Nutrientes para o cérebro

A fosfatidilcolina é um fosfolípido essencial para várias funções biológicas, especialmente no contexto da saúde celular e função cerebral. Ela é um dos principais componentes das membranas celulares, especialmente nas células do cérebro, e tem diversas funções importantes no corpo humano.

Fosfatidilcolina é especialmente importante para o cérebro, onde está envolvida na função neuronal. Ela contém colina, que é um precursor da acetilcolina, um neurotransmissor essencial para a memória, atenção e aprendizado.

Fosfatidilserina, colina e citicolina podem influenciar a síntese de fosfatidilcolina, mas fazem isso de maneiras diferentes. Vamos explorar como esses compostos atuam, qual é mais eficiente e por que não é comum suplementar diretamente fosfatidilcolina ou colina.

Fosfatidilserina

A fosfatidilserina é um fosfolípido que desempenha um papel crucial nas membranas celulares, especialmente nas membranas neuronais. Ela é envolvida em várias funções celulares, como a transmissão sináptica, a membrana neuronal e a neuroproteção.

Embora a fosfatidilserina não seja um precursor direto da fosfatidilcolina, ela pode indiretamente influenciar a síntese de fosfatidilcolina. Isso ocorre porque a fosfatidilserina compartilha algumas vias de síntese de fosfolipídios com a fosfatidilcolina. No entanto, a fosfatidilserina em si não é uma fonte direta de colina (o principal componente da fosfatidilcolina).

Citicolina (CDP-Colina)

A citicolina é um precursor direto da fosfatidilcolina. Ela contém colina, que, por meio de várias vias metabólicas, pode ser incorporada à fosfatidilcolina nas membranas celulares, especialmente nas células do cérebro.

Citicolina é convertida em CDP-colina (citidina difosfato-colina), que é um intermediário na síntese de fosfatidilcolina. Assim, a citicolina favorece diretamente a produção de fosfatidilcolina, especialmente nas membranas celulares do cérebro, onde é mais necessária para a função neuronal.

A citicolina é um precursor da fosfatidilcolina, mas também fornece colina ao corpo, que pode ser utilizada para a sintese de acetilcolina. A citicolina é convertida em CDP-colina (citidina difosfato-colina) e colina, com a colina então sendo usada para a produção de acetilcolina. É um pouco mais cara em comparação com a colina simples.

Fosfatidilcolina

A fosfatidilcolina é uma molécula grande e complexa, o que pode dificultar sua absorção direta no trato digestivo. Quando ingerida, a fosfatidilcolina precisa ser quebrada em componentes menores, como colina e ácidos graxos, antes de ser utilizada pelo corpo. Isso torna a suplementação direta de fosfatidilcolina menos eficiente em comparação com colina ou citicolina, que são formas mais biodisponíveis para o cérebro.

Suplementar fosfatidilcolina diretamente não garante que ela será direcionada para as membranas neurais, onde ela é mais necessária para melhorar a função cognitiva e a memória.

Suplementação de Colina

A colina é um precursor da fosfatidilcolina, mas seu metabolismo no corpo é complexo. Embora a colina seja convertida em fosfatidilcolina no fígado e nas células nervosas, a quantidade de colina necessária para formar fosfatidilcolina pode ser dificultosa de atingir com a suplementação isolada de colina.

A colina é um precursor direto da acetilcolina. No corpo, a colina é convertida em acetilcolina pela enzima colina acetiltransferase (ChAT). Ela é essencial para a síntese de acetilcolina, um neurotransmissor envolvido em memória, aprendizado e função muscular.

A desvantagem é que o excesso de colina pode ser metabolizado em trimetilamina ou utilizado de outras formas, o que pode limitar a eficiência se já houver colina suficiente no corpo.

Citicolina é a melhor opção se você deseja aumentar os níveis de acetilcolina e ao mesmo tempo melhorar a saúde das membranas neuronais. A citicolina é eficaz, pois fornece colina de forma eficiente e tem benefícios neuroprotetores adicionais, além de melhorar a membrana celular e as funções cognitivas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Nutrição no autismo

A relação entre nutrição e transtorno do espectro autista (TEA) é complexa e ainda está sob investigação, mas pesquisas sugerem que a dieta materna durante a gravidez pode influenciar o risco de desenvolver TEA nos filhos. Certos nutrientes na dieta materna foram associados a um risco aumentado ou diminuído de TEA [1].

A deficiência materna de vitamina D durante a gravidez está associada a um risco aumentado de autismo nos filhos. Estudos indicam que baixos níveis de vitamina D podem perturbar a microbiota intestinal, o que pode contribuir para comportamentos relacionados ao autismo em modelos animais [2].

Um estudo descobriu que, embora os níveis maternos de vitamina D não estivessem geralmente associados a pontuações de autismo, níveis baixos (<49 nmol/L) estavam associados a pontuações mais altas em certas características relacionadas ao autismo [3].

Em relalão à vitamina B9, embora a administração pré-natal de folato não reduza o risco de autismo, ela impacta significativamente a expressão de genes relacionados ao autismo em estudos com animais [4].

Um estudo realizado na Palestina indicou deficiências graves de ferro, zinco e vitaminas (incluindo B12 e ácido fólico) entre mulheres grávidas, o que pode contribuir para distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo autismo [5].

Crianças com TEA frequentemente apresentam seletividade alimentar e dietas limitadas, o que pode levar a deficiências ou excessos nutricionais. Esse comportamento alimentar atípico está relacionado ao agravamento dos sintomas do TEA [6].

Alguns estudos indicam que intervenções nutricionais específicas, como aumentar a ingestão de certos nutrientes, podem ajudar a reduzir os sintomas e as comorbidades associadas ao autismo. No entanto, a eficácia dessas intervenções varia e requer investigação adicional para entendermos melhor os subgrupos mais vulneráveis [7].

Várias intervenções dietéticas, incluindo dietas sem glúten/caseína e cetogênicas, mostraram-se promissoras na melhoria dos aspectos clínicos do autismo, embora as evidências permaneçam mistas e mais ensaios clínicos randomizados sejam necessários para confirmar esses efeitos [8].

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Referências

1) S Peretti et al. Diet: the keystone of autism spectrum disorder?. Nutritional neuroscience (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29669486/

2) J Cui et al. Induction of autism-related behavior in male mice by early-life vitamin D deficiency: association with disruption of the gut microbial composition and homeostasis. Food & function (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/38533674/

3) AJ Whitehouse et al. Maternal vitamin D levels and the autism phenotype among offspring. Journal of autism and developmental disorders (2012). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23070790/

4) M Gogou et al. Nutritional Supplements During Gestation and Autism Spectrum Disorder: What Do We Really Know and How Far Have We Gone?. Journal of the American College of Nutrition (2019). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31318329/

5) M Altamimi et al. Could Autism Be Associated With Nutritional Status in the Palestinian population? The Outcomes of the Palestinian Micronutrient Survey. Nutrition and metabolic insights (2018). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29773950/

6) NH Almohmadi et al. Brain-gut-brain axis, nutrition, and autism spectrum disorders: a review. Translational pediatrics (2024). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39399706/

7) T ElObeid et al. Importance of Nutrition Intervention in Autistic Patients. Advances in neurobiology (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32006372/

8) M Gogou et al. [Is there place for nutrition in the treatment of children with autism spectrum disorder?]. Psychiatrike = Psychiatriki (2020). https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32544077/

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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Cascata da secretina

A secretina é um hormônio digestivo produzido pelo intestino delgado (duodeno) quando o quimo ácido (conteúdo do estômago) entra no intestino. Ela desempenha um papel essencial na regulação da digestão.

Estimula o pâncreas → Faz com que o pâncreas libere bicarbonato para neutralizar o ácido do estômago.
Regula a produção de bile → Aumenta a liberação de bile pelo fígado para ajudar na digestão de gorduras.
Inibe a produção de ácido no estômago → Quando há ácido suficiente, a secretina reduz a liberação de mais ácido gástrico.

Relação Entre Betaína HCl e Secretina

A betaína HCl é usada como um suplemento para aumentar a acidez estomacal (HCl) em pessoas com hipocloridria (baixa produção de ácido gástrico). Isso afeta a cascata da secretina da seguinte forma:

A betaína HCl acidifica o estômago, simulando a ação natural do ácido gástrico. O conteúdo ácido passa para o duodeno, ativando a liberação de secretina.

A secretina estimula o pâncreas a liberar bicarbonato, equilibrando o pH no intestino. Melhora a digestão de gorduras e proteínas, pois ativa enzimas pancreáticas como lipase e tripsina.

Se o estômago não tiver ácido suficiente, a secretina não será ativada corretamente, resultando em:

  • Má digestão de proteínas e gorduras

  • Disbiose intestinal

  • Deficiência na absorção de nutrientes (ferro, zinco, B12)

  • Sintomas como inchaço, refluxo, sensação de comida "parada"

Por isso, suplementar betaína HCl pode ser útil para quem tem digestão lenta e quer otimizar essa cascata digestiva. Aprenda mais no meu guia de enzimas digestivas.

Dra. Andreia Torres é Nutricionista, especialista em nutrição clínica, esportiva e funcional, com mestrado em nutrição humana, doutorado em psicologia clínica e cultura/ensino na saúde, pós-doutorado em saúde coletiva. Também possui formações no Brasil e nos Estados Unidos em práticas integrativas em saúde. Para contratar envie uma mensagem: http://andreiatorres.com/consultoria/
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