negativos na saúde óssea, na sensibilidade à insulina, na glicosilação e na função cardíaca. Também pode ter um efeito prejudicial na função cognitiva e no humor. Assim, ações para prevenir a hipomagnesemia são cruciais. Eu tenho uma playlist com mais de 20 vídeos sobre o magnésio em meu canal no YouTube:

A prevenção da deficiência é mais importante e mais eficaz em termos de custos do que o tratamento de doenças estabelecidas. Em geral, recomenda-se entre 5 e 7 mg/Kg/dia de magnésio. De acordo com as necessidades dietéticas, recomenda-se que, para adultos, a ingestão média diária de 500 mg de magnésio (total, dieta + suplementação).

Esta recomendação considera as necessidades nutricionais específicas necessárias para uma saúde e bem-estar ideais. A adesão a esta recomendação garantirá que o corpo receba níveis adequados de magnésio

POSSO ME INTOXICAR COM MAGNÉSIO?

O excesso de magnésio não é uma anormalidade eletrolítica comum. O maior fator de risco contribuinte é a redução da função dos rins, que é observada em aproximadamente 10% dos pacientes hospitalizados.

Os sintomas de níveis elevados de magnésio no sangue incluem fraqueza, náusea, tontura e confusão, que normalmente ocorrem em níveis inferiores a 7,0 mg/dL. À medida que os níveis de magnésio aumentam (7–12 mg/dL), podem aparecer sintomas neurológicos graves, incluindo diminuição dos reflexos, agravamento da confusão, sonolência, paralisia da bexiga, rubor, dor de cabeça e prisão de ventre. Às vezes, também pode ocorrer visão turva.

Nos casos em que os níveis de magnésio excedem 12,0 mg/dL, o indivíduo pode apresentar sintomas ainda mais preocupantes, como paralisia muscular, íleo paralítico, diminuição da frequência respiratória, pressão arterial baixa e alterações nas leituras do eletrocardiograma (ECG). Se os níveis de magnésio excederem 15,0 mg/dL, pode resultar em coma e parada cardíaca imediata. Por isso, pacientes renais precisam ter os exames monitorados.

Precisa de ajuda? Marque aqui sua consulta de nutrição.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Canabinóides no tratamento da dor

A dor é considerada um instinto humano primata e pode ser definida como uma sensação angustiante, bem como uma experiência emocional que está ligada a danos reais ou potenciais nos tecidos, com o único propósito de notificar o mecanismo de defesa do corpo para reagir a um estímulo em para evitar maiores danos aos tecidos.

A sensação de dor está associada à ativação dos receptores nas fibras aferentes primárias, que incluem a fibra C não mielinizada e a fibra Aσ mielinizada. Os receptores para dor (nociceptores) permanecem silenciosos quando está tudo bem e são ativados quando há potencial de estímulo nocivo. A percepção de uma série de eventos sensoriais é necessária para que o cérebro detecte a dor e produza uma resposta à ameaça (como tirar a mão do fogo ou procurar um médico).

Geralmente existem três estágios principais na percepção da dor. O primeiro estágio é a sensibilidade à dor, seguido pelo segundo estágio onde os sinais são transmitidos da periferia para o corno dorsal, que está localizado na medula espinhal através do sistema nervoso periférico (SNP).

A terceira etapa é a transmissão dos sinais para o cérebro superior através do sistema nervoso central (SNC). Normalmente, existem duas rotas para a transmissão de sinais: vias ascendentes e descendentes. A via que sobe, transportando informações sensoriais do corpo através da medula espinhal em direção ao cérebro, é definida como via ascendente, enquanto os nervos que descem do cérebro para os órgãos reflexos através da medula espinhal são conhecidos como via descendente.

O mecanismo básico da dor passa por três eventos – transdução, transmissão e modulação quando há presença de estímulos nocivos. Por exemplo, a transdução ocorre ao longo da via nociceptiva seguindo a seguinte ordem: (1) os eventos de estímulo são convertidos em eventos químicos teciduais; (2) os eventos químicos do tecido e da fenda sináptica são então transformados em eventos elétricos nos neurônios; e (3) eventos elétricos nos neurônios são transduzidos como eventos químicos nas sinapses.

Após a conclusão da transdução, o mecanismo seguinte seria a transmissão de eventos elétricos ao longo das vias neuronais, enquanto os neurotransmissores na fenda sináptica transmitem informações de um terminal pós-sináptico de uma célula para um terminal pré-sináptico de outra.

Enquanto isso, o evento de modulação ocorre em todos os níveis das vias nociceptivas através do neurônio aferente primário, corno dorsal e centro cerebral superior por regulação positiva ou negativa. Tudo isso leva a um resultado final, e o caminho da dor foi iniciado e concluído, permitindo-nos sentir a sensação dolorosa desencadeada pelo estímulo.

Canabinóides no tratamento da dor

Os canabinóides são classes de neurotransmissores que ligam-se a receptores de dor no cérebro. O canabinóide mais comum é o tetrahidrocanabinol (THC), um dos principais componentes psicoativos isolados da Cannabis sativa.

Os canabinóides podem se ligar aos receptores canabinóides tipo 1 acoplados à proteína Gi (CB1), que são altamente expressos no pré e pós-sináptico no cérebro e na medula espinhal, bem como aos receptores G2 (CB2) localizados predominantemente no sistema imunológico. A ativação de CB1 e CB2 inibe a formação de AMPc intracelular, levando assim a uma tremenda redução do efeito excitatório dentro dos neurônios.

O receptor canabinóide 1 (CB1) é o principal alvo do Δ9-tetrahidrocanabinol (THC), o químico psicoativo da Cannabis sativa com uma ampla gama de aplicações terapêuticas e uma longa história de uso recreativo. O CB1 é ativado por endocanabinóides e é um alvo terapêutico promissor para o controle da dor, inflamação, obesidade e distúrbios de abuso de substâncias.

Já a ativação do receptor CB2 pode prevenir a desgranulação dos mastócitos e a liberação de mediadores pró-inflamatórios, reduzindo a dor.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/

Dieta da primavera de acordo com o Ayurveda

O final do inverno e o início da primavera são uma estação aquosa de Kapha com temperaturas mais altas que duram de fevereiro a meados de maio. Lá fora, a neve derrete, deixando os rios cheios e lamacentos. As temperaturas quentes estimulam os brotos tenros e a seiva doce a correr na vasculatura dos bordos. Nossa paisagem interna reflete a da mãe natureza.

Assim que as temperaturas começam a subir, o padrão do corpo muda, de construção para liberação. Literalmente, o corpo queima mais gordura (da mesma forma que um cachorro troca de pelos). O final do inverno e o início da primavera são, portanto, estações ideais para iniciar uma nova dieta e perder peso. O jejum da primavera ajuda a limpar o sangue após um longo inverno de alimentos gordurosos e pesados.

A primavera é uma época de limpeza e renovação. A gordura Kapha junto com as toxinas derretem dos tecidos e vão para o sangue, tornando-o mais doce. Plasma sanguíneo e toxinas geram uma inundação de muco. Por isso, a primavera também é conhecida como a estação das alergias.

À medida que a camada de gordura do inverno começa a derreter no sangue, ela enriquece o sangue, aumentando o dosha Kapha. O sangue muito rico e espesso pode obstruir a circulação e o fígado. Muito parecido com um ganso recheado, seu fígado recheado começa a ficar tão gorduroso quanto foie gras.

O “calor” do fígado é responsável por movimentar esse sangue lamacento e metabolizá-lo. No entanto, o tempo frio mantém o coração lento e os vasos contraídos. Clinicamente, os sintomas do Kapha da primavera são rigidez muscular, acúmulo de placa arterial, muco e febre do feno, um tipo de rinite alérgica gerada pela reação ao pólen de certas plantas.

Podemos combater o excesso de Kapha com a dieta certa. A cúrcuma revigora o sangue, restaura a circulação, limpa o fígado e reacende o metabolismo (via rasa dhatu ou linfa). O final do inverno é a estação dos alimentos ácidos. A primavera é a estação dos alimentos amargos.

Tanto o sabor azedo quanto o amargo são colagogos. Um colagogo é qualquer substância que estimula o fígado e a vesícula biliar a liberar bile. Exemplos incluem dente-de-leão e limões. Como a bile é uma substância gordurosa, os colagogos auxiliam no processo de limpeza porque drenam o excesso de gordura do fígado e do sangue e as depositam, na forma de bile, no trato digestivo.

Nestas estações indicam-se produtos úteis para perder peso e controlar os desejos por comidas:

  • Gymnema Sylvestre – reduz o desejo por açúcar, regula os níveis de açúcar no sangue

  • Trikatu – Melhora o metabolismo e reduz Kapha

  • Triphala - Ação de limpeza intestinal e apoio à perda de peso

  • Guggulu isolado ou em associação com outras ervas – Auxilia no metabolismo da gordura e na desintoxicação

  • Neem – Reduz o desejo por doces

Ervas comuns no Brasil e Portugal:

  • Gengibre – Melhora a digestão, circulação e metabolismo

  • Cardamomo – Refresca o paladar e reduz os desejos por doces

Recomendações gerais para a primavera

  • Adira à uma dieta pacificadora de Kapha, favorecendo os vegetais amargos (rúcula, alho-poró, couve, bertalha) e ervas, como dente-de-leão, que auxiliarão no metabolismo da gordura.

  • Se apenas puder comprar um suplemento e estiver saudável, adote a Triphala, que ajudará a manter os intestinos mais limpos.

  • Evite alimentos pesados, oleosos, doces e salgados, como carne vermelha e laticínios.

Aprenda mais sobre Ayurveda aqui.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/