O artigo "Urea Cycle Disorders: A Life-Threatening Yet Treatable Cause of Metabolic Encephalopathy in Adults" trata dos distúrbios do ciclo da ureia. Estas condições metabólicas raras são potencialmente fatais e identificadas frequentemente na infância. São caracterizadas pela incapacidade do organismo de eliminar adequadamente a amônia (NH₃). Isso ocorre devido à deficiência de enzimas (1 a 5) envolvidas no ciclo da ureia, levando ao acúmulo de amônio no sangue, o que pode causar encefalopatia metabólica.
Blair, Cremer, & Tchan, 2014
Ciclo da ureia
O ciclo da ureia é essencial para converter a amônia (NH₃), um subproduto do metabolismo de proteínas, em ureia, que é excretada na urina. Nos distúrbios do ciclo da ureia, há falhas em uma das enzimas que facilitam esse processo, resultando em um acúmulo de amônia. A encefalopatia metabólica é um dos principais sintomas desses distúrbios, afetando principalmente o sistema nervoso central e causando sintomas como confusão, convulsões, coma e até morte.
Embora os distúrbios do ciclo da ureia sejam frequentemente diagnosticados na infância, também podem se manifestar em adultos. Esses casos são mais difíceis de diagnosticar devido à falta de familiaridade com a condição em pacientes adultos, além da possibilidade de sintomas serem confundidos com outras doenças neurológicas.
O tratamento adequado envolve a redução dos níveis de amônia por meio de diálise ou medicamentos que promovem a eliminação do excesso deste ânion. A intervenção precoce é crucial, e, se tratada de forma eficaz, a condição pode ser gerida, permitindo que os pacientes tenham uma boa qualidade de vida.
A Figura acima ilustra o ciclo da ureia, mostrando o caminho metabólico pelo qual a amônia é convertido em ureia. A figura destaca as enzimas-chave envolvidas nesse ciclo, como:
Carbamilfosfato sintetase 1 (CPS1): enzima que catalisa o primeiro passo do ciclo, convertendo amônio e bicarbonato em carbamilfosfato.
Ornitina transcarbamilase (OTC): enzima responsável pela formação de citrulina a partir de carbamilfosfato. O aumento de citrulina pode ser minimizado com a suplementação de vitamina B1.
Argininosuccinato sintase (ASS1), Argininosuccinato liase (ASL), e Argenina: outras enzimas que, em sequência, transformam citrulina em arginina, culminando na formação de ureia que é excretada na urina.
Em adultos as versões das doenças são mais leves do que aquelas diagnosticadas na infância. Sintomas comuns incluem névoa cerebral (confusão mental), fadiga, dificuldade de concentração, sonolência excessiva, alterações de humor, ansiedade e depressão, dores de cabeça frequentes, crises convulsivos (casos graves), náuseas e vômitos, perda de apetite, dores abdominais difusas, intolerância a proteínas (sensação de mal estar após consumo de carnes), fraqueza muscular.
O ciclo da ureia pode ser avaliado por meio de exames metabolômicos de urina. Exemplo de resultado de paciente:
No resultado acima a homocitrulina está elevada, podendo indicar um possível defeito no metabolismo da ornitina ou um comprometimento na conversão de citrulina em argininosuccinato. Pode estar relacionada a alterações na argininosuccinato sintetase ou outros distúrbios do ciclo da ureia. Possíveis tratamentos:
Dieta com restrição de proteínas para reduzir a produção de amônia.
Suplementação de arginina ou citrulina (dependendo do distúrbio específico) para otimizar a eliminação de amônia. Esta é a estratégia mais importante.
Medicações como benzoato de sódio ou fenilbutirato, que ajudam na eliminação de nitrogênio.
Monitoramento dos níveis de amônia no sangue para prevenir complicações neurológicas.
Investigação genética para avaliar possíveis mutações nos genes associados ao ciclo da ureia.
Se houver sintomas clínicos associados ou níveis elevados de amônia, é essencial acompanhamento com médico geneticista, nutricionista especialista em genômica ou especialista em metabolismo para um manejo adequado.