Acrilamida (ACR) é um composto tóxico que se forma em alimentos ricos em amido quando submetidos a altas temperaturas (como frituras e assados, incluindo pão torrado e batata frita). Diversos estudos têm mostrado sua ligação com neurotoxicidade, mas os mecanismos ainda não estão totalmente esclarecidos. A figura abaixo ilustra de forma integrada como o intestino, sistema imune e cérebro se comunicam e contribuem para o efeito da acrilamida sobre o sistema nervoso central (SNC).
1. O Papel do Microbioma Intestinal
Tudo começa no intestino, onde a acrilamida pode alterar a composição da microbiota intestinal. Bactérias benéficas, como Lactobacillus reuteri, Lactobacillus rhamnosus e Bacteroides fragilis, podem ser impactadas, modificando a produção de metabólitos essenciais (como BDNF e GABA) que regulam o funcionamento neuronal.
Além disso, a exposição à acrilamida pode levar à liberação de metabólitos tóxicos como LPS (lipopolissacarídeos) e Aβ (beta-amiloide), conhecidos por estarem associados a processos inflamatórios e neurodegenerativos.
2. Inflamação e Sistema Imunológico
Esses metabólitos ativam células imunes e induzem a liberação de citocinas pró-inflamatórias. Essa resposta inflamatória pode atravessar a barreira intestinal e chegar ao eixo intestino-cérebro, estimulando a ativação do HPA axis (eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal), que regula estresse e resposta inflamatória sistêmica.
3. O Impacto no Cérebro
No SNC, a acrilamida provoca uma cascata de eventos:
Ativação de micróglias → células de defesa do cérebro que, quando ativadas em excesso, liberam moléculas inflamatórias.
Estresse oxidativo (ROS) → a mitocôndria é afetada, aumentando a produção de espécies reativas de oxigênio que danificam células nervosas.
Danos neuronais diretos → tanto via inflamação quanto via toxicidade direta, levando à degeneração neuronal.
O resultado é a neurotoxicidade, que pode se manifestar em déficits cognitivos, motores e aumento do risco de doenças neurodegenerativas.
4. Vias Alternativas e Perspectivas Futuras
A figura também sugere que existem outros mecanismos ainda não identificados (marcados como “?”). Isso abre caminho para pesquisas futuras, especialmente na identificação de novos metabólitos derivados da interação entre acrilamida e microbiota intestinal.