A inflamação é uma resposta natural do corpo a lesões ou infecções. Ela é essencial para a defesa e reparo dos tecidos, mas, quando descontrolada, pode se tornar prejudicial, contribuindo para o desenvolvimento de doenças crônicas. O processo de resolução da inflamação é ativo e regulado, permitindo que o corpo encerre a inflamação de forma eficiente e restaure a homeostase tecidual.
O que é Inflamação?
O termo inflamação, ou flogose, deriva do latim inflamare e do grego flogós, que significa “pegar fogo”. Trata-se de uma resposta do sistema imunológico em tecidos vascularizados, caracterizada pela saída de células e moléculas do sangue para o tecido afetado.
Essa resposta é desencadeada por um agente inflamatório (flogógeno), que estimula a liberação de mediadores pró-inflamatórios. Esses mediadores aumentam a permeabilidade dos vasos sanguíneos e favorecem a exsudação, permitindo que células de defesa, como os neutrófilos, cheguem ao local da lesão ou infecção.
O organismo busca sempre um equilíbrio entre mediadores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios. Quando esse equilíbrio é perdido, podem surgir processos patológicos.
Sinais Clássicos da Inflamação
Os sinais cardinais da inflamação foram inicialmente descritos por Celsus e incluem:
- Calor 
- Rubor (vermelhidão) 
- Tumor (inchaço/edema) 
- Dor 
Posteriormente, Virchow acrescentou a perda ou redução da função da área afetada.
A Cascata Inflamatória
Quando ocorre uma lesão celular, fosfolipídios da membrana são expostos, iniciando a cascata inflamatória, também conhecida como cascata do ácido araquidônico.
Essa cascata leva à produção de mediadores inflamatórios, como leucotrienos e prostaglandinas, por meio de enzimas como:
- Lipoxigenases 
- Ciclooxigenases (COX-1 e COX-2) 
Em especial, a COX-2 é responsável por estimular e perpetuar a inflamação.
Mediadores Lipídicos: Os Arquitetos da Resolução
Durante a inflamação, o corpo produz mediadores lipídicos pró-resolução, derivados de ácidos graxos essenciais como o ácido araquidônico e o ácido eicosapentaenoico.
Entre eles, destacam-se:
- Lipoxinas 
- Resolvinas 
- Maresinas 
- Protectinas 
Esses mediadores atuam de forma coordenada para resolver a inflamação sem comprometer a resposta imunológica necessária, promovendo a restauração do equilíbrio nos tecidos.
Papel das lipoxinas, resolvinas e maresinas
- Lipoxinas: Inibem a migração excessiva de neutrófilos, promovem sua apoptose (morte celular programada) e estimulam os macrófagos a fagocitar células mortas, facilitando a limpeza do local inflamatório. 
- Resolvinas: Derivadas do ácido eicosapentaenoico (EPA), as resolvinas promovem a resolução da inflamação e a regeneração tecidual. Por exemplo, a RvD2 induz a resolução ativa da inflamação e a regeneração tecidual em lesões periapicais, enquanto a RvD1 controla o microambiente inflamatório em defeitos em calvárias, promovendo a cicatrização óssea e a angiogênese. 
- Maresinas: Derivadas do ácido docosahexaenoico (DHA), as maresinas, como a MaR1, induzem a proliferação e migração de células-tronco mesenquimais, osteogênese e angiogênese em defeitos em calvárias, promovendo a regeneração óssea em defeitos craniofaciais e alveolares. 
A falha na resolução da inflamação pode levar a condições como artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal e aterosclerose. Compreender e manipular esses mediadores oferece novas perspectivas terapêuticas para tratar essas doenças.
❌ E quando a inflamação não se resolve?
A inflamação falha em se resolver quando o equilíbrio entre sinais pró-inflamatórios e pró-resolução é perturbado. Algumas causas comuns incluem:
- Produção insuficiente de mediadores pró-resolução (SPMs) - O corpo não consegue gerar lipoxinas, resolvinas, maresinas ou protectinas suficientes. - Ex.: em doenças crônicas como artrite reumatoide ou doença inflamatória intestinal, há deficiência de SPMs locais. 
 
- Excesso de sinais pró-inflamatórios - Citocinas como TNF-α, IL-1β e IL-6 continuam ativas por muito tempo, mantendo neutrófilos e outros leucócitos no tecido. 
- Falha na fagocitose de células mortas - Macrófagos não conseguem “limpar” neutrófilos apoptóticos ou restos celulares. Isso prolonga o estado inflamatório e pode induzir dano tecidual. 
- Alterações metabólicas e oxidativas - Estresse oxidativo, obesidade ou diabetes podem interferir na produção e ação dos SPMs. 
- Infecção persistente ou estímulo contínuo - Exposição constante a patógenos ou irritantes mantém a inflamação ativa. 
O que é inflamação crônica?
Inflamação crônica ocorre quando o processo inflamatório não se resolve adequadamente. Em vez de desaparecer, ele persiste semanas, meses ou até anos, causando danos progressivos aos tecidos.
Já vimos causas comuns: infecções persistentes, exposição contínua a toxinas, obesidade, estresse oxidativo, doenças autoimunes ou falha na produção de mediadores pró-resolução (SPMs).
Consequências da inflamação crônica
- Dano tecidual progressivo - Neutrófilos e macrófagos liberam enzimas e radicais livres. Isso destrói estruturas celulares e matrizes extracelulares. - Ex.: na artrite reumatoide, destruição da cartilagem e do osso. 
- Fibrose e cicatrização desordenada - O tecido tenta se regenerar, mas com excesso de colágeno e matriz extracelular. Resulta em tecido cicatricial rígido que compromete função. - Ex.: fibrose hepática em hepatite crônica. 
- Alterações funcionais dos órgãos - Inflamação crônica altera a função normal. - Ex.: em doença inflamatória intestinal, absorção intestinal prejudicada; em aterosclerose, vasos rígidos e estreitos. 
- Desregulação imunológica - Ativação contínua do sistema imune pode levar a autoimunidade. - Ex.: lúpus eritematoso sistêmico ou esclerose múltipla. 
- Risco aumentado de câncer - Inflamação persistente gera mutações e alterações no microambiente tecidual. - Ex.: gastrite crônica por H. pylori aumenta risco de câncer gástrico. 
- Metabolismo alterado - Inflamação crônica está associada a resistência à insulina, obesidade e doenças cardiovasculares. - Ex.: citocinas inflamatórias interferem na sinalização da insulina e no metabolismo lipídico. 
Como reduzir a inflamação crônica
Pode existir necessidade de uso de medicação antiinflamatória que bloqueia citocinas ou enzimas que perpetuam a inflamação (como COX-2 em certos contextos) cria um ambiente favorável à ação dos SPMs.
Uso de precursores de mediadores lipídicos importantes:
- Ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA) são substratos para a síntese de resolvinas e maresinas. 
- Dietas ricas em ômega-3 aumentam a produção natural desses mediadores. 

 
             
            